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Cassi Namoda inaugura individual na Goodman Gallery na África do Sul

Foto: Cassi Namoda

A pintora moçambicana Cassi Namoda inaugurou, no dia 14 deste mês, a sua segunda exposição de artes plásticas no continente africano. A mostra individual A vida tornou-se uma lista de obras em línguas estrangeiras está patente na Goodman Gallery, Cidade do Cabo, na África do Sul, até 3 de Setembro.

Não são muitas as individuais de Cassi Namoda no continente africano. Na verdade, a artista tem duas exposições, ambas inauguradas na África do Sul. A segunda, intitulada A vida tornou-se uma lista de obras em línguas estrangeiras, está patente, desde 14 do mês em curso, na Goodman Gallery, na Cidade do Cabo, onde a pintora produziu as obras que agora compõem a mostra durante uma residência artística no início do ano.

Em A vida tornou-se uma lista de obras em línguas estrangeiras, com efeito, Cassi Namoda explora o imaginário colectivo dos moçambicanos, mergulhando nas memórias, nas vivências e no quotidiano sociocultural nacionais. Em geral, as obras da mostra exploram e retratam a condição da mulher moçambicana, seja urbana e/ou rural. Referindo-se ao seu processo criativo, a artista que vive entre Nova Iorque e Los Angeles destaca que se trata de “uma exposição baseada no realismo mágico, olhando para o realismo como a desconstrução do negro e explorando a alienação da mulher negra”.

Essa mulher negra, nas obras de Cassi Namoda, por um lado, é energia, poder, sensualidade e maternidade. Por outro, é subalternização, assédio, objecto sensual e coisificação. De certo modo, a individual revela a maneira como o ser feminino é visto em vários contextos sociais de Moçambique.

A segunda individual de Cassi Namoda no continente que a viu nascer (a primeira na Cidade do Cabo, depois de Joanesburgo em 2020), está dividida em duas séries definidas por abordagens diferentes com a pretensão de explorar realidades vivenciadas por mulheres negras que tanto a inspiram, nesta e em outras exposições que tem feito ao longo dos anos. Essa é uma forma de Namoda reflectir sobre a dor, a vulnerabilidade dos seres que geram vida, mas que, geralmente, não são valorizadas como deviam. Há-de ser por essa razão que o corpo é um objecto estético caro para a artista natural de Maputo na mesma proporção que se revela uma ferramenta aparentemente contestatária.

Considerando a relevância do tema condição da mulher patente na mostra, Cassi Namoda confessa: “Pintei de forma figurativa. Nesta mostra há menos abstração e exploro a ideia da alienação”. Ao explorar tal ideia, a artista faz um jogo de cores que se cruzam nas várias obras resultantes da técnica óleo sobre tela. A cor de laranja, o azul celeste, o castanho, o preto, o verde-claro e o vermelho cruzam-se como que a enaltecer uma certa continuidade de estilo criativo.

Nas pinturas de A vida tornou-se uma lista de obras em línguas estrangeiras há ainda essa espécie de diálogo criativo com a fotografia de Ricardo Rangel, onde Cassi Namoda vai buscar o passado como ferramenta para ler o seu presente, do seu povo e do mundo a que pertence. Esta não é a primeira vez que a pintora faz com que a sua obra comunique com um artista moçambicano. Em 2018, por exemplo, expôs We killed Mangy Dog (Harper’s Books, Hamptons, Estados Unidos). Traduzindo do inglês para português, We killed Mangy Dog que significa Nós matamos o cão-tinhoso. Portanto, a mostra individual de Cassi Namoda foi inspirada na obra literária de Luís Bernardo Honwana.

Como em Honwana ou em Rangel, em Namoda a construção de narrativas é algo permanente. A cor é o universo das figuras que também se apresentam como personagens sem movimento. Já o pincel também é uma forma de viajar por atmosferas, possivelmente, revendo locais onde viveu (Quénia, Haiti, Benim, Indonésia) e configurando outros lugares idealizados.

A artista moçambicana, filha de mãe moçambicana, de Quelimane, e de pai norte-americano, estudou cinematografia na Academia de Artes em São Francisco, Estados Unidos, onde tem exposto individuais com regularidade.

 

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