O País – A verdade como notícia

Barcolino, o inquerível!

«Escrever sobre o presente é como caminhar à beira do precipício: podemos cair»

Salman Rushdie

Informação de última hora!

Interrompemos o show de Gatafox na casa Mapiko para apresentar uma notícia que promete fazer correr muita tinta. Convidamos o repórter volante, que está na sede do comando-geral da polícia a nos brindar com as últimas sobre este caso.

Caro colega repórter volante Carvão Arde Molhado venha daí:

– Saudações senhores telespectadores,

Estamos perante o que se fornece como sugestão aos nossos cineastas para uma longa-metragem, um caso próximo a um policial do western americano, que até se pode chamar BARCOLINO e o Detective DZAHELA.

As autoridades policiais anunciaram há momentos que estão no encalço de um perigoso cadastrado conhecido nos meadros especiais operativos como BARCOLINO, O INQUERÍVEL. Este sujeito lidera uma quadrilha que se dedica à burla qualificada, desperta agudas paixonites, incontroláveis e enganosas. Barcolino é acusado por mais crimes, tais como pecolato e branqueamento de capitais, incluindo cinquenta e cinco crimes que aguardam parecer da comissão mista e interministerial entre os Ministérios da Justiça, Mar e Águas Interiores e Pesca; Terra e Meio ambiente; Ministério da Saúde e Ametramo. Barcolino e seus comparsas têm actuado preferencialmente nas regiões da Costa do Sol e João Mateus, na Matola.

 Barcolino é alvo de uma denúncia popular que chegou até nós na última madrugada, emitida pelas autoriadades locais da zona do Chiango. Este fulano é tido como peixe, perdão, persona non grata. Na ficha que recebemos consta que a sua lacalaca, ou melhor, o seu modus operandum tem veneno. É um perigo para a saúde pública, terrestre, aérea e marítima. Até ao momento foi emitida uma ordem nacional de busca e captura, usando meios disponíveis para a corporação, entre os quais anzol, rede de pesca, munições diversas para o uso no espaço aéreo, marítimo e terrestre.

Neste instante, a intervenção do repórter foi interrompida por uma ruidosa salva de palmas de jornalistas e populações circunvizinhas que estão no comando-geral. – E o repórter Carvão Molhado volta à carga:

– E mais se informa que o detective Dzahela foi destacado para esta inadiável e urgente operação. Segundo informações recentes o Major Dzahela caracteriza-se por usar elementos típicos, de infalível sucesso, onde quer que seja: lápis na orelha esquerda, pistola amarrada sobre a cabeça e fisga no pescoço. A sua última missão, antes de passar para a reserva é mesmo procurar e neutralizar o cadastrado Barcolino.

O ilustre detective, depois de receber a sua nova missão, com elevada determinação que lhe é característica e, somos impelidos a reforçar mais alguns atributos. Senhores espectadores, a lista de atributos prevê-se de longa leitura. O detective Dzahela é internacionalmente conhecido, sobretudo nas cidades da Matola, Maputo, da baixa a Costa do Sol. As suas fontes estão em alerta máximo e, segundo informações recentes, podemos referir que estão no encalço do meliante. E antes que seja tarde o nosso detective, graças às tecnologias já emitiu uma declaração pública, via-skype, a partir do seu escritório móvel. Esta declaração está a tornar-se célebre, tal é a velocidade de partilhas nas redes sociais, estremecendo meio mundo nos quadrantes do crime.

HOJE VAI MORRER UM CÃO E UMA CÃ!

Informo aos moradores das zonas da Matola, de João Mateus ao Língamo, de Língamo à Baixa da cidade, e de lá até a Costa do Sol, que o cidadão Barcolino, o inquerível está mal comigo. Através de indicações superiores e jurando as minhas platinas fui destacado para esta missão. Garanto cumprir com brio e eficácia. E não tenho receio nenhum em dizer que o senhor Barcolino, sim você mesmo que me está a mirar vou-te prender, em 25 horas, no máximo. O mundo está farto de saber que és um Mafioso incorrigível. Não vou aqui reveler a minha táctica. Adianto apenas que vou-te procurar na tua casa no bairro dos pescadores. E, se te encontrar enquanto não estás, vou directo à Parte Incerta. Lá no teu bar favorito, ah, ah, aha – todo gabarolas e convencido – não falha nada. Vou-te prender bem, mesmo antes de terminares o último copo e de beijares a nova amante. Vou interromper esse festim sem gastar uma bala. O meu equipamento resolve tudo!

Mas oiça aqui. Venho de longe, batendo no peito, por três vezes, com os olhos desorbitados de fúria – o meu admirável ídolo Xidiminguane já senteciou a nossa missão comum. Vou-me guiar no registo de Lucílio Manjate*. A tua missão Barcolino é fugir. A minha, o próprio detective Dzahela é te prender. Xidiminguane disse e eu aqui, na paz dos deuses do mar e da terra informo-te: «onde vamos nos encontrar nunca mais o capim germinará». Não te rias, seu infame e miserável. Vou acabar com essa mania de mafiares malta nós, andares por aí a fingires que morreste enquanto estás vivo na morte da vida.

Tenho dito!

O comandante

Dzahela

*Crónica inspirada na novela de Lucílio Manjate, A TRISTE HISTÓRIA DE BARCOLINO, Cavalo do Mar, 2018

 

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