O País – A verdade como notícia

Celestino Santos: dos 45 anos de culinária aos Diálogos África-Europa

Em 1974, António Santos ofereceu à esposa, Ercília Rodrigues, o restaurante Galo de Ouro. O empreendimento funcionou em Vanderbijlpark, na África do Sul, por vários anos. Nessa altura, Celestino Santos, um dos três filhos do casal, tinha 14 anos de idade e nem sequer poderia imaginar que a sua vida iria afirmar-se na restauração. Quer dizer, mesmo sem se dar conta disso, o então adolescente teve tempo para aprender a observar a técnica da cozinha, de perguntar, de experimentar, de provar, de aprovar, de reprovar e de fazer da mistura dos ingredientes uma forma de amar os outros.

Da mãe, Celestino Santos aprendeu a cozinhar, sobretudo, grelhados de mariscos. Do pai, aprendeu a confeccionar pratos de tacho, como feijoada e guisados. Essa foi a combinação perfeita para aprender a sonhar com a culinária, uma década e meia depois de ter nascido na Beira. É de 1960 e o Chiveve é o seu chão e o lugar de afecto. No entanto, a ambição de trilhar um percurso internacional levou-lhe a explorar outros ares, tendo assentado arraiais na África do Sul.

Na terra dos bicampeões mundiais de rugby, os Springboks, onde este artigo é escrito no restaurante The Diner, Celestino Santos trabalhou durante anos, na Vanderbijlpark. Mas a saudade de casa atraiçou-lhe e Maputo, agora, é o seu doce lar. É a partir da Cidade das Acácias que se projectam os gostos e os sabores da sua culinária, ali bem pertinho do Jardim Dona Berta e da Associação dos Músicos.

A vida de Celestino Santos é dedicada à culinária. Quando conversa sobre comidas, imprime nas palavras alguns temperos e tantas outras coisas que colocam o interlocutor com água na boca. Precisamente por isso, e por reconhecer as suas habilidades com a culinária, a Embaixada da França em Moçambique convidou-lhe a participar no fórum “Nosso futuro: diálogos África-Europa”, na Cidade de Port-Louis, capital das Maurícias.

Naquele país que se encontra a cinco horas de voo de Maputo, com escala pelo meio, Celestino Santos vai participar num painel sobre culinária. O evento, na verdade, vai servir para o chief de cozinha partilhar ideias essencias que concorrem para aproximar pessoas e culturas através da culinária.

Nas Maurícias, Celestino Santos vai participar numa performance de culinária subordinada ao tema “Socialização através da comida: questionando e explorando”. Basicamente, o beirense espera, no regresso ao país onde esteve pela primeira vez em 1987, há 36 anos, o seguinte: “A minha expectativa é debater assuntos que nos ligam, africanos e europeus. Importa pensarmos, por exemplo, na produção de alimentos para as pessoas e no que isso implica em termos de convívio”.

A sessão de Celestino Santos está marcada para esta sexta-feira. No debate, o cozinheiro também vai explicar como o aproveitamento dos espaços pouco explorados, nas escolas ou universidades, podem ser decisivos para o desenvolvimento da agricultura sistematizada e, consequentemente, para estabilidade alimentar.

Apesar dos seus 45 anos de carreira na culinária, Celestino Santos confessa que espera aprender bastante, no fórum “Nosso futuro: diálogos África-Europa”, afinal “Na culinária e na vida aprendemos sempre e de todos”.

Expectante em reviver Port-Louis, essa cidade no meio do Índico, Celestino Santos quer conhecer gente, trocar impressões com os cinco cozinheiros convidados ao debate e, portanto, levar à gastronomia moçambicana outras e inovadoras possibilidades de confeccionar os alimentos. Pois, segundo afirma, Moçambique tem tudo, em termos de produtos alimentares. O que acontece é que as receitas de culinária, geralmente nos restaurantes, são importadas. Ao invés de só importar receitas, o cozinheiro quer compreender novos processos, e dar a conhecer as suas técnicas, de modo que possa agradar o paladar dos que apreciam comer bem. Afinal, “Somos o que comemos”.

”Nosso futuro: diálogos África-Europa”

O fórum “Nosso futuro: diálogos África-Europa” vai realizar-se a partir desta sexta-feira até domingo. A iniciativa é do Instituto Francês de Paris e o Instituto Francês de Maurícias e os seus parceiros locais. Fundamentalmente, trata-te de um debate público-regional. Esta será a quarta vez de uma série de nove fóruns regionais África-Europa, que terão lugar nos próximos anos, no continente africano.

Antes deste fórum, houve outros três da série: Joanesburgo, Yaoundé e Argel. O fórum vai promover as recomendações feitas na sequência da Nova Cimeira África-Europa (Montpellier, 8 de Outubro de 2021).

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos