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Cidade de Maputo perde 26 milhões de metros cúbicos de água por ano devido a fugas

Foto: O País

A empresa Águas da Região Metropolitana de Maputo revela que quase metade da quantidade do líquido produzido para abastecer a capital do país é desperdiçada.

Em muitos bairros da Cidade de Maputo, cenários de água a escorrer tornaram-se comuns. Tubos furados criam águas estagnadas, que se confundem com as da chuva. O bairro Luís Cabral é exemplo disso. Há água a escorrer em quase todas as ruas.

Uma das ruas dá acesso à casa de Odete Amade, senhora de mais de 60 anos, que se vê obrigada a usar um outro caminho, que é mais longo.

“Já não uso este caminho; uso outro, para fugir desta água, que já tem mais de cinco anos. Esta água corre até lá, onde algumas casas desabaram devido ao impacto das mesmas”, desabafou Odete Amade.

Filipe Moisés, outro morador, explica que a exposição dos tubos os leva cada vez mais à degradação.

“Os carros, quando passam, pisam a intercessão, onde se juntam os tubos, o geral e os que conduzem a água para as residências, o que piora o problema”.

Noutro bairro, Chamanculo B, a situação é ainda pior. A água estagna-se numa das ruas principais, que dá acesso a muitas residências no interior do bairro, facto que condiciona a mobilidade.

“Este tubo tem início no fim da rua. Quando se arrebenta, a água escorre até estagnar aqui. Passamos mal, a rua está alagada, o que dificulta a passagem de carros. Não há outra alternativa”, elucidou Sandra Ventura.

Moradores explicam que, quando chove, “a água dos tubos funde-se com as da chuva e gera um desconforto. Temos de usar pedras e sacos de areia, perfilá-los nos cantos, para usarmos como ponte e fazer a travessia de um lado para o outro”.

O problema replica-se em muitos outros bairros, como é o caso do Aeroporto. Na cidade da Matola não é diferente. No bairro Machava também há fugas de água.

Segundo as Águas da Região Metropolitana de Maputo, a cidade perde 26 milhões de metros cúbicos de água por ano devido a fugas de água, quase metade da quantidade produzida para abastecer a urbe.

“No geral, temos perdas na ordem de 47%. Estamos a falar de cerca de 26 milhões de metros cúbicos de água por ano, dos quais 25% são decorrentes das perdas físicas”, detalhou o director do Plano Acelerado e Integrado de Redução de Perdas (PAIRP) da empresa Águas da Região de Maputo, Joaquim Bié.

Esta quantidade poderia abastecer muitas famílias. As fugas também causam outros constrangimentos, na medida em que ditam a redução do horário de fornecimento do líquido vital.

O director do PAIRP explica que uma das causas do desperdício de água tem a ver com a idade da própria rede, que já se encontra obsoleta.

“O sistema de Maputo já é de longa data. Herdámo-lo do tempo colonial. Temos uma estrutura de rede muito antiga e precisa de ser substituída”.

Joaquim Bié, reclama, também, de aspectos climáticos como a erosão, que deixa os tubos de condução de água expostos. A acção humana também contribui. Em média, 50 instalações ilegais de água são encontradas por dia.

Os moradores reconhecem os esforços para resolver o problema, mas pedem uma solução definitiva.

“Esta é uma rua principal. Deviam prestar atenção e vir reparar. Os carros da funerária sofrem. Às vezes, o cortejo fúnebre tinha que carregar a urna numa distância de cerca de 500 metros, porque a água impedia a passagem de viaturas”, desabafou um morador.

A Cidade de Maputo tem 800 Km de rede de abastecimento de água. Em 2020, através do Plano Acelerado e Integrado de Redução de Perdas (PAIRP), a empresa responsável pretendia substituir, até 2024, a metade, ou seja, 400 Km, mas até agora, apenas 200 Km foram intervencionados.

A solução para estancar o desperdício seria a substituição de toda a rede de abastecimento de água. O PAIRP está orçado em cerca de 90 milhões de dólares, um dinheiro que a empresa responsável pela gestão e abastecimento de água na região metropolitana de Maputo, Matola e Boane não tem.

“Até ao momento, com fundos próprios, a empresa conseguiu investir cerca de oito milhões de dólares. Estamos, agora, na fase de mobilização de financiamento, para conseguirmos cobrir a demanda”, avançou o director do PAIRP.

Enquanto isso, todos os dias, a água potável que poderia servir para muitas pessoas é desperdiçada.

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