Morreu o padre Fernão Magalhães Raúl, que concorreu nas últimas eleições em Nampula como cabeça-de-lista do MDM para o cargo de governador provincial. O corpo foi encontrado estatelado na sua residência, na sala, sem sinais de violência.
No bairro de Namutequeliua, na periferia da cidade de Nampula, é onde vivia o padre Fernão Magalhães Raúl. Vivia apenas com empregados, e a irmã mais nova, que vive nas proximidades, é que desconfiou que algo ia mal, quando, até por volta do meio-dia de sábado, não recebeu nenhum sinal do irmão.
“Estava a tentar ligar e o telefone estava desligado, mas ontem à noite [sexta-feira] havia saído, regressou e entrou. As portas estavam todas trancadas. Liguei para papá para trazer as chaves que era para poder abrir estas duas portas. Papá veio, abriu a porta e quando entramos na sala encontramos o corpo”, descreveu Anatércia Magalhães Raúl, irmã do malogrado.
O corpo estava estatelado na sala e sem sinais de violência. A secretária-geral do Movimento Democrático de Moçambique, visivelmente abalada com a notícia, preferiu deixar que sejam as autoridades a esclarecer as causas da morte.
“São situações subsequentes que a gente pode, depois, procurar saber. O importante era mesmo saber se aquilo que tinha caído como notícia era verdade ou não, se ele já não estava em vida. O resto vamos saber, há-de se ver, existem entidades próprias para procurar saber”, anotou Leonor Lopes, secretária-geral do Movimento Democrático de Moçambique que acorreu à casa do padre para acompanhar tudo de perto e confortar a família enlutada.
Os técnicos do Serviço Nacional de Investigação Criminal estiveram no local, na tarde de sábado, fizeram a peritagem e, por fim, removeram o corpo. Presume-se que a morte terá ocorrido na noite de sexta-feira, pois o cenário sugere que antes da morte esteve a assistir televisão.
O padre Fernão Magalhães Raúl desafiou a lei canónica da Igreja Católica que proíbe que os clérigos tenham militância política activa, e ele compreendia muito bem isso.
“A igreja tem uma missão, e a missão é a evangelização. Sendo esta mensagem central de difundir a mensagem de Cristo, de paz, de convivência pacífica, de solidariedade, de unidade, valores que a Igreja defende, é importante que a igreja observe, na sua relação com a comunidade política, o princípio da neutralidade, para que não esteja dividida”, disse à nossa reportagem em Agosto passado, no arranque da campanha eleitoral.
E mesmo assim, aceitou apresentar-se como candidato do Movimento Democrático de Moçambique para o cargo de governador da província de Nampula, nas eleições de 9 de Outubro. A Igreja Católica não gostou, e através de uma carta, ameaçou aplicar a sanção de perda do direito de direcção paroquial, mas, mesmo assim, o padre não retirou a candidatura.
“Há incompatibilidades ao olhar das pessoas e segundo aquelas que são as regras de neutralidade da própria Igreja, mas é uma questão de liberdade de escolha. Há uma escolha e a escolha é estar ao lado do povo, ajudar o povo a crescer na tomada de consciência de cidadania necessária para lutar junto para resolver os problemas que Moçambique tem e Nampula tem concretamente.”
Não conseguiu cumprir essa missão na política, mas, como padre, deixa muitas saudades.