O País – A verdade como notícia

Gestores acreditam que políticas proteccionistas podem estimular aquacultura

Os gestores de aquacultura reflectiram, neste último dia da terceira edição da Plataforma MOZGROW, sobre o “Desenvolvimento da cadeia de valor da aquacultura”. Para Rafael Rafael, José Vedar e Mateus Bila, políticas protecionistas podem ajudar a estimular o sector. No entanto, há quem entende que Moçambique não tem condições para satisfazer a procura do pescado apenas com a produção nacional.

 

Durante a sessão subordinada ao tema “Desenvolvimento da cadeia de valor da aquacultura”, os gestores participantes referiram-se aos caminhos que o país deve percorrer para estimular o sector. Nesse sentido, Rafael Rafael, Gestor do CEPAQ, foi categórico: “Nós devíamos vedar a entrada de tilápia. Tenho conhecimento de que há produtores que não têm mercado fácil a nível nacional para colocação da tilapia, mesmo neste momento que a indústria é incipiente. Se nós continuarmos a receber a tilápia de fora, nunca iremos desenvolver a indústria nacional. Eu sou da opinião que devemos limitar a entrada da tilápia em Moçambique”.

A posição de Rafael Rafael foi apoiada por José Vedar, para quem a protecção do comércio da tilápia é necessária. “Qualquer país faz isso. Mesmo os Estados Unidos de América têm problemas com a China. Eles protegem o seu comércio com medidas. Não têm vergonha e nem receio de ninguém. O nosso país pode tomar estas medidas, e, fazendo isso, vai obrigar o sector privado a produzir em quantidade e qualidade para o mercado”.

Entretanto, de acordo com Proprietário da empresa Tilápia do Bilene (Província de Gaza), não é só a produção da tilápia que constitui um desafio para o sector. “Nós temos outro desafio, que é a questão da importação do carapau. O carapau tem estado a assegurar, digamos assim, uma proteína barata para a nossa população. É barata porque o Estado está a subsidiar. Se esse subsídio ou parte desse subsídio for direccionado para a produção da tilápia, para que os custos de produção sejam mais baixos, imediatamente, a tilápia começa a ser consumida no mercado com uma maior frequência. O preço vai estabilizar e comparar-se ao do carapau. É incompreensível que estejamos a receber tilápia da China”.

Ainda que a posição de Rafael e Vedar tenha encontrado apoio em Mateus Bila, Gestor do Programa de Desenvolvimento REM/ RMPPO, Selso Cuaira, Director de Serviços no IDEPA, clarificou: “O Governo deve proteger a produção nacional porque contribui para o desenvolvimento do nosso país. O que os colegas estão a dizer é verdade. Precisamos de proteger a nossa tilápia, mas é preciso que este mesmo Governo garanta que haja disponibilidade de alimentação para o povo. Neste momento, temos um défice de 80 mil toneladas de pescado em Moçambique. A produção nacional ainda não garante a quantidade a nível interno. O Governo não pode apenas decidir proteger a tilápia interna em detrimento da importação porque, neste momento, não vai conseguir satisfazer as necessidades”. Por isso mesmo, o Director de Serviços no IDEPA salientou que Moçambique continua a importar a tilápia para corresponder as necessidades do povo. “A médio prazo, é do interesse do Governo produzir para sustentabilidade da questão do consumo interno. Portanto, há necessidade de protegermos a produção interna, mas não podemos cortar neste momento”.

As palavras de Cuaira tiveram eco em Vicente Ernesto, Director de Produção de Aquapesca. “A nossa aquacultura não é suficiente para abastecer o mercado nacional. Não podemos dizer que a veda vai nos garantir maior produção da aquacultura neste momento”. Ao invés da proibição da importação da tilápia, o Director de Produção de Aquapesca acredita que o principal objectivo para o desenvolvimento da cadeia de valor da aquacultura é o investimento na infra-estrura, nas vias de acesso. “Temos de ter fontes de energia e vias de acesso para transportar os insumos e comercializar”. E José Vedar sublinhou que os pequenos produtores nacionais precisam de assistência tecnológica e de insumos que não existem no país.

Ano passado, o Governo aprovou uma estratégia para o desenvolvimento da aquacultura e, nos últimos anos, Moçambique passou de uma produção de 800 toneladas para 3 mil. Mas por que investir na aquacultura? Selso Cuaira explicou: “O que o mar nos dá para o consumo humano tem estado a diminuir. A aquacultura tem sido a componente que tem contribuído para a disponibilidade do pescado para o consumo humano”.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos