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A cidade de Maputo acolhe a primeira edição do Festival Jazz Ítalo-Moçambicano. Uma iniciativa musical que combina espetáculos musicais e espaços de diálogo intercultural, reunindo artistas moçambicanos e italianos num ambiente de celebração e partilha cultural.

O festival abre a programação cultural MOZITA50, organizada pela Embaixada de Itália em Maputo para celebrar os 50 anos do início das relações diplomáticas entre Itália e Moçambique. Trata-se de uma série de eventos destinada a valorizar a aproximação entre as comunidades e a troca artística entre os dois países.

O festival assinala os 50 anos de cooperação entre Moçambique e Itália e é promovido pela Embaixada de Itália, em parceria com a Fundação Moreira Chonguiça, com direcção artística do músico italiano Enzo Favata e sob a direcção executiva do músico e produtor Moreira Chonguiça.

O evento contará com artistas italianos como: Enzo Favata, Roberto Ottaviano, Lorenzo Simoni, o vibrafonista e compositor Pasquale Mirra, os pianistas Fabio Giachino e Vittorio Esposito, que actuarão em colaboração com nomes sonantes do jazz moçambicano como o baterista Stélio Mondlane, o pianista Lívio Monjane, o baixista Albano Gove, o guitarrista Roberto Chitsondzo Júnior, o saxofonista Mahu Mucamisa, o trompetista Inácio Pascoal que constituem a banda “Fearless Souls”, o saxofonista Timóteo Cuche, o guitarrista Dudú Stalini, o baixista Realdo Salato, o pianista Nicolau Cauaneque, o baterista Cremildo Chitará que compõem o “Kuche Quintet” e  Moreira Chonguiça.

Durante quatro dias, o festival ocupará diversos espaços emblemáticos da cidade de Maputo como é o caso da Catedral Nossa Senhora da Conceição, o Estúdio Auditório da Rádio Moçambique, que também celebra o seu 50º aniversário a 3 de Outubro de 2025, e o Parque dos Cronistas (mais conhecido por Jardim da Sommerschield), com uma programação diversificada que inclui concertos, jam sessions, oficinas mecânicas e experiências musicais imersivas.

Além das actuações, o Festival promoverá workshops sobre improvisação, direcção criativa e outros temas ligados ao jazz contemporâneo. Estas formações serão conduzidas por músicos italianos e destinam-se a estudantes e músicos locais, no Conservatório de Música e no Parque dos Cronistas.

O poeta e ensaísta Luís Cezerilo é um dos candidatos às próximas eleições na Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO). No dia 26 deste mês, os membros da agremiação vão eleger o novo Secretário-Geral da AEMO, que deverá ter a responsabilidade de liderar os destinos dos escribas nos próximos anos. Por isso mesmo, Luís Cezerilo vai proceder, esta segunda-feira, a partir das 16 horas, no Hotel Afrin, na Cidade de Maputo, ao lançamento oficial da sua campanha eleitoral. 

Sob o lema “Unir vozes, fortalecer a escrita moçambicana”, a campanha de Luís Cezerilo será lançada focada na representação de um compromisso firme com a valorização da literatura nacional, a inclusão de novas vozes, a internacionalização da produção literária moçambicana e o reforço da profissionalização da AEMO enquanto instituição cultural de referência.

Nesta segunda-feira, o acto público contará com intervenções especiais, momentos culturais, apresentação das principais linhas do manifesto eleitoral e espaço para interacção com os presentes. Pelo que os escritores, académicos, artistas, membros da sociedade civil e o público em geral são convidados a participarem no evento. 

 

Em “Guardião da Natureza-Educar para ser”, Tchalata apresenta obras de pinturas que têm como inspiração a biodiversidade e as ameaças humanas às espécies do Mar, Fauna e Flora.

“Guardião da Natureza-Educar para ser” é a biodiversidade “pintada”.

Tchalata está preocupado com a ameaça do homem às espécies do Mar, Fauna e Flora.O pincel do artista também pretende  estimular o ser humano a repensar suas actitudes sobre a natureza.

“ Nós temos de ser observadores e dizer não ao lixo, temos que perceber que o plástico nocivo que dura mais de 400 anos no ambiente se fragmenta e polui o mar, os peixes comem e termina nos nossos organismos”, defende o artista

A luta de Tchalata é melhorar a relação homem-natureza, muito conturbada sobretudo com a crescente conversa sobre as alterações climáticas.

O artista procura ainda sensibilizar as crianças a valorizar e preservar o meio ambiente e recorda o governo do seu papel de promotor das artes.

“Não podemos ser só assistentes, temos que agir e lutar, usar o nosso escudo para defender esta riqueza natural que nós temos”, declarou.

O artista quer que a exposição saia das galerias, para escolas, comunidades próximas a parques e reservas, para melhor difundir a mensagem de cuidados  a ter com o planeta e com os animais, sobretudo as espécies ameaçadas de extinção.

“Guardião da Natureza-Educar para ser” é o título da sétima exposição individual de Tchalata, nome oficial  de Aniceto Leonardo Banze.

BIOGRAFIA 

Aniceto Leonardo Banze, moçambicano, nascido em Maputo a 7 de junho de 1981. É licenciado em Educação de Infância com Habilitação em Gestão e Administração de Instituições de Desenvolvimento da primeira Infância pela Universidade Pedagógica, o que lhe permite apoiar crianças no desenvolvimento das suas capacidades de aprendizagem, durante um período importante do seu crescimento social e emocional.

Procura ainda sensibilizar as crianças a valorizar e preservar o meio ambiente, estimulando a sua criatividade, ao transformar materiais recicláveis em obras de arte. Após tirar o curso básico e médio em Artes Gráficas na Escola Nacional de Arte Visuais, frequentou também várias acções de formação artísticas-profissionais dentro e fora do país. É membro fundador da Oficina Pedagógica da Universidade Pedagógica de Maputo Moçambique em 2008.

Proprietário e gestor da Escola Comunitária KaTembe, dedicada ao ensino pré-primário desde 2019.

Nesta quinta-feira, às 17h00, será lançado o livro “A Última Oração do Judas”, de Sakharari, no Camões – Centro Cultural Português em Maputo.

A ser apresentado pelo docente universitário Dionísio Bahule, conta com ilustrações do artista plástico Ernesto Polá e prefácio do professor Alberto Mathe.

Para Mathe, “A Última Oração do Judas”, de Sakharari, é um livro no qual “somos atraídos por um espaço textual que se desdobra em múltiplas camadas de significado. Este livro vai além de uma simples colectânea de poemas; ele se apresenta como uma arena onde a linguagem luta contra suas próprias limitações. A última confissão de Judas nunca é verdadeiramente ouvida, manifestando-se como um grito mudo, simbolizando a impossibilidade de comunicar plenamente a experiência humana. Nesse sentido, Judas deixa de ser apenas uma figura histórica e se torna um símbolo que desarticula as estruturas tradicionais de pensamento sobre o bem e o mal. O poeta convida o leitor a mergulhar em um jogo de palavras que se desenrola nas margens do silêncio, onde o que não é dito carrega um peso tão significativo quanto o que é dito. É o que se pode constatar na primeira secção do livro, intitulada “Queixumes e Labilidades do Judas”, na qual somos apresentados a um duplo movimento de desconstrução e recriação das figuras míticas e narrativas históricas. Nos poemas “Oração do Judas (I)” e “Oração do Judas (II)” reinventa-se o mito bíblico, deslocando-o para uma esfera colectiva e cosmológica, onde o sujeito poético busca tanto denunciar quanto reconstituir a experiência da traição e da redenção”.

Sobre o autor

Sakharari, pseudónimo de Eliseu Armando, nasceu em Maúa, Província de Niassa. A sua vida tem sido marcada por guerras e busca incessante pela paz interior, ou medo de novas guerras. É membro fundador do CEPAN – Clube de Escritores, Poetas e Amigos de Niassa. Faz parte da geração fundadora do Jornal Bioteca e Programa Artes e Reflexões, duas plataformas de difusão e lançamento de novos talentos na Província de Niassa. 

Sakharari participou na antologia poética “Joia-Niassa – Metáforas do Ventre”, (Papiro Editora, 2008).

O escritor e artista plástico Adelino Timóteo vai inaugurar, quinta-feira, a partir das 18 horas, na Casa do Artista, na Cidade da Beira, a sua nova individual de pintura, “As Meninas da Rua 6 e outras”. No mesmo evento, o autor também vai lançar o seu mais recente livro: “Regresso ao Sagrado Macurungo”

Há 30 anos, Adelino Timóteo iniciou o seu percurso artístico. Como poeta e escritor, o artista publicou vários livros. Entre os quais, “Viagem à Grécia através da Ilha de Moçambique” (poesia), “Corpo de Cleópatra” (poesia), “A virgem de Babilónia” (romance), “Apocalipse dos predadores” (romance), “Cemitério dos pássaros” (romance) ou “Na aldeia dos crocodilos” (infanto-juvenil). 

Para assinalar os 30 anos de carreira artística, com efeito, Adelino Timóteo vai, nesta quinta-feira, inaugurar a sua mais recente exposição de pintura, intitulada “As Meninas da Rua 6 e outras”. 

A cerimónia de abertura da mostra está agendada para a Casa do Artista, na baixa da Cidade da Beira. No local, os apreciadores das artes terão a oportunidade de ver obras que, além do estético, atravessam a realidade moçambicana de forma transversal. Afinal, segundo o ensaísta e jornalista José dos Remédios, que assina o texto de apresentação da mostra, “Adelino Timóteo é um artista da sensibilidade, da observação que se mescla com a intuição experimental no território dos afectos”. E o ensaísta acrescenta: “o artista transforma o pó num recurso além do intencional. Ora configurando esperança ao lusco-fusco, ora hipnotizando qualquer coração que possa estar amargurado”.

“As Meninas da Rua 6 e outras” é a 19.ª exposição individual do autor, e reúne dez obras recentes, evocando memórias femininas, infância, resistência e beleza no quotidiano moçambicano. 

De acordo com o comunicado de imprensa, as telas, de grande expressividade visual e poética, recriam um universo sensível ancorado nas ruas do bairro onde o artista cresceu: Macurungo.

Adelino Timóteo, que já expôs na Áustria e em Espanha, é autor de uma vasta obra que transita entre as artes plásticas e a literatura, sendo reconhecido como uma das vozes mais activas da sua geração. Talvez, por isso, o artista vai celebrar os seus 30 anos de carreira artística lançando, na mesma cerimónia, na Casa do Artista, o seu mais recente livro, o 24.º da conta pessoal: “Regresso ao Sagrado Macurungo”. Trata-se de uma obra que complementa um exercício anterior, “Nós, os do Macurungo” (2013). 

Na nova obra, Adelino Timóteo retoma o fio narrativo das suas raízes, numa escrita que cruza memória, oralidade e devoção ao território emocional da infância.

Na Casa do Artista, o evento é aberto ao público e marcará um ponto alto na celebração da cultura moçambicana, homenageando a Cidade da Beira e o seu universo simbólico.

Por: M.P.Bonde

Ao
Flávio Atanásio Chongola

Visitou-me por instantes, Jaime Sabines,
no quarto escuro, a janela desvenda o imaginário, as metáforas alugam por instinto o
diâmetro da letra O;
miro as inúmeras possibilidades desta vogal sob o fascínio do papel cândido:
opacidade,
óvulo,
ondas,
ordem,
orelhudo, olhares,
orfão,
onomatopeia,
orgulho,
obreiro,
orgasmo;

redijo cada letra com a perícia de uma coruja no cimo do galho seco; quieta, na
orfandade das manhãs, as folhas amarelecidas pelos tempo escondem o temor com
raios de luz espraiando no biombo.

Vem-me isto a propósito desta frase visceral:

“A poesia ocorre como um acidente, um golpe, uma paixão, um crime; ocorre
diariamente, sozinho, quando o coração do homem começa a pensar na vida”, Jaime
Sabines

Quem escreve desencanta tormentos, galopa sob a égide de um adeus inexistente na
atmosfera da paixão; Quando se inscreve nos píncaros do silêncio, a métrica flui
inquieta; advêm das entranhas o valor do acaso?

Dá-me gozo, como nestes últimos dias, percorrer o hemisfério condenado ao fracasso,
vigiar ainda que de permeio a metade do sono; há para lá das lamúrias e da podridão
estampada nos nossos olhos, a ingenuidade de um bebê que aprende com a língua o
sabor dos objectos;
este desabrochar sul-sul, este redescubrir de forças castradas ao longo do tempo, cria-
me câimbras na alvorada das esporas; é um mergulhar sobre as almas apedrejadas no
vale das lamentações;

manejar as palavras é um ofício, é encontrar a liberdade em meio aos caos, sangrar
pelos poros o brilho escondido da alma;

Como disse o poeta:

“Sempre que responder a uma experiência humana, será poesia. O poema tem apenas
uma medida, sua autenticidade. Estou chocado tanto com os poetas que escrevem
elegias para Che Guevara sentado à mesa de um café quanto com aqueles que falam
sobre divindade enquanto chutam um cachorro. Você não tem o direito de falar sobre o
que não experimentou; tudo o que for feito fora da experiência emocional será uma
construção verbal, um jogo divertido, mas não poesia”. Sabines

Pois é caro Sabines,

a experiência humana transmite-nos a realidade, ainda que de forma dolorosa, crava-
nos à carne os espinhos do medo, ódio e angústia e toda horda inquietante do
hemisfério;

a poesia é nada; este objecto circular, ingénuo, matreiro, fundamental na construção do
sonho;

E a metáfora?

Meta fora a hipotenusa da angústia! Abrande o entusiasmo na lonjura da loucura; um
ciclo é sempre um ciclo;
como se carrega um fardo?
quantas pétalas adornam o sabor da xícara?
a morte é sempre um emarranhado de acontecimentos inesperados, bate-nos a porta
com o bolor do silêncio na boca;

 

O poeta e escritor Nelson Lineu vai lançar, entre às 8h e às 11h desta segunda-feira, na Escola Portuguesa de Moçambique, na Cidade de Maputo, o seu primeiro livro infanto-juvenil. Intitulado Quem ensinou a avó a contar estórias, o conto é dedicado ao seu sobrinho

Um dia desses, Nelson Lineu teve a felicidade de se tornar tio de Dilan. Longe de imaginar o impacto  que o primogénito da irmã gémea teria na sua carreira literária, o escritor aceitou o desafio da mãe: escrever um poema dedicado ao sobrinho. 

Com graça, o poema ficou pronto. No entanto, sem demora, o autor perdeu-o. Ainda assim, como é de palavras que vive o escritor, Nelson Lineu mudou de rumo. Ao invés de um poema, decidiu, recomposto da perda, escrever um conto, sempre dedicado ao pequeno Dilan. Para o efeito, recuou para sua infância, em Quelimane, de modo a recuperar a fascinante relação da irmã gémea com as avós materna e paterna. 

Assim, a protagonista do conto infanto-juvenil é Olga, nome da irmã gémea do autor, que, no plano fictício construído em 2020, traduz a incompreensão de uma personagem que sofre pelo facto de a sua avó Madalena não saber contar histórias.

Ora, apesar do real interesse em dedicar o conto ao sobrinho, o processo de escrita não foi fácil.  Por isso mesmo, a última versão do texto só ficou pronta em 2023, pois, pelo meio, o autor abandonou o enredo para se dedicar a aprender a escrever com maior rigor possível para as crianças. Em parte, porque o desfecho da história não era convincente, segundo lhe disse a editora Teresa Noronha. 

Nesse processo de aprendizagem, Nelson Lineu, que tem o hábito de ler sobre guião/cinema, encontrou uma luz que o clarificou sobre os estatutos das personagens, o conflito da história e o desfecho. Paralelamente a isso, uma imagem da filha, publicada numa rede social a 7 de Abril de 2023, com lenço e uma enxada na cabeça, deu-lhe o que faltava para que o conto fosse editado em livro. É algo inefável. Mas o escritor “jura” que a imagem foi determinante para colorir a protagonista e o enredo. 

Para o escritor, Quem ensinou a avó a contar estórias é uma viagem para a infância, para vários lugares que não são apenas físicos. É uma viagem para a relação com os outros e para a compreensão da importância das histórias. Afinal, garante, “contar histórias é uma forma de existir”.

Com Quem ensinou a avó a contar estórias, Nelson Lineu não pretende (apenas) transmitir valores morais. Melhor, o escritor espera veicular as várias possibilidades de interpretação das narrativas. Aliás, a experiência, para o autor, foi tão agradável que promete publicar mais infanto-juvenis e produzir outros conteúdos para as crianças. Por exemplo, desenhos animados e séries. 

Quem ensinou a avó a contar estórias é um livro ilustrado por Ídasse. Nesta segunda-feira, na Escola Portuguesa de Moçambique, na Cidade de Maputo, será lançado no intervalo das 8h e às 12h, num evento que inclui  dramatização do texto pelo actor Fernando Macamo. Nas próximas semanas, o livro também será apresentado nas cidades da Beira, Chimoio, Quelimane e Nampula.

O escritor Mauro Brito vai apresentar o livro editado pela Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa.  

 

SOBRE O AUTOR 

Nelson Lineu é licenciado em Filosofia pela Universidade Eduardo Mondlane. É professor de Filosofia e de História da Arte na Escola Nacional de Artes Visuais. É membro efectivo da Associação dos Escritores Moçambicanos e membro fundador do Movimento Literário Kuphaluxa, onde foi Director-Geral da Revista Literatas (Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona). 

Nelson Lineu foi co-roteirista na telenovela moçambicana “Maida” e na série moçambicana “A Infiltrada”. 

No cenário literário publicou o conjunto de crónicas “O Passo certo no caminho errado” (2021), “Asas da água” (2019) e “Cada um em mim” (2014). 

Na qualidade de copywriter, passou por Anima – Estúdio Criativo e Grow, Agência de Comunicação e Publicidade. 

Nelson Lineu também apresentou e produziu o programa radiofónico literário “Da Palavra ao Livro”.  

 

Produtores de eventos e músicos consideram que é preciso educar a sociedade sobre os conteúdos infantis no país, pois o problema não se limita apenas aos espectáculos. Consideram ainda que as leis devem ter em conta a diversidade cultural nacional e não apenas baseadas no que acontece nas cidades. 

A Procuradoria-Geral da República, na Cidade de Maputo, reacendeu o debate sobre a produção e realização dos eventos infantis no país. Numa nota dirigida ao Instituto Nacional das Indústrias Culturais e Criativas, INIC, a Procuradoria alerta para o perigo que os conteúdos inadequados podem representar para as crianças.

No mesmo documento adverte, por exemplo, que as músicas devem evitar expressões vulgares, ofensivas ou inapropriadas para os menores de idade e que as temáticas devem ter em conta os conteúdos positivos, como amizade, diversão, aventuras e aprendizado.  

Acima de tudo, devem ser conteúdos que promovem a inclusão, diversidade e respeito pela dignidade da pessoa humana. 

Produtora de eventos infantis, há 14 anos, Lizha James não vê nenhum problema nas medidas anunciadas pela Procuradoria-Geral da República, até porque elas não constituem novidade.

“Nós temos a INIC a quem nós respondemos. É a nossa instituição, que nós como promotores e como fazedores da cultura respondemos. Tudo já foi acautelado tivemos as autorizações, várias reuniões, entretanto, esta situação nós recebemos pela internet. Nós sabemos muito bem, que a nossa procuradoria   é uma instituição muito séria e não estaria a intimar os promotores através da internet. Iria direcionar a intimação a cada um de nós”, disse a artista e produtora de eventos infantis. 

Lizha James alerta que é preciso haver mudanças na produção de conteúdos infantis para salvaguardar os direitos das crianças.

“Sobre a música é uma sinergia que nós temos que fazer com o Ministério da Cultura, com os promotores, os investidores, os empresários, para que possamos criar, no âmbito social, porque as crianças não podem trabalhar (…) Entretanto, é uma sinergia que tem que haver para que possamos criar músicos que se vão divertir no palco e não para receber cachês  (…) e é uma sinergia que tem que ser criada no âmbito social para que possamos criar novos músicos infantis”, afirmou Lizha James. 

  José Mucavel, por sua vez, é veemente ao afirmar que não existem eventos infantis no país. “Os eventos todos que estão a ser feitos são empurrados para a infância, mas não são. Se existem, são aqueles do colono, porque continuamos ainda colonizados nessas área”. 

Todos os patinhos sabem bem nadar, cabeça para baixo e rabinho para o ar”, cantou o músico, recordando algumas canções infantis deixadas pelos colonos, acrescentando que é um direito da criança continuar a cantar essas canções de há cinquenta anos, assim como aprender a falar a sua língua.  

Voz autorizada, o autor do “Baladas para as minhas filhas” entende que o problema dos conteúdos infantis no país só poderá ser resolvido com a criação de leis abrangentes.

“Eu até não desgosto da lei,  porque a criança não tem que andar aí a aprender coreografias adultas antes do tempo (…) Em termos de coreografia mesmo, se andarem por aí a ver, como é que ela aprende a dançar, porque, se calhar, alguém viu e não gostou, porque a criança fazia gestos obscenos, e toma com a lei. Eu estou a pedir à Procuradoria da República a descer por todas as etnias deste país   e ver como é que a classe africana educa uma criança”, recomendou Mucavele.  

Para o produtor e crítico musical, DJ Beatkeeper, o problema dos conteúdos infantis vai além do que as crianças consomem nos espectáculos, mas sim é estrutural.

“É um assunto que preocupa toda a sociedade realmente, não só na área do entretenimento que é o espetáculo, mas algumas televisões não têm pautado por este rigor em relação aos horários que passam certas programações. Notamos também nos conteúdos musicais e também nos livros escolares (…) Então, o problema de conteúdo para as crianças é transversal, não diz respeito só aos palcos”, explicou o produtor

Sobre o documento da PGR, Beatkeeper anota que o mesmo tem muitas lacunas e não é esclarecedor.

“Entendo que não é trabalho da Procuradoria legislar. Então, se ela cita um conjunto de regras para avaliar se conteúdo é para as crianças ou não e, no mesmo trecho, não indica qual é a lei que se usou, os promotores de eventos não têm recursos sobre aonde ir  consultar para procurar mais subsídio para saber se está em conformidade com a lei ou não. Não é a partir de uma intimação que a Procuradoria vai indicar quais são os procedimentos de organização de espetáculos, mas deve citar a lei  caso exista, do contrário não é numa intimação da Procuradoria que deve aparecer isso”, explicou.  

Para o  produtor musical, a Procuradoria-geral da República deve abrir-se a novas opiniões.

“Não havendo clareza, de ponto de vista da lei, como identificar se o conteúdo é infantil ou não, e não havendo mecanismo estabelecidos anteriormente de como os produtores de eventos podem obter um selo que diz para que faixa-etária é a sua produção artística, acho que é prematuro correr para sancionar as pessoas”, acrescentou Beatkeeper. 

Já o DJ Dilson, também produtor de eventos, diz que a comunicação da PGR peca por ser tardia e, sob seu ponto de vista, criou vários embaraços. “Mas podia ter sido lançada muito antes, como forma de proteger, não só a criança, como também os promotores, pois há quem já fez investimentos e já pagou os 50 ou 100% das estruturas, e tudo agora vai por água abaixo, por não se querer fazer frente a procuradoria”, disse 

Ainda assim entende que as medidas da PGR são oportunas e poderão proteger as crianças de conteúdos inadequados. “É uma iniciativa boa porque visa proteger as crianças  e dar oportunidade às crianças e aos projectos infantis e exaltar aquilo que é festa para criança”. 

Em exclusivo ao “O País”, a ministra da Educação e Cultura, também reagiu ao documento da PGR e considera que veio num momento oportuno.

“É um trabalho conjunto entre nós da cultura e a Procuradoria da República. É uma equipa conjunta e produziu-se aquele documento. O que nós vamos fazer agora é resumir os pontos-chave, para aqueles que efectivamente temos que observar em relação às nossas crianças, para trabalhar com todos os promotores da arte e cultura, para observarem [as normas previstas]. Estamos muito felizes, porque há actividades que envolviam as nossas crianças e nós até ficávamos envergonhados, mas agora que está legislado todos vão saber que temos que respeitar a idade das nossas crianças   e deixarmos que elas cresçam”, disse a Ministra.  

Os intervenientes entendem que a sociedade deve melhor educar-se, de modo a transmitir bons valores às crianças.

Foi lançado, para as províncias de Maputo, Inhambane, Sofala e Cabo Delgado o concurso denominado “Design de Futuro: Herança e Criação”. 

Com as inscrições abertas até 21 de Junho, a iniciativa convida jovens moçambicanos, entre os 18 e 35 anos de idade, a explorarem a interseção entre tradição e inovação, com base em saberes e materiais locais.

O concurso está aberto a estudantes, autodidatas, recém-formados e jovens profissionais nas áreas de design, arquitetura, carpintaria, arte, artesanato, serralharia e outras disciplinas criativas relacionadas.

Através da iniciativa, a Criamoz, em parceria com a Mobi, loja de mobiliário e design baseada em Maputo, pretende estimular a criação de soluções inovador e sustentável, enraizadas na herança cultural moçambicana, e promover a inclusão de jovens criadores nos circuitos produtivos e culturais do país. 

O concurso contará com sessões de mentoria em parceria com a marca e carpintaria Piratas do Pau e culminará com a exposição dos projectos seleccionados durante a primeira semana de design a decorrer em Outubro deste ano.

As inscrições da iniciativa, financiada pelo Fundo Création África-Moçambique, da Embaixada de França em Moçambique, com o apoio do Centro Cultural Franco-Moçambicano, estão disponíveis online. 

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