Há escassez de água e falta de corrente eléctrica em Mahubo, município da Vila de Boane, Província de Maputo. O problema afecta cerca de sete mil famílias, parte das quais saíram, hoje, à rua para exigir aqueles serviços. Os moradores chegaram a colocar barricadas na estrada e a polícia interveio para repor a ordem.
A cerca de 46 quilómetros da Cidade de Maputo, capital moçambicana, está Mahubo, um bairro do município da Vila de Boane. Por lá, há famílias aos prantos por conta da crise de água e falta de corrente eléctrica. “Choro por raiva. Choro por ver este assunto. Dói-me muito. Dói-me”, desabafa Amélia Chirindza, com lágrimas nos olhos.
É o choro de quem se sente deixado para trás pelos sucessivos governos municipais da Vila de Boane. “Estamos a pedir. Ajoelho-me para pedir que cuidem de nós em Mahubo. Que cuidem de nós”, suplica, e ela sabe muito bem do que precisa: “Peço, repetidamente, que perdoem. Que nos tragam água e energia. É só isso que pedimos”, sublinhou Amélia Chirindza.
Mas vamos por partes. Comecemos pela água. Os residentes de Jossias Tongogara, Mahubo, município da Vila de Boane, bebem água suja por falta de opções.
E porque não há muitas opções, a solução é descer até este charco de onde se tira a água para quase tudo.
“Aproveitamos essa água do charco para lavar a roupa, beber, cozinhar e tomar banho. É essa água que nos ajuda neste momento de crise”, contou Jorge Ibraimo, residente de Mahubo.
É a água do charco, turva e com lixo à mistura que ajuda todos: os mais velhos e os mais novos.
Com bebé nas costas, Atália desce ao charco, mais uma vez, para buscar o precioso líquido. Ela diz que se desloca até aquele local quatro vezes ao dia. “Preciso de muita água. É que uso para beber, lavar louça, cozinhar e muitas outras coisas. Às vezes, levamos a roupa no charco. Para consumi-la, usamos “certeza”, mas quando acaba, usamos a cinza para purificar a água. Entretanto, muitas vezes, bebemo-la assim mesmo”, narrou Atália, também residente de Mahubo.
E porque usam assim mesmo, os residente de Mahubo estão vulneráveis a muitas doenças.
“Há doenças que surgem. Eu que falo, estou doente. Contraí uma doença que desconheço. Desde que foi interrompido o fornecimento de água, é esta que bebemos. Agora, tenho tuberculose. Estou a tomar comprimidos cuja origem desconheço, por conta da tosse”, revelou Amélia Chirindza, moradora de Mahubo.
Até do céu, estes moradores buscam solução para o problema da água. “É para podermos captar a água da chuva, caso chova, porque não há água. Às vezes, ficamos duas semanas sem jorrar nas nossas torneiras. Temos, de facto, o problema da água. Mesmo agora, não temos água dentro das casas. Temos de procurar. Tudo isto está connosco aqui, em Mahubo. Não sabemos como fazer”, explicou Clementina Mathe, residente de Mahubo.
Segundo apurámos junto do Município da Vila de Boane, há crise do precioso líquido em Mahubo devido a uma avaria no sistema que abastece a zona, provocada pelas últimas chuvas, que inundaram a autarquia.
Aliada à questão da água, os moradores de Mahubo ressentem-se da falta de corrente eléctrica e foi isto que fez com que colocassem barricadas na estrada, exigindo o que consideram seus direitos.
Por quase quatro horas, esta estrada estava bloqueada. Os residentes de Mahubo estavam em manifestação, exigindo corrente eléctrica.
“O que estamos a pedir, é nosso direito. Não por nenhuma maldade. Então, vamos ajudar a Frelimo para que também possa ajudar-nos. Nós queremos energia e chega de promessas. Já estamos saturados. Queremos energia em Mahubo”, disse Gerson Mandlate, num tom revoltado.
Horácio José acrescenta o porquê de colocarem barricadas na estrada. “Nós fizemos isso para chamar a atenção do Governo para eles virem resolver a situação de energia. Chegaram polícias aqui e começaram a disparar e com cães. Eles levaram um dos jovens que estava connosco na marcha. Bateram o jovem e meteram-no no carro”.
Depois de deter, por algumas horas, o chamado cabecilha da manifestação, a Polícia removeu as barricadas da estrada e foi restabelecida a circulação normal de viaturas.
O jovem, ora detido, diz não entender o porquê daquela acção da Polícia.
“Nós estamos aqui (Mahubo) porque estamos a lutar pelos nossos direitos. Temos falta de energia e de água. Pedimos a quem é de direito e estamos sem resposta e hoje começamos a guerra pelos nossos direitos. Chegaram polícias dispararam. Pegaram-me. Rasgaram minha camisa e deixaram-me com escoriações no braço. Levaram-me até Mahubo 10 e voltei para casa”, descreveu Alfredo Muchanga, um dos manifestantes que tinha sido detido.
A crise de água e falta de corrente eléctrica em Mahubo estão a afectar cerca de sete mil famílias em Mahubo.
Contacto pelo “O País”, o município da Vila de Boane não quis dar entrevista, mas reconheceu que a reclamação dos residentes é legítima e que, nos próximos dias, poderá ter solução.