Dias depois de vencer o Prémio INCM/ Eugénio Lisboa, Aurélio Furdela protesta contra o silêncio da crítica literária moçambicana e minimiza o valor monetário há pouco encaixado.
Aurélio Furdela é um escritor já habituado a vencer concursos literários. Um ano depois de ter sido laureado Prémio Literário 10 de Novembro, eis que o escritor volta a destacar-se como o grande vencedor do Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM)/ Eugénio Lisboa.
Apesar de não se apegar ao valor monetário dos prémios, que neste caso oferece cinco mil euros, cerca de 350 mil meticais, o prémio conquistado, para Aurélio Furdela, reveste-se de um grande significado, sobretudo nesta fase em que, segundo o escritor, a crítica não acompanha a qualidade literária dos autores moçambicanos. “Os escritores no nosso país estão marginalizados pela ausência da crítica literária. Por isso, infelizmente, há uma tendência de se pensar que o que legitima o escritor são os prémios. Já ninguém presta atenção no que se está a escrever actualmente, e isso não deve continuar assim”, afirmou Furdela, amuado.
Colocando as coisas no domínio da questão estética, o novo prémio INCM/ Eugénio Lisboa encontra neste reconhecimento um farol que lhe ajuda a perceber em que nível se encontra, sublinhando: “Mas não me deixo iludir pelos prémios literários, que dependem dos membros do júri, da avaliação de quem lê. Se calhar, se fossem outros membros de júri nem ganharia esta edição. Os prémios pouco importam”.
A obra de Furdela premiada é intitulada Saga d’Ouro. Na altura em que submeteu o texto, o autor estava a escrever dois romances em simultâneo. Optou por aquele que se encontrava mais ou menos pronto para concorrer quando o regulamento chegou-lhe às mãos. Além desses dois romances, Furdela tem um livro de contos pronto para sair. Enquanto isso não acontece, o escritor revela que sempre teve um projecto literário, que atravessa etapas, as quais, inclusive, obrigaram-no a voltar à carteira para estudar História, por ter uma paixão pelo romance histórico. Paralelamente a essa paixão, Furdela quer voltar a recuperar a escrita do texto dramático, que abandonou há anos. E quanto à Saga d’Ouro? “Espero que os meus leitores encontrem neste livro um Furdela mais maduro, ousado e que se identifiquem com o texto”.
Saga d’Ouro foi escrito em mais ou menos quatro anos e é o segundo prémio INCM/ Eugénio Lisboa, depois de Mundo grave, da autoria de Pedro Pereira Lopes, distinguido ano passado.
O júri que decidiu premiar Saga d’Ouro foi constituído por Ungulani Ba Ka Khosa (Presidente), Teresa Manjate e Paula Mendes. De acordo com uma nota enviada pelo Camões – Centro Cultural Português, citando a acta do júri, a atribuição do Prémio Literário INCM/Eugénio Lisboa a Saga d’Ouro, num universo de 15 candidaturas, “deve-se ao facto da escrita acurada a nível linguístico e por manifestar um domínio sobre as técnicas da narrativa. Nesta edição do prémio, houve ainda uma menção honrosa à obra Sonhos manchados, sonhos vividos, de Agnaldo Bata.
O LIVRO PREMIADO
Saga d’Ouro é uma história cuja trama assenta-se no choque cultural gerado pelo contacto entre África Ásia e Europa, recuperando como conflito a expedição militar de Francisco Barreto, em 1571, enviada pelos portugueses de vingar a morte do padre Gonçalo da Silveira, que, a misturar algumas frustrações amorosas, é acusado, por instigação de quem defendia interesses asiáticos, de prática de feitiçaria e morto por decreto do soberano africano. No entanto, o enredo não perde de vista os interesses económicos da expedição portuguesa, virada à conquista das zonas produtoras do ouro. Esta é uma história de ficção que Furdela pretende explorar em três volumes.
A BI(BLI)OGRAFIA DE UM AUTOR
Aurélio Furdela nasceu em 1973, em Maputo, e é licenciado em História, pela UEM. É escritor, dramaturgo, guionista e letrista. No seu percurso literário publicou: De medo morreu o susto; O golo que meteu o árbitro; As hienas também sorriem. Escreveu e publicou peças originais para o programa de teatro radiofónico “Cena Aberta”, da Rádio Moçambique, como “Gatsi Lucere”, publicada posteriormente em livro. Como letrista é autor da canção oficial da X Edição do Festival Nacional da Cultura – 2018, realizado no Niassa . Além do Eugénio Lisboa, Furdela foi, entre vários, distinguido com os prémios: Revelação de Literatura AEMO/Instituto Camões (2003); Prémio Revelação de Texto Dramático AMOLP/Instituto Camões (2003) e 10 de Novembro (2017).