A segunda longa-metragem de João Ribeiro foi rodada em Maputo, em 2018. Tantos meses depois da pós-produção feita no Brasil e em Moçambique, Avó Dezanove e o segredo do soviético vai estrear no Pan African Film Festival, em Los Angeles, na Califórnia, nos Estados Unidos de América.
A estreia internacional do filme moçambicano no considerado maior festival de cinema negro nas terras do “Tio Sam” vai acontecer durante a 28ª edição daquele evento, a decorrer entre 11 e 23 de Fevereiro. Por isso mesmo, o realizador do filme sente-se satisfeito. Primeiro, porque a oportunidade sucede depois de um longo trabalho na busca de financiamento e apoio para a produção, preparação da produção e edição da obra cinematográfica, e, segundo, porque Avó Dezanove e o segredo do soviético vai estrear internacionalmente num festival relevante, de facto, e que acontece há 28 anos. Inclusive, lembra João Ribeiro, o afamado Black panther, de Ryan Coogler, estreou naquele festival.
A história da segunda longa de João Ribeiro passa-se numa cidade além do tempo e da geografia, num bairro não identificado, que ganha contornos quase mitológicos. A vida dos moradores gira à volta da construção do Mausoléu de um Presidente falecido. No entanto, o monumento acaba por ameaçar a vida tranquila que todos levam quando as autoridades anunciam que as casas do bairro têm de ser dinamitadas para a obra ser terminada.
Tentando não comparar, já que cada filme é diferente, João Ribeiro adianta que Avó Dezanove e o segredo do soviético é uma produção mais recomendável para ver em família, do que O último voo do flamingo, sua longa de estreia, até porque os protagonistas são crianças (Jaki, Jeanu dos Santos, e Pi, Caio Canda).
Na realização de João Ribeiro, a história do filme adaptado do livro do escritor angolano Ondjaki, que esteve em Moçambique ano passado, dura 90 minutos, contando com importantes actores de Moçambique (Ana Magaia, Anabela Adrianoupulos, Adelino Branquinho, Mário Mbjaia, Elliot Alex, etc.) e estrangeiros (Flávio Bouraqui, do Brasil; e Dimitri Bogomogov, russo).
Uma das expectativas de João Ribeiro é que a exibição do Avó Dezanove e o segredo do soviético no Pan African Film Festival exponha e promova a longa-metragem que terá estreia nacional nos finais do mês de Fevereiro, em Maputo, na quinta mostra de cinema africano. Nesse evento, a longa de Ribeiro será o filme de abertura.
O Pan African Film Festival é um evento cujo objetivo, de acordo com a organização, é “apresentar e mostrar o amplo espectro de obras criativas negras, particularmente aquelas que reforçam imagens positivas e ajudam a destruir estereótipos negativos. Acreditamos que o cinema e a arte podem levar a uma melhor compreensão e promover a comunicação entre povos de diversas culturas, raças e estilos de vida, enquanto ao mesmo tempo servem como veículo para iniciar o diálogo sobre as questões importantes de nossos tempos”.
O Festival americano foi fundado em 1992, e, sem fins lucrativos, dedica-se à promoção da compreensão cultural entre os povos de ascendência africana. Portanto, desde os finais do século passado, anualmente, o evento apresenta mais de 150 filmes de artistas da América, de África e Europa, todos exibindo a diversidade e a complexidade das pessoas de ascendência africana.
Também anualmente, o Pan African Film Festival apresenta prémios de reconhecimento aos principais actores. Entre os laureados até aqui estão Forest Whitaker, Idris Elba e Nate Parker. Todos eles são negros e já fizeram filmes sobre o racismo ou a condição do negro. O primeiro, por exemplo, contracenou com Denzel Washington em The great debates (2007). O segundo encarnou a história de Nelson Mandela em Long walk to freedon (2013). Já o terceiro, além de ter contracenado com Denzel Washington e Forest Whitaker, também actuou como protagonista na longa A birth of a nation (2016), que tem a sua própria direcção.
Portanto, sem saber ainda se irá viajar para os Estados Unidos próximo mês, é num festival daquele país que o novo filme de João Ribeiro vai estrear. Igualmente de Moçambique, no Pan African Film Festival será apresentado a longa-metragem da Mahla Filmes: Resgate, o que constitui um grande marco para o cinema moçambicano, segundo entende o autor de Avó Dezanove e o segredo do soviético.