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Moçambicanos contam a experiência de viver na Finlândia

Foto: O País

Nas ruas da capital da Finlândia, Helsínquia, cruzam-se várias nacionalidades, com histórias de aventura e uma vida que se vai construindo muito longe da terra natal.

Emília Gravata é casada com um finlandês com quem tem três filhos. Formou-se primeiro em Música, em Moçambique, e foi em Maputo onde conheceu o seu esposo que a fez partir para Helsínquia para cuidar do lar. Uma vez na Europa, decidiu abraçar outros desafios.

“Sou professora-assistente. Dou aulas a alunos com autismo e deficiência de desenvolvimento para actividades normais. Portanto, são, crianças especiais com deficiência de todos os géneros, alguns na cadeira de rodas. Aos fins-de-semana trabalho em asilos, cuido de idosos. Estudo Enfermagem, de noite”, apresentou-se à nossa reportagem, no início de uma conversa que se desenrolou numa praça verde, com som ambiente de artistas de rua e um movimento de pessoas de todas as idades.

Como é ser professora num país onde o sistema de Educação é bastante rigoroso? – questionamos à moçambicana que, há 17 anos, reside e trabalha na cidade de Helsínquia. “Aqui, na Finlândia, na sala de aula, está o professor e um assistente do professor, porque nem sempre o professor consegue dar aquela atenção a 100% ou ver tudo que está a acontecer nos cantos, mas, com o assistente, é fácil. Os dois sentam-se uma vez por semana para fazer o balanço da semana de cada aluno e o que se pode fazer para melhorar seu desempenho.”

Comparar o sistema de Educação da Finlândia com o de Moçambique seria um exercício muito difícil de fazer. Só para se ter ideia, para este ano, a Finlândia vai direcionar do Orçamento do Estado 7,5 mil milhões de euros para a Educação que é gratuita da pré-primária até à Universidade – qualquer coisa como quinhentos e quatro mil milhões de Meticais –, e Moçambique vai aplicar, este ano, pouco mais de 70 mil milhões de Meticais para o mesmo sector. No entanto, há coisas que não dependem tanto de dinheiro, mas sim da seriedade.

Emília Gravata mostrou-se chocada com os erros nos livros escolares em Moçambique, que vêm agravar a falta de investimento em salas de aula e equipamento de apoio para as lições. “Quando foi despoletado este problema, foi difícil aceitar. Como é possível que haja esse tipo de erros e o Ministério [da Educação e Desenvolvimento Humano] permite que os livros sejam direccionados aos alunos sem que houvesse revisão”, indagou-se Gravata e para quem não encontra resposta razoável para o que está a acontecer em Moçambique.

Num mundo cada vez mais competitivo, Raúl Abdula escolheu viver na cidade de Helsínquia com a sua esposa finlandesa e ganha a vida como técnico de manutenção.

“Isso inclui manutenção de infra-estruturas, estamos a falar de ventilação, electricidade, jardins, etc”, detalhou Raúl Abdula.

A vida na Europa não é um mar de rosas. Mas também é possível viver quando se investe no conhecimento. Algo que o jovem de Chimoio sente faltar para muitos concidadãos moçambicanos.

“Ajudem o povo moçambicano a avançar. Estamos a viver um momento de muita tensão – terrorismo, falta de emprego, água potável, oportunidade nas escolas – abram tudo isso aos moçambicanos”, disse em jeito de apelo ao Governo de Moçambique, porque, mesmo com os seus 19 anos a viver na Finlândia, não desliga a ficha que o liga à terra natal.

Raimundo Fortes é outro moçambicano que se dedicou à formação, tendo feito a primeira licenciatura em Gestão de Produção, outra em Informática de Computação e um mestrado em Gestão Internacional de Negócios. Rumou para Finlândia com vista a continuar os estudos e acabou por ficar lá para trabalhar.

“Actualmente, estou a trabalhar como coordenador de serviços de uma empresa que trabalha em diferentes supermercados e somos encarregados de fazer limpeza”, explicou-nos Raimundo Fortes, residente em Helsínquia desde 1999.

Entende que Moçambique precisa do seu contributo, sobretudo nesta nova fase de início de exploração de mega-projectos, porém, por enquanto, ainda não teve resposta positiva para voltar.

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