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Cidade de Maputo “fantasma” após a festa de Natal

Foto: O País

Um dia após a festa de Natal, a Cidade de Maputo esteve calma. As poucas pessoas que se fizeram à rua procuravam ganhar algum dinheiro para o seu sustento, mas o ambiente não estava favorável para negócio.

A melodia gerada pelo som do vento contrastava de longe com o frenesim vivido nos últimos dias. O som da buzina dos carros, das pessoas apressadas a quererem chegar aos diferentes destinos para diferentes afazeres deu lugar a uma urbe “fantasma”.

Um e outro carro é que passava pelas grandes avenidas. Os moradores escondidos nos seus apartamentos espreitavam das suas janelas e varandas para ver melhor a beleza e imundice que formam a cidade capital.

Os moradores de rua e mendigos são os que mais passeavam de contentor em contentor, à vontade e sem as centenas de olhares sobre eles e sentimento de medo que as pessoas carregam quando passam por perto.

Uma e outra pessoa é que decidiu chegar ao centro da urbe. Na sua maioria são as que precisavam de trabalhar.

Entre elas, quatro personagens destacaram-se. As responsabilidades que carregam, recordaram-lhes que não há descanso e empurraram-nas para rua neste dia de tolerância de ponto.

De apenas sete anos, descalço e com uma camisola, encontrámos, na avenida 24 de Julho, em frente ao Instituto Comercial, José junto do seu irmão mais velho. José carregava nas costas uma pasta e seu mano uma peneira de amendoim. A intenção era vender, mas, desde às nove horas que chegaram até às 16 horas, momento em que conversámos com eles, ainda não tinham vendido nada.

A única coisa que conseguiram foram batatas embrulhadas num guardanapo oferecidas por um homem.

“Hoje, não há pessoas aqui, na cidade, só viemos tentar a sorte para conseguirmos algo para jantar, ontem (sábado, dia 25) também o movimento não estava bom, não vendemos nada, por isso voltamos hoje (domingo), mas também não estão a comprar. Se fossem outros dias, já teríamos vendido todo o amendoim”, contou o rapaz, que não estuda e vende para ajudar seus pais, no sustento da família.

Para os poucos lavadores de carros, como Alberto Matsinhe, o ambiente não foi dos melhores, só conseguiu lavar dois carros, mas ainda assim ficar em casa, não é solução para o jovem.

“Já sabia que o dia seria assim, sem nenhum muito movimento, mas precisava vir para ver se consigo alguma coisa, ontem gastei com a festa e preciso repor o dinheiro. Ainda tem a festa de transição de ano, por isso, quero juntar todo dinheiro possível”, relatou Alberto. Em dias normais, o jovem chega a lavar sete carros.

Com as paragens vazias, os transportadores reclamavam da falta de passageiros. Nicolau Alberto esteve a trabalhar durante o dia mas o dinheiro arrecado não chegava nem para fechar a receita diária, queria apenas juntar algum para a manutenção do carro, que já demostra algumas deficiências.

Ao “O País” o condutor contou que começou a trabalhar por volta das sete horas, em cada viagem, da rota que faz “Museu- Praça dos Combatentes, não conseguia preencher todos assentos do carro.

O cenário fantasmagórico afectou, também, quem, mesmo com as marcas da idade, depende dos urinóis para conseguir o mínimo para sobreviver. Francisco Mondlane é um deles, o morador da rua é responsável pelos urinóis no terminal do Museu, mas esta segunda-feira de tolerância de ponto, não houve negócio.

“Noutros dias atendo pelo menos 100 pessoas, mas hoje, nem 30 entraram aqui, estamos mal, só podemos recuperar depois das festas”, disse Mondlane

A chuva miúda que caiu nas primeiras horas pode ter contruído para o âmbito calmo vivido esta segunda-feira.

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