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Carros nos passeios, buracos e outros obstáculos roubam-lhes a liberdade de circulação

Deficientes visuais e cadeirantes têm dificuldades para se locomover dentro da cidade de Maputo devido aos obstáculos, como carros estacionados nos passeios e pavimento degradado. O Conselho Municipal de Maputo reconhece o problema e diz que a solução passa por criar mais locais de estacionamento de viaturas.

Com bengala, olhos incapazes de ver por onde andam, eles vasculham os obstáculos que lhes aparecem pelo caminho e não são poucos nos passeios da cidade de Maputo. Há muitos carros estacionados nos passeios, pavimento esburacado, pilaretes colocados sem obedecer às regras e fossas abertas nas ruas e avenidas da capital moçambique. É com isso que Lúcia Domingos, deficiente visual, desde à nascença lida todos os dias.

“É difícil caminhar na cidade de Maputo visto que os passeios têm muitos obstáculos. Se não são carros, são árvores ou alguns pilares. É, realmente, muito complicado”, lamentou Lúcia Domingos, deficiente visual e estudante da Universidade Eduardo Mondlane.

A jovem de 23 anos de idade, natural de Sofala, cidade da Beira, ainda tenta ganhar independência de circulação recorrendo, apenas, à sua bengala branca com a qual procura o lado onde haja menos obstáculos, um esforço muitas vezes em vão.

“Para circular nesta cidade, muitas vezes, tenho contado com a ajuda dos outros. Por exemplo, amigas e colegas da faculdade, porque, sendo uma cidade nova e complicada de caminhar, eu acho arriscado estar a caminhar sozinha, mas há casos em que tenho de o fazer e aí tenho optado em tomar o chapa do que andar a pé”, contou Lúcia Domingos.

Não anda a pé, porque o perigo está à espreita. Na avenida Amhed Sekou Touré, a bengala de Lúcia salva-lhe desta cova. Era uma fossa, daquelas antigas, mas sem tampa. Devia ter meio metro de profundidade. Ela tenta achar uma alternativa para continuar a marcha, mas à sua frente, mais um obstáculo. Aliás, são mais dois. Uma árvore e um poste de sinal de trânsito. Ao atravessar a estrada nem todos os carros lhe cedem passagem.

“Várias vezes, eu me bati com carros, já torci o pé num passeio e, também, em uma cova. Ainda na cidade, existem aqueles passeios que numa hora são altos e, depois, uma descida muito acentuada e nós não percebemos e tropeçamos”, narrou Lúcia Domingos.

Por estas e outras dificuldades, a jovem de 23 anos pede que a edilidade intervenha para garantir a mobilidade deste segmento da sociedade. Até porque “tem coisas que nós encontramos nos passeios que nós não vemos qual é a sua utilidade, então que eles também, ao estruturar os passeios, possam pensar em nós e haja um espaço apropriado para o estacionamento de carros”.

Com os passos lentos e cautelosos guiados pela sua bengala branca, Sérgio Mabjaia tenta contornar os carros estacionados nos passeios da cidade. “A ideia é confiar na bengala e, através dela, tentar procurar o que está a minha frente. Diante disso, só posso afastar para estrada que é um local perigoso ou posso apertar-me entre os carros e árvores que estão no passeio”, explicou Sérgio Mabjaia, deficiente visual e, também, estudante visual.

Uma vez que, entre as árvores, nem sempre é possível haver passagem, Sérgio não tem outra alternativa senão usar a estrada, onde a segurança depende da boa vontade dos condutores.

“Tem casos de colegas que já foram parar, inconscientes, no hospital devido a um acidente de viação, porque ele deveria andar no passeio onde é o local adequado, mas os carros o tinham tomado, ele viu-se obrigado a circular mais para estrada. Sem se aperceber, apareceu um carro à sua atrás e tocou-o, ligeiramente”, recordou o episódio, o jovem deficiente visual.

Usuário da cadeira de rodas há 17 anos, Paulo nunca soube o que é, na sua condição, andar livremente nas ruas e avenidas da capital do país.

“Há sempre promessas, mas não vejo nenhum trabalho a ser feito nos passeios que é para o melhoramento. Há casos em que um indivíduo mora num sítio e reabilita o passeio em frente à sua casa, mas nunca feito por parte do conselho municipal de modo a garantir a nossa mobilidade”, afirmou Paulo Single, cadeirante há mais de uma década, num tom de frustração.

Mais do que cair por conta dos vários obstáculos, este grupo vê-se limitado para usufruir de alguns direitos seus por dificuldades na mobilidade.

“Quando nós nos movemos, vamos à busca de algum direito desde educação, saúde e outros serviços, mas se tivermos limitação de mobilidade por um determinado sítio para acedê-los (os serviços), desistimos ou da próxima vez não voltam”, observou Hélder Buque presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes de Moçambique

A edilidade da capital do país reconhece que há dificuldades para a mobilidade de cegos e cadeirantes na cidade de Maputo e atira a culpa ao crescimento do parque automóvel na urbe.

“A cidade de Maputo tem, hoje (no sentido de actualmente), cerca de 450 mil viaturas e representa 50 por cento das viaturas que temos a nível nacional, o que sobrecarrega de muito a nossa cidade, em particular em termos de necessidade de estacionamento, esta é uma realidade”, apontou José Nicols, vereador dos Transportes e Mobilidade no Conselho Municipal de Maputo.

Depois de apontar o problema, o vereador indicou os caminhos que estão a ser seguidos para “livrar” os passeios das viaturas. “Já temos aprovados três projectos de silos automóveis, principalmente, para a baixa da cidade que é onde 50 mil viaturas vão todos os dias e a previsão é que as obras arranquem no segundo semestre deste ano e possam acomodar cerca de três mil viaturas”, avançou José Nicols.

Para já, sobre os que estacionam nos passeios e embaraçam a mobilidade dos cegos e cadeirantes, a edilidade diz que não pode sancionar, porque “entende haver escassez de espaços para estacionamentos”.

Além de criar mais espaços para o estacionamento de viaturas, José Nicols diz que o Conselho Municipal de Maputo vai retirar os pilaretes colocados sem obedecer às normas, obstruindo a passagem dos cegos e cadeirantes.

“A colocação dos pilaretes é colocada segundo a perspectiva dos munícipes e das empresas para evitar o estacionamento nos passeios e não obedecem às regras o que não permite a mobilidade de cadeirantes ou cegos. Em situações desse género, que o município não tenha detectado, recomendamos que os munícipes denunciem e alertem por forma a fazermos a correção”, referiu o vereador dos Transportes e Mobilidade no município de Maputo.

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