O ministro da Defesa avança ainda que o grupo tem ligações com grupos na República Democrática do Congo e fora do continente. Reconheceu que os malfeitores se aproveitam das fraquezas de segurança para atacar as comunidades e causar terror.
Pela primeira vez, o sector da Defesa Nacional juntou académicos e militares experientes, em conferência científica, para discutir o terrorismo em Cabo Delgado com base na ciência. Cristóvão Chume começou por lançar as questões de partida.
“Como um grupo de jovens de Mocímboa da Praia atacou uma esquadra e se tornou num símbolo da insurgência em Moçambique, constituindo-se, hoje, num dos grupos mais radicalizados do nosso continente e até um dos mais agressivos que operam no nosso continente? Como em pouco tempo, na província de Cabo Delgado, o grupo conseguiu espalhar-se em toda a costa desde Nangade, Palma, Mocímboa da Praia, chegando a Macomia e, hoje, com alguns traços mais a Sul? Como este grupo conseguiu manter ramificações em África com referências na República Democrática do Congo e outros países dos Grandes Lagos dentro de uma rede internacional e com ligações fora do nosso continente?”, questionou.
O governante defendeu abertura na discussão e estudo do fenómeno para o bem do país.
“Cabo Delgado passou a fazer parte das estatísticas mundiais como resultado dos ataques terroristas. O gás passou a segundo plano nos noticiários nacionais e internacionais. Alguns até falaram de maldição do gás. Todos fomos à procura de explicações sobre a razão de ser do terrorismo em Moçambique. E por que em Cabo Delgado?”, questionou o dirigente para, em seguida, avançar que, face à falta de explicações sólidas sobre o fenómeno, “se edificaram e se costuraram análises sobre as causas. Estrelas mediáticas compareceram em todos os canais de comunicação e fomos ditos, repetidamente, que as causas gravitavam à volta da pobreza, exclusão social, da riqueza do gás, entre outras”.
Chume referiu que continua a ser difícil perceber as motivações do grupo que actua em Cabo Delgado.
“De forma tímida, a academia nacional iniciou uma discussão das causas sem ter conseguido, até hoje, passar para a comunidade nacional a razão objectiva do fenómeno. As Forças de Defesa e Segurança estão no terreno desde o fenómeno inicial na esquadra policial de Mocímboa da Praia. A matriz construída à volta da acção das FDS colocou a maioria da população a pensar que o terrorismo é uma catástrofe que se combate somente com as armas. Os que lideram o terrorismo em Moçambique nunca deram cara ideológica do seu manifesto sangrento. O país ainda não encontrou uma explicação clara.”
Chume quer que o sector da defesa, principalmente do Instituto Superior de Estudos e Defesa Armando Guebuza, use a ciência para dissipar dúvidas sobre a origem do fenómeno. O ministro reconheceu que o grupo se aproveitou de fragilidades na segurança existentes no país.
“SINDICATO DE CRIME APROVEITA-SE DE FRAGILIDADES”
“O fenómeno que estará em discussão é internacional. Há um sindicato do crime organizado que se aproveita de diferentes fragilidades, entre sistemas de segurança e fracturas ideológicas. Em países ricos, a matriz do terrorismo é urbano com o maior marco nos ataques às torres gêmeas do World Trade Center, o conhecido 11 de Setembro. Em quase a maioria dos Estados europeus, houve ocorrências ligadas ao terrorismo”, detalhou para depois caracterizar que “nos nossos países, é grandemente rural, de combate armado. Ataca os pobres e cria deslocados. Destrói infra-estruturas sociais, económicas e políticas. Mas ambos têm algo em comum – network internacional de financiamento para as suas investidas; nutrem-se do tráfico de drogas, de armas e de recursos naturais”.
“O ESTADO VAI VENCER”
O ministro da Defesa acredita que o Estado continuará resistente e vencerá esta luta. Para o efeito, defendeu que se usem os exemplos positivos adoptados por outros países para combater o fenómeno.
“Como resposta, os Estados, que sofrem de acções do terrorismo, nunca caiem. No final, têm resiliência contra o fenómeno graças ao reconhecimento internacional de que nenhum país do mundo pode, de forma singular, combater ou vencer o terrorismo. Exemplos são vários no continente africano e outros sobre a forma concertada de prevenção e combate ao terrorismo. Por tudo isto, entendemos que será erro grave se, durante estes dias, deixarmos de discutir como é que os outros tomam boas decisões que visam a prevenção e combate a esta praga. Fora o quadro de resposta militar, que iniciativas foram investidas, particularmente, para prevenir o recrudescimento da insurgência armada de toda natureza? Acreditamos profundamente no investimento para a prevenção, pois está mais do que provado que, por mais que tenhamos grandes exércitos, as consequências económicas e sociais de actos terroristas são indeléveis.”
A primeira Conferência Científica de Defesa e Segurança decorre no Instituto Superior de Estudos de Defesa Armando Guebuza, em Maputo, e tem duração de quatro dias.
“NÃO VÃO CONSEGUIR TER QUARTEL OU LOCALIDADE”
O Chefe de Estado Maior-General das Forças Armadas diz que continuam ataques esporádicos em Cabo Delgado. No entanto, Joaquim Mangrasse revela que os terroristas perderam a capacidade de instalar bases ou ocupar localidades.
“A situação continua, mas o inimigo continua enfraquecido. O terrorismo não acaba num dia. Vamos continuar a ser vigilantes, cooperar com as populações para que possam indicar-nos onde os terroristas estão”, explicou.
Questionado sobre a prorrogação da presença da Força da SADC em Cabo Delgado, por mais um ano, Mangrasse disse apenas que “o país continuará a trabalhar com as forças no terreno”.
O dirigente defendeu, ainda, maior investimento no exército: “é preciso pensar nos militares. É importante que eles estejam preparados para enfrentar desafios como o terrorismo”.