O País – A verdade como notícia

Carlos Aik: “Não conseguimos fazer uma planificação como deve ser”

Foto: O País

O seleccionador nacional de basquetebol sénior feminino, Carlos Aik, diz que a falta de provas na capital é resultado da desorganização da modalidade. Realista, mas nem por isso fatalista, Aik diz ainda que o basquetebol moçambicano tem problemas básicos e primários. O “coach” aponta, outrossim, para um impacto negativo no processo de preparação para o “Afrobasket” 2023, prova a realizar-se de 28 de Julho a 6 de Agosto, em Kigali, no Ruanda.

Vice-campeão africano em 2003 e 2013, em Maputo, e com presença inédita no Mundial de 2014, na Turquia, Moçambique enfrenta o dilema de falta de provas internas, num ano crucial em que se aponta para a qualificação para os Jogos Olímpicos Paris 2024. Ou seja, com a qualificação sem mácula para o “Afrobasket” no decurso das eliminatórias da zona VI, em Bulawayo, Zimbabwe, cresceu o sonho ondulado na bandeira multicolor de voltar a fazer brilharete na competição e, causa-efeito, assegurar uma vaga no torneio pré-olímpico a decorrer ainda em Agosto num país a indicar.

Mas, diga-se, o prestígio e respeito que a modalidade da bola ao cesto granjeou, internacionalmente, com o alcance dos lugares de pódio e importação de atletas para Ligas da Europa, contrasta com o espírito de improviso ao nível interno. E tal pode, uma vez mais, hipotecar o sonho olímpico, porquanto a falta de provas internamente choca com o programado pelos seleccionadores nacionais.

Um entrave, uma vez mais, que tem como mote uma dívida de 130 mil Meticais aos árbitros e oficiais de mesa, isto em número de 35.

Sem planificação, nada feito. Geram-se expectativas de uma prestação briosa, alimenta-se a ilusão de uma modalidade organizada a discutir “mano a mano” com Nigéria, Senegal, Costa do Marfim e Camarões. Carlos Aik, seleccionador nacional de basquetebol sénior feminino, não embarca em emoções sem trabalho de casa bem feito, e nem podia, até pela coerência e pragmatismo que o caracterizam. “Passam, praticamente, três meses do início do corrente ano e ainda não começaram as competições. Isto vai ter implicações naquilo que é a preparação da selecção. Nós idealizámos a preparação da selecção tendo em conta que a competição será em Julho. Idealizámos a preparação em termos temporais, os objectivos e tendo em conta a carga de treinos das atletas. Idealizámos olhando para o facto de atletas já estarem a competir”, começou por dizer Carlos Ibrahimo Aik.

O sucesso do basquetebol feminino moçambicano, alicerçado nas conquistas dos então Jogos Pan-Africanos do Cairo pela selecção nacional, em 1991, no Cairo, Egipto, e Taça dos Clubes Campeões Africanos de Basquetebol sénior feminino pelo Maxaquene (1991), Académica (2000), Desportivo Maputo (2007 e 2008), Liga Desportiva de Maputo (2012) e Ferroviário de Maputo (2018 e 2019), clamam por outro tratamento da modalidade.

“Eu acho que o nosso basquetebol dava um bom tema para uma pesquisa, se calhar alertar os nossos estudantes de educação física para terem isso como reflexão. Ora, vamos ver. Segundo as Nações Unidas, África tem 54 países. Mesmo se consideramos que nem todos os países têm tradição e se preocupam com o basquetebol, mesmo levando isso em linha de conta, temos que dizer que há alguns sucessos que o basquetebol moçambicano vai tendo que distorcer um pouco tudo aquilo que é a realidade. Nós ganhámos a Taça dos Campeões de Clubes, levamos para o pódio os clubes, quando vamos para o pódio ao nível de selecções, quando nos apuramos para os CAN, isto leva a crer – para quem não vive o dia-a-dia do basquetebol moçambicano, para quem não vive a realidade – que nós temos um basquetebol organizado enquanto, na realidade, não é”, chamou atenção Aik, “coah” que em 1991 e 2019 conquistou a Taça dos Clubes Campeões Africanos pelo Maxaquene e Ferroviário de Maputo.

“QUALQUER MOTIVAÇÃO DE UM ATLETA É COMPETIR”

Sustenta, Aik, que não faz sentido que em todos os anos o basquetebol se debata com problemas de planificação da sua época. Os clubes pagam os atletas, os atletas precisam de competir para auferirem o seu nível. E uma cadeia que deve ser alimentada, diga-se, mas tarda em ser devidamente compreendida com sucesso no país. “É prova disso o facto de, até hoje, as competições ao nível interno não terem dado o pontapé de saída. Portanto, as equipas ainda não estão a competir. Qualquer motivação para um atleta, que treina todos os dias, é jogar uma ou duas vezes por semana. Então, não jogando, naturalmente que o empenho ao longo da preparação e mesmo dos planos que os treinadores têm na sua preparação acabam por ser ‘hadock’. Quer dizer, aquilo é o momento. Quer dizer, não se consegue fazer uma planificação desportiva como deve ser. Isto é problema do nosso basquetebol. Quer dizer, de repente parece que está tudo organizado, mas não está”, lamentou Carlos Ibrahimo Aik.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos