O País – A verdade como notícia

A 25 de Outubro de 2023, Ungulani ba ka Khosa lançou, na Cidade de Maputo, a sua mais recente obra literária: “Assim não, senhor Presidente” (Alcance Editores). Um ano e três meses depois, a Kapulana, editora que no Brasil tem divulgado literatura moçambicana, prepara-se para lançar a edição brasileira do livro. 

O lançamento de “Assim não, senhor Presidente” está previsto para  este primeiro semestre e, conforme a publicação da Editora Kapulana, o livro é composto por dois tipos de textos, designadamente, memórias e narrativas actuais. Trata-se de oito textos de memórias, as “Memórias Possíveis”, e nove textos de narrativas do presente, que aparecem intercalados”.

“A combinação dessas lembranças, narrativas da actualidade, diálogos, citações e documentos resulta em um conjunto ficcional, com olhar crítico, composto por momentos desde antes da luta de libertação de Moçambique até os dias de hoje, em que transitam personagens das várias camadas da sociedade moçambicana como guerrilheiros da luta armada de libertação, políticos, professores, jornalistas, médicos, estudantes, empresários. Vivem principalmente nos bairros de Maputo e cidades próximas, sendo que algumas das lembranças nos levam também para outras províncias de Moçambique e outros países”, pode-se ler na página online da Editora Kapulana.

A capa do novo livro de Ungulani ba ka Khosa é de Mariana Fujisawa. Além de “Assim não, senhor Presidente”, Ungulani ba ka Khosa já publicou, pela Editora Kapulana, os seguintes livros: “O rei mocho”, “Orgia dos loucos” e “Gungunhana”, livro que inclui duas obras literárias: “Ualalapi” e “As mulheres do Imperador”.  

 

A Palavra e Palavras Eventos vai realizar a sexta edição do Moz Slam – Campeonato Moçambicano de Poesia Falada. O evento, que se realizará de 23 a 25 deste mês, no Gil Vicente Café e Bar, e, na final, no Centro Cultural Moçambique-China, em Maputo, pretende ser um marco na promoção da arte da poesia falada em Moçambique. 

“O Moz Slam se configura como um espaço de celebração, resistência e valorização da palavra, reunindo 22 poetas, sendo 12 da cidade de Maputo e 10 da cidade de Quelimane, que irão competir por um lugar de destaque nos maiores palcos internacionais”, afirma a organização, que entende que a poesia falada vai além da expressão de sentimentos, igualmente, denuncia, questiona e transforma. 

Ainda para a organização, o Moz Slam é uma plataforma de resistência que dá voz às lutas e histórias do povo moçambicano, ao mesmo tempo em que promove a cultura e a arte da poesia falada no país. 

A edição deste mês, além da participação de 22 poetas – 12 de Maputo e 10 de Quelimane – que irão mostrar ao mundo a força de suas palavras, vai contar com a participação internacional. E o vencedor desta edição do Moz Slam terá a oportunidade de representar Moçambique em eventos de renome mundial, a destacar:  Campeonato Africano de Poesia Falada (Fevereiro), o evento irá seleccionar os 10 maiores poetas africanos, que irão representar seus países e o continente africano no Mundial de Poesia Falada, que vai ocorrer no México, em Novembro de 2025; o Campeonato Mundial de Slam Poetry (Maio, em Paris), em que o vencedor terá a oportunidade de representar Moçambique na competição internacional de poesia falada, designadamente Campeonato Mundial de Slam Poetry, em Paris.

A competição será realizada em três dias intensos de apresentações e batalhas poéticas: Semifinais (23 e 24 de Janeiro), no Gil Vicente Café e Bar, em Maputo, das 16h às 19h. 

A grande final (25 de Janeiro), vai acontecer no Centro Cultural Moçambique-China, das 16h às 20h.

O julgamento das apresentações será feito por um júri composto por 5 pessoas. Nesta edição, duas personalidades serão convidadas para compor o júri nas semifinais e três entre a plateia. Para a grande final, três jurados convidados e dois jurados da plateia irão avaliar os participantes.

 

A Fundza lançou, em Novembro do ano passado, a quarta Chamada Literária. A iniciativa anual pretende dar oportunidade de publicação aos jovens autores talentosos,  moçambicanos, sem nenhum custo para a publicação do livro.

Na quarta edição, foram inscritos 144 projectos literários, tendo sido seleccionados os seguintes: Escadaria de cadáveres, de Albert Dalela (Romance); O manual do silêncio e outros mistérios, de Óscar Fanheiro (Poesia); O retorno dos elefantes, de Varela Félix (Conto); Mirante do Zambeze, de Gabriel Sauzande Jeque (Crónica); Há coelhos especiais, de Angelina Neves, Noite quebrada, de Japone Arijuane, Dream, a descoberta do mundo novo, de Roberto Savanguanni, e De onde vêm as estrelas, de Yuri Lopes (Infanto-juvenil).

A mesa do júri, constituída por Bento Baloi, Daniel da Costa e Dany Wambire, também seleccionou as obras Casulo Vago – Contos de Moz, de Adriano Félix (Conto) e O vendedor de sonhos, de Orlando Jorge Mussaengana (Infanto-juvenil) como suplentes.

Das 144 propostas literárias inscritas na quarta chamada da Fundza, 53 são de poesia, 39 romances, 30 contos e/ou crónicas, e 22 infanto-juvenis.

Nas três anteriores chamadas literárias, a Fundza lançou cerca de 45 livros de autores de praticamente todo o país, o que se insere no plano de a editora descentralizar as

oportunidades de publicação.

Como resultado das chamadas, Pétalas negras ou a sombra do inanimado, de Belmiro Mouzinho, foi distinguido na primeira edição do Prémio Literário Mia Couto, no género

poesia, e Estórias trazidas pela ventania, de Adelino Albano Luís, foi vencedor da 2ª edição do mesmo Prémio.

 

Otis Selimane vive no Brasil há 10 anos, e pretende realizar o seu primeiro concerto em Moçambique. Marcado ainda para o primeiro semestre deste ano, o artista afina-se também para lançar, ainda este ano, o seu novo álbum.

“Músicas de mbira e outros contos bantu” és o título do CD, uma proposta discográfica que reúne contos bantu das regiões que compõem hoje os países de Moçambique, Angola, Zimbabwe, África do Sul, Zâmbia, cujo condutor central é a Mbira (Nyunga nyunga e Dza Vadzimu), instrumentos tradicionais zimbabweanos e moçambicanos, perpassando pelo repertório tradicional dos mesmos países, releitura de composições de artistas afro-brasileiros e cancioneiro popular.

De acordo com Otis Selimane, as narrativas textuais dos contos e poesias farão parte de todo o trabalho e serão conduzidas por poetas angolanos, moçambicanos, que através da poesia falada e cantada em suas línguas nativas, narram histórias do quotidiano de suas origens, o matriarcado, as memórias pós-guerra, a transferência horizontal dos saberes africano-bantu e outros assuntos co-relatos.

O álbum, como forma de mostrar a composição do repertório das 10 faixas, será antecedido por ‘singles’ a serem lançados mensalmente. Ao todo, são seis, sendo que o primeiro, intitulado “É tanto que eu peço a Deus”, sai até finais de Janeiro, como ponto de partida.

Ano passado, Selimane foi indicado como uma das 100 personalidades mais influentes da lusofonia pelo portal Bantumen pelo seu trabalho na transformação da música em uma ferramenta de conexão e educação, promovendo Moçambique e as suas tradições no palco
internacional, enquanto cria um espaço para diálogos culturais e inovação musical.

Ainda em 2024, com o projecto “Músicas de Mbira”, lançou uma série audiovisual convidando vários artistas brasileiros e africanos para colaborarem na produção de Episódios que visavam mesclar a música brasileira com instrumentos tradicionais moçambicanos.

Otis Selimane Remane é percussionista, baterista, cantor, compositor e educador moçambicano. Iniciou-se na música aos sete anos de idade e aos 10 começou a tocar bateria.

Desde 2015, no Brasil, desenvolve diversos projectos artísticos e educacionais ligados à cultura africana e afro-brasileira, com destaque para “Músicas de Mbira” (show e projecto com a Mbira), The Otis Project, com o lançamento do disco “Tumbuluku”, apresentado no Sesc Jazz 2021 e o seu mais recente show: “Renascimento”.

Formado em Música Popular e Jazz Performance pela UNICAMP, actualmente encontra-se no mestrado em Musicologia, onde actua também como estudante e pesquisador. Otis, com o seu trabalho como educador, difunde, além-fronteiras, a cultura e ritmos de Moçambique, dando a conhecer mais sobre o país.

Já foi convidado para palestrar em várias escolas públicas, universidades e grupos de pesquisa falando sobre Moçambique e África em geral. Autor de cursos como Introdução à Musicologia Africana e Universalidades Africanas, já ofereceu cursos para os mais diversos públicos no Brasil e fora do país.

Como produtor e agente cultural no Brasil já produziu tournées de artistas africanos no Brasil. É fundador da festa voltada aos africanos residentes no Brasil ‘Sons D’África’ e idealizador da Xiphefu Produções, que é um colectivo africano independente que representa artistas africanos em diáspora no Brasil.

 

O Ministério da Cultura e Turismo reagiu, esta quarta-feira, ao atraso do anúncio das conclusões da comissão técnica que se encontra a avaliar a Estátua de Eduardo Mondlane, na avenida com o mesmo nome, na Cidade de Maputo. 

Segundo um comunicado de imprensa do Ministério da Cultura e Turismo, que a seguir transcrevemos na integra, o atraso deve-se aos manifestações pós-eleitorais que, impediram a mobilidade dos profissionais comprometidos com a avaliação que se segue a bom ritmo:

“O Governo de Moçambique procedeu no passado dia 25 de Setembro de 2023, à inauguração da nova estátua do arquitecto da unidade nacional, Eduardo Mondlane, tornando-a numa praça digital cuja tecnologia instalada permite aceder a uma série de documentos e factos históricos por meio de scanner.

Após a sua inauguração, o Ministério da Cultura e Turismo atendeu à sensibilidade popular e procedeu à criação de uma comissão técnica para avaliar possíveis incongruências na sua construção, tendo iniciado de imediato com os respectivos trabalhos.

Entretanto, por dificuldade de mobilidade, no âmbito das manifestações pós-eleitorais, verificou-se um atraso na conclusão da avaliação técnica, contudo, este trabalho de perícia prossegue a bom ritmo e, no momento oportuno, o seu conteúdo será tornado público.

O Ministério da Cultura e Turismo reitera que está disponível para prestar todos e quaisquer esclarecimentos sobre esta e outras matérias do sector”.

 

Po: Eduadro Quive

 

Moçambique está a viver um período que pode influenciar a transformação social e política. Ao que tudo indica haverá um país antes e um depois de 23 de Dezembro de 2024. Na verdade, a viragem terá se verificado com a morte do rapper Azagaia, a 9 de Março de 2023 que mobilizou vários extratos sociais e principalmente a juventude urbana, esta que agora lidera a contestação do processo eleitoral e,
por conseguinte, por um Estado Social.

Basta recordarmos o cenário vivido no velório do músico, a 15 de Março, com a cidade de Maputo praticamente paralisada com as pessoas a fazerem o cortejo fúnebre, desde a Praça da Independência até ao Cemitério de Michafutene. E ao longo do trajecto que embora forçado pelas autoridades que impediram que o corpo seguisse pela Julius Nyerere, supostamente por ser uma zona sensível, por a Presidência da República estar naquela avenida, as pessoas iam ficando paralisadas, prostrando-se ao corpo de Azagaia que entretanto desfilava a Avenida de Moçambique, a maior do país, com direito a escolta policial como se de um alto dirigente se tratasse ou… um criminoso

Basta recordarmos depois das manifestações que ocorreram sobre a égide da música "povo no poder" e a mensagem da liberdade de expressão, no dia 18 de Março, que culminou com o uso de força
excessiva da polícia sobre os manifestantes, com cães, gás lacrimogêneo, porrada e balas, uma das quais que tirou os olhos direitos a Inocêncio Manhique e Marcos Amélia.

Assim nascia o que passou a ser chamada Geração 18 de Março (2023), em meu entender, não só pelo sucedido nessa data, mas em paralelo com a Geração 8 de Março (1976), quando um grupo de jovens foi enviado para o estrangeiro numa missão estudantil que formaria os primeiros quadros para actuar em várias frentes do Estado Moçambicano que então se fundava após a independência.

Só depois emerge Venâncio Mondlane e todo este movimento que assistimos hoje. Antes houve a novela das eleições autárquicas de Outubro de 2023, onde depois de registo de fraude documentada, Mondlane iniciou uma onda de protestos que também paralisaram a cidade capital, com a repreensão de costume.

Que VM7, como se apelida, é um homem carismático, que não vem da tradicional política já se sabia. Mas é preciso reconhecer que a onda de insatisfação sobre os dois maiores partidos que sempre disputaram o poder entre si, era grande e gerou uma espécie de pacto da população, em que votaria em qualquer um que não fosse desses dois partidos. VM7 leu o cenário e emergiu em meio ao caos político. E o grito unificador passou a ser precisamente o que foi cantado por Azagaia, este que se inspirou em Samora Machel: Povo no Poder. A esse slogan, aplicou-se-lhe o sentido de pertença e amor à pátria: Este país é nosso. Coincidência, talvez, com um adágio popular Maconde xilambo axi xettu.

Feito o rescaldo, podemos escutar as vozes na rua e concluir que há muito que estas manifestações deixaram de ser unicamente sobre os resultados das eleições presidenciais, legislativas e para governadores provinciais. As muitas vozes que andam nas ruas reclamam um pouco de tudo, de Rovuma ao Maputo, o que podemos resumir em dois aspectos: a qualidade dos políticos e a efectivação de um Estado Social. É no último aspecto que se pensa ainda mais o fardo.

Há muito que se sente que o Estado se distanciou das suas responsabilidades com a população, sobretudo a mais pobre e vulnerável. E engana-se quem pensa que os governantes não se aperceberam disso. Basta contarmos o número de vezes que se viu o Presidente da República a abrir torneiras com direito a fitas decorativas, champanhe e uma cobertura mediática em cadeia nacional. Um país em que abrir fontes de abastecimento de água faz manchete diz muito da sua realidade. Há problemas sérios no acesso a serviços básicos, as pessoas têm de meter os pés nos rios, ceifar excrementos de animais e tirar água para beber; as pessoas têm de percorrer quilómetros para ter acesso a serviços de saúde, sendo que estes, na sua maioria, funcionam no horário normal de expediente nas repartições de Estado, das 7h30 às 15h30, e quase sempre faltam medicamentos; a electricidade para todos é uma miragem; a educação tem se resumido ao debate sobre salas de aulas (que são árvores), o livro escolar que nunca chega – e se chega tem erros graves – e a falta de pagamento aos professores. Podemos parar por aqui porque a lista é extensa.

Ora, se a rede hospitalar pública não chega para todos, sobretudo os mais necessitados, e tem a limitação horária dos gabinetes dos ministérios, o que acontece com quem ousa ficar doente fora das horas? Fora dos centros urbanos grande parte da responsabilidade fica para os saberes tradicionais, dos curandeiros e das pessoas vividas, que foram aprendendo a curar enfermidades através de ervas, com seus avós, suas mães e anciãos. Na cidade, a tarefa fica com as farmácias onde só dizemos o que sentimos e empurram-nos para uma medicação conveniente. E quando essas alternativas falham, agrava-se o estado de saúde, e vamos na boleia de uma camioneta para os hospitais centrais ou gerais, percorrendo quilómetros em estradas de terra batida ou com buracos assassinos, morrer é o caminho menos tortuoso.

A Educação vai caindo em desgraça. O ensino público, principalmente o nível básico (1a a 6a classe) foi se afundando ano após ano. Nos últimos anos apenas escalamos o cúmulo da desolação. Se por um lado parece se ter vencido o desafio de quase em cada bairro ou aldeia ter uma escola primária, não se pode dizer o mesmo sobre a aprendizagem, o livro escolar e a infraestrutura. Antes utilizei
uma afirmação de Ungulani Ba Ka Khosa, que para além de um grande escritor foi professor em tempos do socialismo, que se refere ao estado da educação pelo que se vê e escuta no discurso do governo –
construção de salas de aulas. Mas vamos ao verdadeiro problema: a escola pública deixou de ensinar com qualidade em grande parte do país; os professores já andavam desmotivados pelas condições de
trabalho, mas o circo melhorou com a falta de materiais de apoio para o aluno; o livro escolar que quase sempre não chega para todos e, de repente, nos últimos dois anos chegou no meio do ano (em 2024 foi
destruído no último trimestre do ano lectivo). O livro sempre tem erros graves. Entretanto a educação avança, com construções de salas de aulas que nas chuvas seguintes vão logo abaixo, com os alunos no seu
normalíssimo relento. As consequências imediatas e que directamente são associadas ao mau processo de formação são as admissões nas universidades ou ainda, cada vez mais recorrente, admite-se mesmo
assim os estudantes com dificuldades e depois o problema vai se ver lá à frente. Foi notícia em 2021 a reprovação em massa de candidatos a magistrados, no Centro de Formação Jurídica e Judiciária.

Os males que resultam da má Educação e nada focada no Desenvolvimento Humano, aliado a uma governação reactiva, andam à vista de todos. Quando chega a época chuvosa e eclode a cólera em muitas comunidades acredita-se que os produtos usados para purificar a água é que causam a doença. Pois é, a população sempre partilhou a água com os animais ou retiram a água dos poços, do nada elas vêem pessoas a vir das cidades, deixadas nas sedes dos distritos de viaturas de alta cilindrada, com detergentes para meter na sua água. E depois a cólera simplesmente não acaba e as pessoas continuam a adoecer.

Ir ao lar continua a ser a maior oportunidade de singrar na vida para as famílias, com as raparigas a terem de entrar no jogo do prestígio de toda a rede familiar, engravidando e casando cedo.

Os rapazes continuam a ver oportunidades nas ruas, às vezes em actividades criminosas. Mesmo formados e capacitados, as oportunidades de emprego são escassas ou precárias, até para os que veem as multinacionais a instalarem-se nos seus distritos. Muitos foram os que imigraram para Maputo na ilusão de que as coisas sejam melhores aí, mas depararam-se com uma precariedade que está em
níveis tão escandalosos como os ricos e endinheirados em 24 horas, que se exibem nas redes sociais e nas avenidas. Pensemos nas pessoas que armaram barricadas e cobraram uma taxa para passagem, e
lembremos dos homens que se sobrepõem às autoridades municipais na cidade e cobram também pelo estacionamento e guarnição das viaturas? Sabemos todos o que acontece com quem ousa desafiá-los,
mas preferimos fingir que damos-lhes os 10 meticais como uma contribuição para as suas vidas miseráveis ou por uma troca de serviços sem termos e condições nem direito a recusa.

E não é que tinha dado nas modas ver jovens e adultos a exigir a sua «parte» do país ou a pedir as «chaves» para abandonar o país à procura de oportunidades no estrangeiro, num tom claro de não vislumbre de um horizonte e perspectiva de vida nas condições sociais actuais, mas também da frustração com as lideranças políticas, muitas vezes falaciosas, pouco dadas a cumprir com as promessas.

Em suma, assistiu-se a um Estado Social falhado, onde as diferenças foram crescendo a olhos vistos, sem um atendimento adequado a quem vivem com maiores carências, sem proteger os cidadãos, muito menos promover a igualdade de oportunidades para todos.

No meio disso, as igrejas foram se multiplicando, sendo as instituições mais presentes no país, em terra, na televisão e nas redes sociais. Elas passaram a expor-se como o alento e a esperança das pessoas. Expulsam demônios, purificam as almas e mostram a luz no fundo do túnel. Curam as doenças espirituais e a dor física, com as suas poções mágicas e orações que não cessam de dia e de noite. Nas cidades o cenário é pior, há leilões de arrendamentos de cubicos entre a igreja e a barraca, como na luta titânica entre o diabo – álcool, drogas – e os anjos – a palavra dos pastores e profetas. Os cultos são de hora em hora, mais as horas extras que os pastores(as) fazem acompanhando a vida privada dos fiéis, que contam-lhes tudo e mais alguma coisa do que lhes acontece. O emprego, os negócios, a saúde, a segurança (pois que com Deus não há mal que vença), as relações amorosas, a procriação, e em tudo, passou-se a confiar à “mão de Deus”. E, claro, tudo isso contando que se entregue a décima parte de rendimentos que as pessoas mal conseguem ter.

A igreja ocupa espaços do território moçambicano que nem o Estado alcança, fazendo elas, o que muitas vezes devia ser o outro a fazer. O verdadeiro poder, hoje, está no “evangelho” e  “profecias” que, por exemplo, no que a escola ensina e no tratamento hospital. Hoje, as histórias de sucesso são contadas em programas de televisão, pois as igrejas são os melhores clientes das emissoras, com testemunhos de
pessoas que abandonaram tratamentos que “não resultavam” pelo poder do “espírito santo” ou então prosperaram nos negócios, tiveram empregos, resolveram situações complicadíssimas, injustiças ou
feitiçaria, problemas em conceber e as tradições dos cônjuges.

Pois, mais uma vez, não tenhamos ilusões, também isso os políticos e governantes sabem, basta ver que todos vão às igrejas para pedir voto e receber o poder do "espírito santo" para alcançar o poder sobre o povo e governar. Não é atoa que a imagem da veneranda juíza presidente do Conselho Constitucional “viralizou” nas redes sociais quando colocada no contexto das vésperas da proclamação dos resultados das últimas eleições, como se de uma decisão entre o bem e o mal, se tratasse. Escusado será fazer menção que os últimos presidentes da Comissão Nacional de Eleições eram líderes religiosos. Mais ainda, organizações religiosas fazem observação eleitoral. E porque sempre vale a pena, podemos recorrer ao próprio governo que está a cessar as funções que têm um Ministério da Justiça, Assuntos Religiosos e Constitucionais, será para garantir a laicidade do Estado?

E no meio disso tudo percebemos que, de facto, quem tem fé não está errado, parece que vai precisar-se de um autêntico milagre para que saiamos da encruzilhada em que estamos ou da coragem dos homens de bem para que não seja a sorte a ditar a nossa sina. Certo é que o próximo ciclo de governação carrega o grande peso de descer às profundezas dos problemas e fazer uma abordagem que não seja sob pressão de cortar fitas, fazer fotos e “postar” nas redes sociais para o povo ver que fez. Sobre o que fazer, as ideias vêm de todos os
lados e este é o momento de se ver com os olhos de ver.

Para não fugir a regra da piada facebookiana que nos retira o direito à reflexão, P.S: isto não é sobre igrejas.

O Ferroviário de Maputo abriu, nesta segunda-feira, a época futebolística 2025 tendo em vista a sua participação no Moçambola e na Taça CAF. Os atletas serão submetidos aos habituais exames médicos, nesta semana, e os trabalhos de campo iniciam-se dentro de uma semana.

Vencedor da Taça de Moçambique e quarto classificado da edição passada do Moçambola, o Ferroviário de Maputo já projecta a presente época futebolística. Para o efeito, os “locomotivas” da capital do país abriram, nesta segunda-feira, as suas oficinas, momento marcado por uma reunião entre a direcção do clube, jogadores e equipa técnica.

Ainda no contexto da abertura da época, os jogadores serão submetidos, nesta semana, aos habituais exames médicos. O arranque dos treinos está agendado para a próxima segunda-feira, em Maputo.

Além do Moçambola 2025 e da Taça de Moçambique, prova de que é detentora do troféu, os “locomotivas” vão representar o país na Taça CAF, na edição 2025/26.

A turma da capital do país, que vai manter a equipa técnica, ainda não anunciou a composição do seu plantel, mas sabe-se que haverá algumas entradas, como é o caso de Sampaio, vindo da Associação Desportiva de Vilankulo; Telinho, que esteve no Ferroviário de Nampula; e Elias Macamo, segundo melhor marcador do Moçambola 2024, em representação do Desportivo de Nacala.

 

“Hidroeléctricos” fazem “limpeza” da casa

Em contrapartida, a União Desportiva do Songo continua a liderar um processo de reestruturação. Depois de despedir toda a equipa técnica liderada por Mark Harrison, por não ter cumprido os objectivos da época, o clube anunciou mais uma vassourada.

Através de um comunicado, os “hidroeléctricos” informaram o despedimento de 10 jogadores que fizeram parte do plantel do ano passado.

“Esta decisão visa criar espaço para os novos talentos que representam o futuro do nosso clube e que se têm destacado nas categorias de base e refrescarmos o nosso plantel com alguns jogadores de destaque no Moçambola”, lê-se no comunicado, sem sequer se revelar os nomes dos jogadores.

Esta é a segunda vez que a União Desportiva do Songo dispensa toda a equipa técnica e uma boa parte dos jogadores, tendo a primeira sido em 2023. Nos dois casos, o clube tomou a decisão depois de falhar a conquista do Moçambola e a Taça de Moçambique.

No caso de Mark Harrison, o contrato era de um ano renovável automaticamente, desde o momento que conquistasse uma das duas provas em que esteve envolvido, mas cessando automaticamente por ter falhado.

O técnico britânico mostrou-se desapontado com o facto de a sua não renovação do contrato ter sido anunciada por via das redes sociais. Num comunicado partilhado logo após a direcção dos “hidroeléctricos” ter comunicado a não renovação do contrato com toda a equipa técnica através das redes sociais, Mark Harisson usou da mesma via para transmitir o seu sentimento.

Harrison escreve que “é com desilusão que, após um ano de muito sucesso com a UD Songo, onde alcançamos tanto, apesar dos muitos desafios que enfrentámos nos bastidores, li o que parece ser minha saída do clube por meio de uma postagem no Facebook do clube esta manhã (sábado)”.

Para o técnico, não havia motivos para o seu afastamento do clube “hidroeléctrico”, uma vez que os resultados obtidos pela União Desportiva do Songo foram o reflexo de alguns problemas internos.

“Isso faz com que as conquistas, chegando tão perto de ganhar a liga e Taça, perdendo apenas um jogo em 90 minutos em toda a temporada, o que foi, em grande parte, devido a grandes problemas logísticos para viajar para o jogo, sejam algo de que eu e a minha equipa técnica estamos extremamente orgulhosos”, escreve o treinador, lamentando ainda o facto de ter falhado a conquista das duas competições importantes em que esteve envolvido.

Recorde-se que o treinador britânico chegou à União Desportiva do Songo no início do ano de 2024, depois de passar por alguns países asiáticos e africanos, com destaque para Quénia, onde treinou Gor Mahia e Might Mukuru FC do Malawi.

O cartoonista Sérgio Zimba vai lançar, nos próximos dias, o seu mais recente livro. Intitulado “Dzimbadas”, o projecto editado pela TPC reúne cartoons produzidos entre 2020 e 2022

No seu novo projecto, Sérgio Zimba reúne em livro um conjunto de cartoons diversificados. Partindo de um contexto afectado pela pandemia da COVID-19, Zimba retrata, vivamente, a vida social dos moçambicanos. Por isso mesmo, garante, os leitores “Vão encontrar no meu livro coisas sérias retratadas de forma hilariante, do nosso dia-dia”.

A ideia do livro “Dzimbadas” tem motivação “documental” e “memorialista”. Ao produzi-lo, o autor quis prender parte das situações que, em 2020, alteraram as rotinas dos moçambicanos e de vários cidadãos do mundo, numa crise sanitária com efeitos económicos muito graves. Assim, em “Dzimbadas” há peripécias que lembram o poder dos mahindras (viaturas usadas pela polícia em Moçambique) na fiscalização dos que, nas barracas, teimaram em gozar o proibido prazer da convivência, num contexto em que as palavras de ordem eram “ficar em casa”.

Com o seu livro, Sérgio Zimba espera, portanto, manter a memória colectiva activa, de modo que os leitores saibam sempre como lidar com as pandemias ou com as crises que, ciclicamente, afectam os países. “Apesar de a COVID ter passado, as narrativas do livro continuam actuais. Porque há mensagens intemporais. Até porque a COVID não é a primeira pandemia do mundo e pode ser que apareçam mais coisas. Esse aspecto da prevenção, por exemplo, é uma lição a manter”, sublinhou.

Em parte, “Dzimbadas” é uma homenagem aos Dzimba, ou seja, Zimba. O autor decidiu atribuir esse título para relacionar a sua obra e a sua pertença familiar.

“Dzimbadas” ainda não se encontra disponível nas livrarias e ainda não tem data de lançamento. Entretanto, quando for lançado, Sérgio Zimba espera que os seus admiradores e os leitores em geral adquiram o livro porque “Moçambique passa por um momento sombrio. Nós precisamos de sorrir, de estar bem disposto. Este livro traz todo esse condimento de humor. Se vocês realmente estão comigo, comprem o livro. A tipografia está disposta a fazer quantas tiragens forem necessárias, desde que o livro esgote. Como autor, isso daria-me grande satisfação. Comprando o livro, os leitores tiram-me da pobreza absoluta”, gracejou o autor entre risos.

A escrita de “Dzimbadas” foi uma autêntica odisseia, para Sérgio Zimba, uma caminhada aos solavancos como se, compara o autor, estivesse a percorrer alguns troços da Estrada Nacional Número Um.

 

 

 

O músico Roberto Isaías diz que os artistas devem jogar um papel importante na disseminação de mensagens que contribuam para o bem-estar social e na sensibilização da sociedade na tomada de melhores decisões em tempos de crise. O autor de “somos todos Moçambique” lamenta o facto de os músicos estarem a ser alvos de ameaças por não se aliarem aos protestos pós-eleitorais no país.  

O vocalista dos Kapa Dech não está alheio aos acontecimentos do país e aborda a crise pós-eleitoral marcada por protestos desde 21 de Outubro. O músico explica que os artistas jogam um papel fundamental em tempos de crise dada a sua relevância na sociedade.

“O nosso papel não é de ficarmos a observar as coisas de longe, mas sim de sensibilizar a sociedade para tomar melhores decisões. E é por essa razão que na música que eu lancei recentemente exorto aos moçambicanos para se lembrarem que são irmãos apesar das diferenças ideológicas e eleitorais”, explica o músico. 

Para Isaías é necessário que se pare com a violência entre os moçambicanos, tendo em conta que, na sua opinião, essas atitudes contribuem para o rompimentos dos laços entre as pessoas. Apesar de reconhecer que o país ainda tem muitos desafios, Roberto Isaias critica os métodos como os protestos pós-eleitorais são feitos.  

“Essas manifestações teriam mais força e alcance se as pessoas fizessem de livre e espontânea vontade, ou seja, sem serem forçadas. As pessoas ameaçam os músicos que vão cancelar porque não se identificam com um lado. Nem sequer dão opção ao músico de escolher o seu lado ideológico, simplesmente forçam-nos a juntarmo-nos às manifestações. Para mim essa atitude é muito errada”, critica o autor de “Lalane”.

O vocalista da histórica banda Kapa Dech sugere mudanças no sistema eleitoral do país como forma de evitar futuros problemas.

“Desde a CNE, STAE até ao Conselho Constitucional descobrimos que o sistema é frágil e fertil para haver empolamentos e fraudes de todos os lados. É preciso estrutural. Felizmente, na sua primeira intervenção o candidato eleito assumiu que vai liderar esse processo”, anota.

A crise pós-eleitoral teve um impacto devastador na indústria cultural, tendo em conta que houve cancelamento de muitos eventos. Roberto Isaías diz que 90 por cento dos músicos estão a passar por muitas dificuldades. 

“Muitos músicos vivem de restauração, da indústria hoteleira, dos bares e ganham semanalmente. Só uma semana sem actividades cria muitos transtornos, pois são chefes de família. Apenas os que têm outras fontes de renda e que conseguem sobreviver neste momento são poucos”, lamenta o músico. 

 

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