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COVID-19: ONU alerta para agravamento da fome no país e no mundo

Moçambique está entre os 27 países do mundo a caminho do que pode ser considerado a pior crise alimentar das últimas gerações, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Mundial de Alimentação (PMA). E a pandemia da COVID- 19 está a agravar a situação.

São 09h45 em Moçambique. No bairro Luís Cabral, a poucos quilómetros do centro da cidade de Maputo, quatro das sete crianças que vivem numa casa, com apenas um compartimento, visitadas pelo “O País” não sabem o que comer. Naquela residência falta um pouco de tudo.

Na família de Venâncio, biscateiro, desde a eclosão do novo Coronavírus que não há alimentação como antes. Aliás, muito antes da pandemia já se “passava mal” para ter o que comer. Em média havia duas refeições por dia, mas agora o jantar é a única refeição diária da família.

“Hoje, por exemplo, o meu marido não foi trabalhar e não sabemos o que comer. Só no final do dia irei à estrada para ver se o meu filho mais velho, que tem 10 anos, conseguiu vender alguma coisa. O dinheiro que conseguir vamos comprar um bocado de arroz ou farinha e algum caril”, contou a esposa de Venâncio.

Enquanto “O País” estava no local, o menino mais novo – pouco mais de um ano – dividia com os outros irmãos a pouca xima que havia. E a mãe, com o semblante triste, considerou que aquele “era um milagre, sobrar comida do dia anterior e seria a única refeição do dia até se conseguir algo para comer”.

A mulher contou que antes da pandemia, as crianças passavam mais tempo na escola e não se queixavam muito de fome como agora que todos em casa. “Dói ver os meus filhos a chorar e pedir comida” sem que “eu poder fazer nada. Às vezes tento disfarçar, finjo que não estou a perceber, mas há dias que não aguento e começo a chorar”.

Para esta família, além da redução de pequenos trabalhos remunerados, que garantiam a sobrevivência da família, a pandemia fez com reduzissem também as vendas numa pequena banca que também assegurava a sobrevivência. Por dia já se não consegue ganhar mais do que 30 meticais de lucro.

A pequena horta da família está quase morta, as panelas vazias e do lume aceso no dia anterior para confeccionar a única refeição só restam cinzas.

Zeferino Avijala trabalha como vendedor numa loja no centro da cidade de Maputo. Com a pandemia, o patrão reduziu o salário. O entrevistado contou que com o que ganha, agora, só chega para diariamente deixar apenas 100 meticais em casa, no sentido de a esposa alimentar os dois filhos. “Quando chego em casa às 19h00, as crianças choraram e eu não sei o que fazer. É complicado”, desabafou.

Ainda naquele bairro, Emília José vive o mesmo drama da família de Zeferino e Venâncio. Mulher de poucas palavras, Emília só lamentava – durante a entrevista – a situação a que está sujeita. Ela não sabe como alimentar o seu agrado de sete membros, dos quais cinco crianças.

Estas famílias disseram que não sabem por quanto tempo estarão nesta situação enquanto a COVID-19 persistir.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas, mais de 130 milhões de pessoas estão na iminência de passar fome em todo mundo até o final deste ano. Neste momento, 690 milhões já não têm o que comer. Em Mocambique, estima-se que 1.7 milhão de pessoas já passam fome.

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