Iniciou, na última terça-feira, o mês sagrado do Ramadão, para os muçulmanos do mundo inteiro. Entretanto, desde ano passado em Moçambique e nalguns países do mundo, a pandemia da COVID-19 tem comprometido a celebração deste mês sagrado.
Com as medidas restritivas impostas para evitar a propagação da COVID-19, as mesquitas permanecem fechadas, sem receber nenhum fiel para as orações, a reunião conjunta para a quebra do jejum, à noite, também já não pode ser realizada, com um grande número de pessoas, o que põe à prova a fé dos fiéis muçulmanos.
Zubaida Momade e sua família são disso um exemplo e vivem há menos de 50 metros de uma mesquita e era lá onde passavam algum tempo durante o mês do Ramadão, mas, pelo segundo ano consecutivo, as coisas já não são iguais.
“Agora, as mesquitas estão fechadas e, infelizmente, precisamos de aceitar isso, mas também não devemos deixar de orar e de cumprir com o nosso jejum, este é momento de mostrarmos que estamos fortes na fé”, apontou a dona de casa.
É no chão de casa, cada um no seu tapete e sempre em direção ao norte que ela e sua família têm feito as cinco orações diárias.
Segundo Sheik Aminudin, Presidente do Conselho Islâmico de Moçambique, o Ramadão é o nono mês do calendário islâmico e faz parte dos três meses que carregam datas mais importantes da tradição e, mesmo com as restrições resultantes da pandemia, recomenda a readaptação dos fiéis.
“A pandemia afectou, para além das orações, as outras partes sociais, nas quais os crentes costumavam reunir-se para o iftar, onde eram bem-vindos todos os muçulmanos, os necessitados e isso criava um ambiente de convívio, mas ficou afectado, mas podemos inovar, aquelas refeições servidas colectivamente, podemos, agora, preparar em kits e distribuir para os necessitados”, instruiu o líder religioso.
Para o Sheik Aminudin, a situação torna-se mais grave para os refugiados de Cabo Delgado, que são, na sua maioria muçulmanos, e, neste momento, merecem toda atenção.
“Muitos muçulmanos foram afectados com estes ataques e vivem, agora, como refugiados, de certeza que mal podem viver este momento de Ramadão, portanto, sendo este mês um mês de solidariedade, todos os muçulmanos são chamados a olhar por estes irmãos e apoiar com qualquer coisa que seja”, apelou.
A aquisição das vestes características deste momento também ficou afectada pela pandemia. Amáno Rapouso é costureiro e conta que, antes da pandemia, era bastante procurado para costurar ou remendar as vestes islâmicas.
Apesar de tudo isso, neste momento de Ramadão, há quem tenta tirar algo bom da situação. Abdul Salam, estudante de Teologia islâmica, defende que as restrições impostas para a contenção da pandemia e o jejum (abstenção da comida, bebida e outros hábitos) formam um “casamento perfeito”, visto que, muitas vezes, é na rua onde os muçulmanos se deparam com situações que acabam por fazê-los quebrar o propósito deste período.
O mês do Ramadão tem duração de 29 ou 30 dias nos quais é marcado pelo jejum, observado entre o nascer e o pôr-do-sol. Durante o mês sagrado, o muçulmano precisa de evitar alguns outros hábitos a fim de elevar a sua espiritualidade e de se aproximar às graças divinas.