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Banco Central mantém taxa de juro em 17,25%

O Comité de Política Monetária (CPMO), do Banco de Moçambique, decidiu manter a taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, em 17,25 %. Esta decisão é sustentada pelo agravamento dos riscos e incertezas associados às projecções da inflação, não obstante as perspectivas da sua manutenção em um dígito no médio prazo.

O regulador do sistema financeiro nacional explica que, em Agosto de 2023, a inflação anual reduziu para 4,9 %, depois de 5,7% em Julho. Esta redução é explicada, principalmente, pela queda dos preços de bens alimentares, favorecida pelo prolongamento da época fresca, num contexto de estabilidade do Metical.

“A inflação subjacente registou um aumento, a traduzir, fundamentalmente, o incremento dos preços nas classes de restauração e de vestuário e calçado. Para o médio prazo, mantêm-se as perspectivas de uma inflação de um dígito, reflectindo, sobretudo, a estabilidade do Metical e o impacto das medidas que vêm sendo tomadas pelo CPMO”, refere o documento.

De acordo com o documento, os riscos e as incertezas subjacentes às projecções da inflação agravaram-se. A nível interno, prevê-se a prevalência da pressão sobre a despesa pública e das incertezas quanto à evolução e aos efeitos de eventos climáticos extremos. Na envolvente externa, destacam-se as incertezas quanto à magnitude do impacto do prolongamento e escalada do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, bem como a tendência recente para o aumento dos preços dos combustíveis. A materialização destes riscos poderá concorrer para uma aceleração da inflação, desviando-a da trajectória esperada.

O Banco de Moçambique (BM) tem como mandato primário manter a estabilidade de preços, de modo a assegurar a protecção do poder de compra dos cidadãos. Tal pressupõe que a inflação seja mantida baixa, em um dígito, e estável no médio prazo.

Sobre a decisão do CPMO, o economista Mukhtar Karimo entende haver condições para o Banco de Moçambique baixar ligeiramente a taxa de juro, como forma de sinalizar a melhoria dos indicadores na economia nacional, destacando a melhoria nos níveis de inflação nos últimos meses.

“Eu percebo o que o Banco de Moçambique diz no seu comunicado. Estamos a aproximar-nos ao fim do ano e,, normalmente, nessas alturas, há maior procura de bens alimentares e as intempéries normalmente assolam o país nos meses de Dezembro e Janeiro. O que o Banco de Moçambique fez foi antecipar-se a um possível choque”, explicou para, de seguida, acrescentar que a evolução positiva de alguns indicadores, tais como a estabilidade da moeda, leva a concluir que o BM poderia sinalizar para baixo, reduzindo a taxa nem que fosse em 25 pontos base, para influenciar a melhoria da economia.

Para Carimo, o facto de sinalizar com uma redução, pequena que seja, não iria estimular a procura por novos financiamentos, mas faria com que as empresas que têm créditos já contatados teriam um balão de oxigénio, e tivessem mais capital para importar mais e comprar mais no mercado interno e esse fluxo poderia ser cada vez mais revitalizado.

“Hoje, nós podemos dizer taxativamente que os objectivos do Comité de Política Monetária foram eficazes, isso em termos macroeconómicos, porque temos a inflação a reduzir e a moeda estável, mas, do outro lado, na economia real, sugaram liquidez do mercado e fizeram com as empresas não tivessem financiamento para continuar a laborar e reinvestir noutros sectores”, argumentou.

Sobre o mesmo assunto, o economista Egas Daniel, também defensor da tese de redução da taxa de juro, entende que o Banco de Moçambique está a ser cauteloso, uma vez que, com o aproximar do fim do ano (devido ao aumento da procura), espera-se uma mudança nos indicadores que ditam a variação da taxa de juro.

Daniel aponta que o impacto da manutenção é negativo para a economia, a destacar as famílias que serão obrigadas a manter restrição no consumo do crédito; as empresas continuarão sem incentivo para aumentar o investimento para produzir mais e haverá limitação na produção e na geração de emprego.

O economista levanta, como uma das razões da manutenção da taxa de juro, o (alegado) desalinhamento entre as medidas de política monetária e fiscal, aliado às previsões de despesas dos anos 2023 e 2024.

“É difícil esperar que o Governo prossiga com uma política restritiva. Uma das razões tem a ver com o ano 2024 demandar maior despesas por conta das eleições, e um outro ponto é o de que, nos primeiros três anos, o Governo não foi capaz de alcançar muitas metas, com destaque para os sectores de educação, o contexto da COVID-19 e o impacto da guerra russo-ucraniana, o que faz com que o Governo se sinta pressionado em alcançar as metas nesses últimos dois anos de governação. O custo da despesa acaba por ser repassada para a economia e o banco central procura controlar através da taxa de juro, explicou a finalizar.

Os interlocutores falavam esta quinta-feira no espaço O País Económico da STV.

 

PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO E EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA

Segundo o relatório do CPMO, mantêm-se as perspectivas de um crescimento económico moderado no médio prazo.  A perspectiva é baseada no facto de, no segundo trimestre de 2023, o Produto Interno Bruto ter crescido 4,7 %, a reflectir, essencialmente, um desempenho assinalável da indústria extractiva, com destaque para a produção de gás natural.

No médio prazo, antevê-se que a indústria extractiva continue a contribuir para a aceleração do crescimento do PIB. Excluindo os projectos de gás natural, prevê-se que a actividade económica continue a recuperar-se, não obstante os prováveis impactos negativos dos choques climáticos sobre a produção agrícola e diversas infra-estruturas.

Já o endividamento público interno, excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabilidades em mora, situa-se em 321,1 mil milhões de Meticais, o que representa um aumento de 46,0 mil milhões em relação a Dezembro de 2022. O CPMO continuará a monitorar a evolução dos riscos e incertezas associados às projecções da inflação e não hesitará em tomar as medidas correctivas necessárias.

A próxima reunião ordinária do CPMO está marcada para o dia 29 de Novembro de 2023.

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