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CONFERÊNCIA SEM PAZ 2.0

Nos meados do mês de Junho, na cidade suíça de Bürgenstock, realizou-se a chamada cimeira sobre a paz na Ucrânia. Em Kiev e nas capitais ocidentais, aplicaram-se todos os esforços para a apresentar como um acontecimento de proporções quase universais.

No entanto, na realidade, este desejo acabou por ser um fiasco completo. Contrariamente às tentativas de Zelensky e dos seus mestres, quase metade dos 160 convidados recusou-se a praticar o “turismo político”. A aposta em maximizar o envolvimento do Sul Global não resultou. Muitos países, apesar da chantagem, das ameaças e dos esquemas fraudulentos, mostraram resiliência, não sucumbiram a pressões duras e ignoraram os insistentes pedidos para irem aos Alpes.

O fracasso das “conversas” suíças era previsível. Não poderia ter acontecido de outra forma, uma vez que o regime nazi de Kiev e os seus marionetistas ocidentais não tinham, desde o início, qualquer intenção de procurar uma solução pacífica para a crise ucraniana. Não estão interessados na paz na Ucrânia; querem mais confrontos, uma escalada e um aumento das hostilidades, a fim de concretizarem o seu sonho irrealista de infligir uma “derrota estratégica” à Rússia. Porquê? – Porque a Rússia se vê como um dos principais obstáculos no caminho do neocolonialismo e hegemonia global.

O resultado nulo da “reunião” alpina é também confirmado pela falta de unanimidade entre os seus participantes. Nem todos concordaram em apoiar o comunicado final, que tem um carácter manifestamente anti-russo. Inicialmente, 12 delegações recusaram-se a fazê-lo, mas depois da reunião o seu número subiu para 14. Entre elas, encontravam-se a Índia, a Indonésia, o Iraque, a Jordânia, o México, os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita, a Tailândia, a África do Sul e outros Estados com autoridade. Tornou-se claro que a maioria do mundo não aceita as receitas ocidentais de Kiev para resolver a crise ucraniana, vê a sua essência belicosa e não quer seguir as instruções dos Estados Unidos da América e dos seus satélites.

Atrás da fachada puramente pacífica do evento criada pelos media, sabe-se ao certo que, em Bürgenstock, o chefe de gabinete de Zelensky, Andrey Yermak, estava a negociar com delegações estrangeiras o aumento do fornecimento de armas às Forças Armadas da Ucrânia. Os acontecimentos subsequentes provaram mais uma vez para que fins servem estas armas… Cada dia ocorrem ataques contra povoações civis nas regiões de Belgorod, Kursk, Donetsk e Lugansk, deixando muitos feridos, casas e infra-estruturas destruídas. A 14 de Junho, um golpe terrível foi desferido em Shebekino, na região de Belgorod. Na sequência da utilização de um míssil Tochka-U pelos militantes ucranianos, a entrada de um edifício de cinco andares ruiu. Um mês atrás, a 12 de Maio, um ataque de míssil do mesmo tipo a um prédio residencial matou 17 civis e mais de 30 pessoas foram feridas. A 23 de Junho, em pleno domingo, as Forças Armadas ucranianas atacaram a cidade de Sebastopol, em Crimeia, utilizando cinco mísseis ATACMS com ogivas de fragmentação, cuja selecção de alvos e atribuição de tarefas de voo é efectuada por especialistas militares dos EUA. O resultado – 4 mortos, incluindo duas crianças, mais de 150 feridos. Esta tragédia eliminou as últimas dúvidas de que a Ucrânia é usada pelo Ocidente colectivo como um estado-tampão na guerra híbrida contra a Rússia.

A cimeira suíça, bem como várias outras iniciativas ocidentais ditas “pacíficas”, revelou-se mais uma tentativa de camuflar as suas intenções agressivas sob a “fórmula Zelensky”, que os seus autores estão a tentar apresentar como supostamente a única base para uma solução e estão a impor intrusivamente à comunidade internacional, sem ter em conta a opinião ou o desejo da maioria global de dar o seu próprio contributo para a resolução da crise. Esta fórmula desde já não implica quaisquer compromissos, alternativas. De facto, nas circunstâncias de proibição por decreto de Zelensky de manter quaisquer negociações com a Rússia, é um conjunto de ultimatos, que se reduzem ao único objectivo ilusório de castigar militarmente a Rússia.

Gritando sobre a urgência de paz, o Ocidente fechou os olhos a uma iniciativa do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, que propôs um caminho real e verdadeiro para uma resolução sustentável da crise. Os seus elementos-chave são a retirada das formações armadas ucranianas das Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk e das regiões de Zaporizhzhia e Kherson; o estatuto neutro, não-alinhado e não nuclear da Ucrânia, a sua desmilitarização e desnazificação. Além disso, prevê a garantia dos plenos direitos, liberdades e interesses dos cidadãos de língua russa na Ucrânia, consolidação de novas realidades territoriais – o estatuto da Crimeia, de Sebastopol, das regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporozhye como partes integrantes da Federação da Rússia, cuja população, através de referendos, exerceu o seu direito à autodeterminação consagrado na Carta das Nações Unidas – no contexto da guerra desencadeada por Kiev contra eles.

No plano de Putin, não se fala da derrota de qualquer das partes, mas da satisfação das pretensões legítimas da Rússia na esfera de segurança e do reconhecimento das mudanças territoriais ocorridas de acordo com o direito internacional. O sinal mais importante, neste contexto, são as palavras do chefe de Estado russo de que Moscovo compreende a sua responsabilidade pela estabilidade mundial e reafirma a sua disponibilidade para dialogar com todos os países.

O Ocidente e Kiev têm de deixar de enganar a comunidade internacional, ao trocarem a causa e o efeito da crise ucraniana. Têm de compreender que não existe qualquer alternativa razoável às propostas russas. Quanto mais cedo se aperceberem deste facto, mais cedo se iniciará o processo de resolução real e o fim das hostilidades. A pergunta neste contexto é, portanto, se eles querem ou não uma paz, ou preferem tirar proveito da Ucrânia, expandindo a sua indústria militar à custa de vidas humanas.

Eventos como a “reunião” em Bürgenstock não são capazes de criar as condições e servir de plataforma para um diálogo verdadeiramente sério sobre a obtenção de uma paz verdadeiramente abrangente, sustentável e justa. É uma mera imitação do processo pacífico para servir a vontade e os interesses egoístas de alguns países que se consideram “árbitros globais”. A solução da crise requer uma conversa séria e pormenorizada sobre toda a gama de questões de segurança mundial.

 

Embaixada da Rússia em Moçambique

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