O País – A verdade como notícia

carta a Spinoza

Por M.P.Bonde

 

Caro Spinoza, os pingos que, agora, aprecio pela janela onde lhe escrevo trazem alguma esperança nestes tempos de cólera! Todavia a fome esse monstro das horas mortas continua a arrastar o seu convênio diante da inoperância de quem deveria prover o básico. A fome! A fome, sempre ela, a ensinar os ilustres mundanos a serem mais afectivos.

Escrevo ainda com os miolos queimados! É tanta a maldade nesta geração de espectáculo, tudo é capturado sob o prisma de um self ou um post na fábrica de sonhos inalcançáveis como disse o poeta com umbigo ancorado nas terras de muhipiti.

O tempo, caro pensador das lentes, separa-nos por mais de 348 anos de volta ao sol! Verde é o semblante do gato pendurado na telha da manhã, franzinho, com as ossadas cambaleando sob a folga da cauda, ficamos pelos 45 anos que abraçam meus cabelos neste instante, os mesmos anos com que deixaste as asas da vida sob a âncora desta terra.

Há muitas inovações neste momento, como as que ouviste algures sob a batuta do grande Da Vinci. No entanto, para nós que vimos o virar do outro milénio, sempre à espera do Nazareno, adoptamos as redes sociais como mecanismo de manutenção da nossa existência face ao distanciamento entre os homens.

Assim sendo, as redes sociais da minha pequena aldeia não falam de outra coisa senão uma indemnização milionária, 4 milhões de meticais para ser preciso! Pois é, esse valor para ressarcir os danos morais por conduta indevida de um jovem que se fez artista com o beneplácito do silêncio. Será lícito criar critérios para a criatividade humana, seja ela para o bem ou para mal? Quem ditou a precisão da arte maior não estará excomungado nos dias de hoje, onde tudo que se diz, pode ser conotado com inveja?

Sei que não fazes ideia! Deixa-me contar. Há dias, deixou-nos o Mário de um país com nome de ave apreciada no Natal. Sim, esse último mago das terras andinas e registou dedico a você o meu silêncio como que a profetizar o seu fim. Quando já não temos nada a provar, o silêncio parece ser a única forma de mostrar a nossa resignação ou alheamento como fez o Bernardo Soares no epílogo do seu desassossego.

Onde encontro a ética, caro Spinoza? Onde habita a ética? Que pedra dança pulsação do ritmo cardíaco? Que Deus a noite desvenda quando não sonho?

Não lhe maço mais, o tempo urge e as manhãs continuam a espraiar a luz que esconde o cheiro da morte.

Até breve, do seu admirador.

 

A Temporada de Música Clássica Xiquitsi, deste ano, inicia neste mês de Maio, com a primeira série de concertos 2025. “Será uma sessão histórica que reflecte o seu impacto transformador na inserção social e formação de adolescentes e jovens. Neste contexto, de 8 a 11 de Maio, Maputo volta a ser palco da excelência artística da Orquestra, Coro e Percussão Xiquitsi, num alinhamento que une gerações e celebra a música tradicional moçambicana e a clássica do mundo”, lê-se no comunicado de imprensa.  

A série transporta para o palco a moçambicanidade pelos músicos envolvidos, com o calor de convidados internacionais. Por outro lado, reflecte a maturidade do projecto Xiquitsi e os frutos de 12 anos de investimento no ensino colectivo de música, com vários antigos alunos que, actualmente, actuam como músicos profissionais, professores ou estudantes de prestigiadas escolas no país e no estrangeiro.

Para abrir a temporada, será realizado um Concerto de Gala, no dia 08 de Maio, às 19h00, no Salão Nobre do Conselho Municipal de Maputo. 

O Concerto de Gala vai apresentar um rico repertório com obras de Vivaldi, Mozart, Halvorsen, Sibelius e arranjos de compositores moçambicanos como José Barata, Xixel Langa e ainda a estreia em Moçambique da obra do jovem compositor moçambicano, Estevão Chissano. 

O concerto contará ainda com interpretações a solo dos jovens xiquitsianos, Inérzio José Macome, formado com distinção (20v) na Escola Superior de Música de Lisboa e Alexandre Munguambe, ainda em formação no Xiquitsi.

No dia 10 de Maio, às 19h00, no Centro Cultural Moçambique – China, vai acontecer a “Noite Fora de Série”, que este ano ganha um carácter especial. É que, pela primeira vez, o projecto acolhe o mestre de valimba, Pai Leão, artista da Beira. O concerto será dividido em dois actos, o primeiro contempla a actuação da Orquestra, Coro e Percussão Xiquitsi e o segundo, o universo sonoro da valimba em diálogo com outros instrumentos e artistas moçambicanos. 

Além do concerto, Pai Leão vai orientar um workshop sobre a história, construção e técnica deste instrumento tradicional, numa iniciativa pioneira rumo à valorização da valimba em Moçambique.

O encerramento da série será com o acolhedor e tradicional concerto denominado “Tarde para Pais e Filhos”, a acontecer no dia 11 de Maio, às 15h, no Montebelo Indy Congress, onde se explora o ambiente familiar e didáctico. O momento vai para além de obras clássicas, destacar temas moçambicanos e homenagear Edilson da Conceição, antigo aluno do Xiquitsi falecido em 2018. A peça de homenagem terá o arranjo de Estêvão Chissano e representa um dos momentos mais emotivos do concerto, simbolizando a união entre o passado, o presente e o futuro do projecto.

O Xiquitsi, com direcção artística da fundadora do projecto, Kika Materula, reafirma com esta Temporada, o seu compromisso com a valorização da cultura nacional e a transformação social através da música.

 

No próximo sábado, às 20h, o Centro Cultural Franco-Moçambicano vai receber a cantora e compositora Lúcia de Carvalho para um concerto considerado “vibrante” e “emotivo”, inserido na sua  tournée ―Pwanga‖ — palavra que significa “luz” em kimbundu, de Angola.

A Maputo, a artista traz um espectáculo que funde canções dos seus dois álbuns, Kuzola e Pwanga, num percurso musical profundamente enraizado na busca de identidade, pertença e celebração das origens. Com ritmos que cruzam África, Brasil e Europa, a música de Lúcia é, ao mesmo tempo, íntima e universal, espiritual e dançante — uma ponte entre mundos.

O concerto integra uma digressão especial pelos países africanos de língua oficial portuguesa — Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe — no âmbito das celebrações dos 50 anos das independências destes países. 

A iniciativa conta com o apoio do Institut Français e pretende homenagear as histórias, culturas e memórias que unem estas nações e os seus povos.

Com raízes angolanas e uma vida entre Portugal e França, Lúcia de Carvalho mistura voz, percussão e dança numa entrega cheia de energia e autenticidade. 

Em palco, estará acompanhada por uma banda que integra o percussionista Tony Paco, e contará ainda com a participação especial da cantora Onésia Muholove — ambos moçambicanos — que enriquecem o espectáculo com talento local, promovendo, assim, o diálogo musical entre culturas.

O concerto integra também as celebrações dos 30 anos do Centro Cultural Franco-Moçambicano, reforçando o seu compromisso com a diversidade artística e os laços culturais entre África e Europa.

 

SOBRE A ARTISTA

Lúcia de Carvalho nasceu em Angola, cresceu em Portugal e vive em França. A sua arte é uma viagem sonora entre continentes e culturas, guiada pela força do tambor, da voz e do corpo em movimento.

Com Pwanga (luz) e Kuzola (amor), a artista planta canções que são sementes de conexão, cura e partilha. O seu nome diz muito sobre a sua missão: Lúcia é luz; de Carvalho, a força da árvore.

O Centro Cultural Português, a Faculdade de Ciências da Linguagem, Comunicação e Artes da UP-Maputo e o Centro de Língua Portuguesa – Camões, instalado naquela universidade, comemoraram o Dia Mundial da Língua Portuguesa através da realização da Grande Final da 22.ª edição do Prémio Eloquência Camões.

De acordo com uma nota de imprensa, o júri, composto pela actriz Ana Magaia, pela professora universitária Paula Cruz e por José António Marques, Leitor do Camões, ICL, na UP-Maputo, avaliou as habilidades oratórias dos 10 concorrentes finalistas, tendo concedido o primeiro lugar a Antonieta Matsinhe, o segundo lugar a Leonel Maísse e o terceiro lugar a Dionísia Munguambe, estudantes do Curso de Licenciatura em Ensino de Português da UP-Maputo. Foi ainda agraciado com uma Menção Honrosa o estudante do Curso de Literatura Moçambicana na Universidade Eduardo Mondlane, Deus Taímo.

Os dez finalistas, além de terem beneficiado de um curso de formação na arte da expressão oral, ministrado pela actriz Ana Magaia, receberam também um pacote de livros oferecido pela Plural Editores. O Camões – Centro Cultural Português em Maputo atribuiu, ainda, prémios pecuniários aos três primeiros classificados.

Criado em 2002, o Prémio Eloquência Camões pretende motivar os estudantes para a importância da oralidade em português no mercado de trabalho, em áreas tão variadas como a comunicação social, a docência, a publicidade, o teatro, o cinema, entre outras.

 

Nesta quarta-feira, Albino Mahumana e Renaldo Siquisse vão inaugurar a exposição de pintura “Fora da Caixa”, às 18 horas, na Fundação Fernando Leite Couto. 

Para a organização da mostra, as obras de Albino Mahumana retratam o quotidiano e as vivências dos moçambicanos, essencialmente através de imagens de mulher e de crianças.

“Mulheres com fardos na cabeça, nos mercados locais, a regressarem das suas quintas ou da busca de água, a prepararem comida, a cuidarem dos filhos, etc., bem como crianças a brincar. A partir do trabalho de Mahumana pode se enxergar os laços e afectos, a luta e a resiliência das pessoas de vida simples e comum, dando-lhes, o artista, a visibilidade e a humanidade que por vezes as notícias do dia-a-dia não lhes atribuem”, avança o comunicado da Fundação Fernando Leite Couto.

Quanto à obra de Renaldo Siquisse, o poeta Álvaro Fausto Taruma, citado na nota de imprensa da Fundação Fernando Leite Couto, escreve: “A linguagem plástica de Siquisse é profundamente táctil: a matéria da tela é ferida, arranhada, quase arqueológica, como se revelasse um tempo subterrâneo, anterior à imagem. A paleta densa e terrosa contrasta com explosões de cor simbólica, o vermelho dos lábios ou da flor, o branco que cega ou ilumina. Nessa tensão entre contenção e excesso, o artista nos propõe uma travessia: olhar de dentro para fora, ou vice-versa”.

Para a Fundação Fernando Leite Couto, o encontro entre os dois artistas poderá conferir ao espectador uma experiência de vislumbre do belo, do imersivo, do grito e da ternura, para além de toda a diversidade humana e de sentimentos que tanto Mahumana como Siquisse, transformam em obras de arte.

Yolanda Couto é a curadoria da exposição colectiva. 

 

Perpétua Gonçalves, Gilberto Matusse, Virgília Ferrão, Eduardo Quive e Mélio Tinga reuniram-se, nesta segunda-feira, no simpósio “A Língua Portuguesa de Moçambique nos Estudos Linguísticos e Literários”, organizado pelo Centro de Língua Portuguesa – Camões/UEM. O evento serviu para assinalar o Dia Mundial da Língua Portuguesa, com alusão às pesquisas produzidas na área em questão e ao processo criativo dos escritores convidados.

 

O Anfiteatro 1502 é um dos espaços importantes na promoção de debate de ideias. Concebido para reunir a comunidade académica e todos os interessados pela partilha do saber, na manhã desta segunda-feira, 5 de Maio, de facto, a sala da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane funcionou como uma espécie de acrópole. Os professores universitários, pesquisadores e escritores, tendo como pretexto o Dia Mundial da Língua Portuguesa, aproveitaram a ocasião para pensar Moçambique nestes 50 anos de independência.

Essencialmente, o simpósio “A Língua Portuguesa de Moçambique nos Estudos Linguísticos e Literários” teve dois momentos. No primeiro, houve duas apresentações. A Professora Catedrática Perpétua Gonçalves desenvolveu o tema “50 anos de pesquisa sobre o Português de Moçambique”, ora numa perspectiva historiográfica, ora referindo-se às principais áreas de pesquisa. Segundo disse, existem cerca de 600 títulos sobre estudos inerentes ao português de Moçambique e que, actualmente, o grande projecto sobre o tema é o que está a ser desenvolvido pela professora universitária Inês Machungo, que é um dicionário sobre o português de Moçambique.

Para Perpétua Gonçalves, quando se fala de pesquisas sobre o português de Moçambique, os dados variam, até porque os moçambicanos estão expostos ao português europeu, em contextos formais, e ao de Moçambique, em contextos informais. Ambos os casos, na verdade, revelam que “O português de Moçambique está em formação”, pois, acrescentou a pesquisadora, alguns aspectos ainda não estão efectivamente consolidados.

Na sua intervenção, Perpétua Gonçalves afirmou ainda que o facto de os moçambicanos, muitas vezes, serem bilingues deve ser visto como uma vantagem, pois “Isso só nos valoriza. Não é um problema”.

Ainda na parte inaugural do simpósio, a segunda apresentação foi feita pelo professor universitário e crítico literário, Gilberto Matusse. Partindo de uma premissa aproximada à da Professora Catedrática Perpétua Gonçalves, Matusse esclareceu que os 50 anos de independência são dominados por uma vertente genérica em relação ao estudo da literatura moçambicana, com tentativas de se traçarem periodizações. Nesse sentido, o crítico referiu-se aos autores e aos estudos que foram marcando a arte literária no país, como é o caso de Fátima Mendonça. 

O professor universitário disse que a grande expansão de estudos sobre literatura moçambicana começa nos anos 90, resultado das formações naquela área. O facto de a UEM ter introduzido o curso de Linguística, em 1989, com a componente na área de estudos literários, favoreceu a área, pois muitos estudantes fizeram a culminação do curso em literatura moçambicana. Aliado a isso, as universidades portuguesas e, principalmente, as brasileiras, reforçou, têm vindo a consolidar a promoção das obras de escritores moçambicanos.

De acordo com Gilberto Matusse, os graduados da UP-Maputo e, sobretudo, da UEM são os que mais contribuem para o repertório de estudos sobre literatura moçambicana. Entretanto, a escassez de estudos sobre literatura, no país, deve-se ao facto de as pessoas, em geral, não lerem obras literárias. Paralelamente, o crítico sublinhou que a maior parte dos estudantes produzem estudos sobre literatura moçambicana porque são obrigados, quer dizer, objectivando a obtenção do nível académico. Logo, o que se deve fazer é desenvolver projectos que coloquem as pessoas a ler, porque, assim, as inquietações resultantes da leitura podem proporcionar ensaios.

Se no princípio a maior parte dos estudos sobre literatura moçambicana se dedicava a questões genéricas, como identidade e periodizações, para Matusse, agora começa a haver estudos sobre autores específicos. E o professor universitário deu exemplo de “Geração XXI”, de Lucílio Manjate.

Outro registo captado por Matusse tem a ver com o entendimento de que a literatura deve ter o compromisso com o real, com a abordagem à representatividade do espaço social e à configuração da imagem da mulher.

Entre os autores mais estudados no país, Matusse mencionou, tendo em conta a lista da Cátedra de Português, Mia Couto, Paulina Chiziane, José Craveirinha, Ungulani ba ka Khosa, Luís Bernardo Honwana e Aldino Muianga.

A concluir, Gilberto Matusse também disse que a crítica literária em Moçambique é deficitária e que a publicação de um estudo sobre a história da literatura moçambicana seria oportuna, porque funcionaria como um guia para os professores e estudantes de literatura moçambicana.

Quanto à segunda parte do simpósio, teve como principais protagonistas três escritores, nomeadamente, Mélio Tinga, Virgília Ferrão e Eduardo Quive. Na mesa redonda “A oficina da língua: processos e possibilidades”, os autores mencionaram alguns aspectos decisivos na produção literária.

O laureado escritor na quarta edição do Prémio INCM/Eugénio Lisboa, Mélio Tinga, autor de “Névoa na sala”, “Marizza” ou “A engenharia da morte”, revelou o interesse em garantir, durante a escrita, uma relação entre a sua intuição criativa e o contexto. Para o escritor, que recentemente publicou um livro em Portugal, “Arder no gelo”, a língua, a língua portuguesa em particular, tanto é uma ponte para apreender determinadas realidades como também para gerar realidades sugeridas.

A condizer com Tinga, Eduardo Quive acrescentou que o som e o ritmo também são elementos que o ajudam a escrever. Em muitos casos, disse, a língua, como instrumento de trabalho, se conecta com uma memória de infância, na qual as histórias lhe eram contadas pela avó que não falava português, língua materna do escritor, mas changana. A imagem da avó, de forma categórica, sustenta a preocupação do autor de “Para onde foram os vivos” por temas ligados à mulher, e o livro “Mutiladas”, resultado da participação do escritor numa residência literária em Lisboa, há três anos, comprova tal constatação.

No caso de Virgília Ferrão, a autora de “Os nossos feitiços”, vencedora do Prémio Literário TDM 2019, e que também organiza antologias de contos com autores africanos, o espaço urbano revela-se inspirador. Por isso mesmo, as suas personagens não deixam de personificar hábitos e costumes de uma classe média ou alta com uma percepção mais actual sobre as coisas. Ainda assim, confessou a escritora, questões como espiritualidade e “miscigenação” linguística, sobretudo com a língua inglesa, não lhe são indiferentes.

Numa sessão concorrida, com intervenções presenciais e virtuais, via Zoom Meeting, Virgília Ferrão, Mélio Tinga e Eduardo Quive concordam que, num contexto em que os estudos literários ainda são deficitários, segundo disse o professor universitário Gilberto Matusse, serem criticados e/ou serem editados no estrangeiro tem sido importante porque os escritores também se constroem com a opinião dos outros: editores, ensaístas ou mesmo leitores comuns.

 

A SESSÃO DE ABERTURA   

O simpósio “A Língua Portuguesa de Moçambique nos Estudos Linguísticos e Literários” foi declarado aberto pelo director da Faculdade de Letras e Ciências Socias (FLCS) da UEM. No seu discurso, Samuel Quive disse que a língua portuguesa, na FLCS, é um factor de ensino e de formação: “Como parte da UEM, queremos manifestar a nossa satisfação sobre a celebração desta data [Dia Mundial da Língua Portuguesa]. Que o dia sirva para os estudantes entenderem o que, depois de uma formação em língua portuguesa, podem fazer. Usem a língua portuguesa para tudo e nunca esqueçam que a nossa cultura se pode manifestar com esta língua. Que o simpósio seja uma contribuição enorme para as pesquisas”, sugeriu aos estudantes de vários cursos que lotaram o Anfiteatro 1502.

De seguida, interveio o embaixador de Portugal em Moçambique. António Costa Moura lembrou que a proximidade linguística favorece a aproximação entre os países. “É o que acontece entre Moçambique e Portugal”.

Igualmente, o embaixador de Portugal em Moçambique lembrou que o português é uma das línguas mundiais de maior peso, em parte, graças ao Brasil e aos estados africanos. Frisou António Costa Moura, ao referir-se à relevância do Dia Mundial da Língua Portuguesa: “Português é língua franca, usada na diplomacia e no comércio internacional”, acrescentou ainda, “e com uma das maiores taxas de crescimento”.  

Por ser um património comum, que todos foram construindo, dispor do português, língua de unidade nacional e de dimensão internacional, consolida a identidade dos moçambicanos, que a escolheram por iniciativa própria como língua oficial. Portanto, “A comunidade falante tem responsabilidades na sua preservação e divulgação”. Conforme se realçou durante o simpósio, a arte literária cumpre um papel muito importante nesse processo.

A Associação Kulemba vai realizar, no próximo dia 22, na Cidade da Beira, uma gala beneficente.  A inicitiva enquadra-se na celebração dos 10 anos de existência daquela entidade. 

Segundo a organização, com a gala que deverá juntar autoridades governamentais, artistas, filantropos e empresários, a Associação Kulemba pretende, entre outros objectivos, angariar fundos para patrocinar cursos profissionalizantes para as raparigas que se destacaram nos concursos literários promovidos pela agremiação e adquirir livros para apetrechamento da biblioteca da Escola Básica do Aeroporto, na Cidade da Beira.

Assim, o evento terá três momentos distintos, designadamente, apresentação da Kulemba e das suas conquistas ao longo de uma década, a distinção dos seus fiéis patrocinadores e um leilão de obras de artes plásticas.

O leilão, adianta um comunicado de imprensa, conta com o apoio dos artistas Naguib, Silva Dunduro, Walter Zand e Alexandre Dunduro, que cederam as suas obras, devendo o valor das vendas reverter-se a favor das causas da Associação Kulemba.

A Associação Kulemba foi fundada em 2015, com o objectivo de promover essencialmente a literatura em ascensão, bem como desenvolver a produção literária no seio da comunidade infanto-juvenil. 

Em Maio de 2024, a agremiação foi distinguida, pelo Governo da Província de Sofala, como a melhor instituição literária local.

Actualmente, a Associação Kulemba encabeça algumas das mais importantes iniciativas literárias do país, designadamente, o Prémio Literário Mia Couto, o Festival do Livro Infanto-Juvenil (FLIK), o Prémio Nacional de Literatura Infanto-Juvenil, a Revista Soletras e a Feira do Livro da Beira (FLIB).

 

O concerto internacional de música coral proporcionou um verdadeiro espetáculo, neste sábado, na arena 3D, na Katembe. O grupo coral moçambicano e sul africano cantou e deixou o público a vibrar.          

Os portões abriram pouco antes das 13 horas deste sábado e várias pessoas entraram na arena 3D na Katembe.

Enquanto a plateia ainda se aglomerava, nos bastidores o coral registava os primeiros momentos em fotografias.  Já com tudo pronto, arrancou o espetáculo da música gospel Moçambique e África do Sul. 

O Presidente da Associação Mosa International Coral, (MOSA) Henrique Cossa, subiu ao palco para partilhar o projecto. 

“Eu conheci o prestigiado maestro sul africano há cerca de 10 anos.Por meio deste senhor tive o privilégio de conhecer o doutor Obreykhosa,meu irmão mais novo, meu irmão da África do Sul, cuja experiência e dedicação à música coral foram fundamentais para estruturar este projeto. Desde os primeiros passos, contamos com o apoio generoso de vários amigos que acreditaram na ideia e a fortaleceram com o seu entusiasmo. Mais tarde, partilhei o projeto com os meus amigos Daniel David e Carlos dos Santos, que prontamente aceitaram integrar esta jornada e hoje desempenham as funções de administradores do Moça, com muita dedicação”, explicou Henrique Cossa, Presidente do Conselho de Administração da Associação MOSA. 

Para o Maestro Sul Africano, o concerto MOSA marca uma verdadeira expressão artística de Moçambique e África do Sul. Acreditamos, firmemente, que este grupo coral, composto por talentosos coristas da África do Sul e de Moçambique,  tem potencial para atingir o alto nível no cenário da música coral internacional.  A música clássica, como Henrique Cossa disse”. 

Os primeiros passos do Mosa foram também elogiados pelo Administrador delegado do Standard Bank, Bernardo Aparicio. “Hoje não celebramos apenas o início de uma nova iniciativa cultural, celebramos o encontro de vozes, de histórias e de duas nações. Celebramos o talento que vive nos nossos bairros, nas nossas comunidades, nas escolas e nos corações dos jovens de Moçambique e da África do Sul, disse.                 

A primeira edição do concerto internacional da música coral começou com a actuação da maestrina Helena Rosa. Com a  força do seu soprano, a maestrina levantou a voz na Arena 3D, na Katembe, para  anunciar o início de uma tarde memorável.

Depois de Helena Rosa, seguiu-se Beldumar Phaia que exibiu a vivacidade do seu tenor.

O palco começava a aquecer e bastou a soprano de Miranda e Beldumar Phaia aguentarem o momento.  Juntos interpretaram a música “Ave Maria” de Franz Schuber.

A banda Xilombo, os tenores Mulissa e Maxwell deram vida à música clássica. Num dos momentos mais esperados, os coristas moçambicanos e sul africanos subiram ao palco da arena 3D para realizar o espetáculo.

O maestro Sul Africano e a maestrina Helena Rosa subiram ao palco para conduzir a harmonia do grupo coral. Para aproximar-se mais do público, o grupo coral foi buscar a música gospel e através da dança animou ainda mais o evento. 

O público também cantou e dançou, este dividia-se em registar o momento para posteridade. O grupo coral que junta Moçambique cantou, dançou, cantou de novo e o público acompanhou.

Enfim, o grupo coral desceu do palco mas o público continuou a vibrar. 

Anualmente, a 5 de Maio, celebra-se o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Para a celebração da efeméride, neste ano, o Centro de Língua Portuguesa – Camões/UEM realiza, nesta segunda-feira, o simpósio “A Língua Portuguesa de Moçambique nos Estudos Linguísticos e Literários”.

A iniciar às 08h30, no Anfiteatro 1502 da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, no Campus Principal, Cidade Maputo, o simpósio pretende criar um espaço de reflexão sobre o papel da língua portuguesa nos estudos linguísticos e literários, na produção científica e na literatura contemporânea de Moçambique.

Ao promover a análise e a discussão sobre as particularidades do português falado e escrito no país, o evento pretende fomentar o intercâmbio de ideias entre especialistas, escritores e o público interessado, contribuindo para a valorização e compreensão da diversidade linguística de Moçambique e da sua literatura.

Assim, o evento terá início com duas conferências centrais, que estabelecerão o enquadramento teórico e crítico para as discussões subsequentes.

A primeira conferência, “50 anos de pesquisa sobre o português de Moçambique (1975-2024)”, proferida pela Professora Catedrática Perpétua Gonçalves, abordará a evolução dos estudos linguísticos, analisando desafios e dinâmicas da pesquisa sobre o português de Moçambique.

Já a segunda conferência, “50 anos de estudos sobre Literatura Moçambicana: um olhar panorâmico”, a cargo do crítico literário e professor universitário Gilberto Matusse, centrar-se-á nos estudos literários, explorando a trajectória da crítica literária e da literatura moçambicana e o seu desenvolvimento ao longo dos últimos anos.

Depois das conferências iniciais, realizar-se-á a mesa redonda intitulada “A oficina da língua: processos e possibilidades”, que contará com a participação dos escritores Mélio Tinga, Virgília Ferrão e Eduardo Quive, com a moderação do crítico literário José dos Remédios.

Segundo a organização, “Espera-se que esta mesa-redonda promova um espaço de diálogo e de reflexão sobre os processos criativos e as múltiplas possibilidades que a língua portuguesa oferece à construção do texto literário no contexto moçambicano. Os escritores serão convidados a partilhar as suas experiências na construção do texto literário, explorando questões como a influência das línguas bantu na escrita literária, a inovação estilística e a identidade cultural expressa através da língua portuguesa”.

Ainda de acordo com a organização do simpósio, a sessão será uma oportunidade para o público compreender os desafios e as potencialidades do uso da língua portuguesa na literatura moçambicana contemporânea, destacando a sua diversidade e o seu impacto no panorama literário dos PALOP e da CPLP.

A realização da mesa-redonda com escritores insere-se na valorização da língua portuguesa como veículo de expressão e criação literária, bem como na promoção do debate académico e cultural.

Com a iniciativa, refere uma nota conceptual da organização, pretende-se não apenas celebrar a riqueza da literatura moçambicana, mas também inspirar novas gerações de escritores e leitores a explorar e expandir os horizontes da escrita em língua portuguesa.

O simpósio “A Língua Portuguesa de Moçambique nos Estudos Linguísticos e Literários” vai realizar-se entre as 8h30 e as 12h.

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