Há cada vez mais casos de cancro da mama em Moçambique e, apesar de haver mais consciência para o rastreio, a falta de serviços de quimioterapia e radioterapia acaba por levar algumas pacientes a desenvolverem casos complicados da doença.
Um dos exemplos de mulher afectada pelo cancro da mama é Nazalda Manuel Lassido, que, até 2014, era uma jovem saudável e alegre. Depois disso, foi diagnosticada com cancro da mama. Fez o tratamento hospital e foi-lhe sugerido pelo médico que, apesar do tratamento, devia dar atenção ao controlo. Devido a vários constrangimentos logísticos e de mobilidade, a jovem nem sempre conseguiu aproximar-se ao hospital.
Com o passar do tempo, o nódulo reapareceu na mama, em 2023, muito maior, o que levou à cirurgia.
A amputação da mama aconteceu no Hospital Geral de Lichinga, na província de Niassa. Nessa fase, a paciente teve informação de que se tratava do cancro da mama. Em casos do género, depois da cirurgia de retirada da mama, a paciente deve ter consultas de seguimento para fazer sessões de quimioterapia ou radioterapia para eliminar todas as células cancerígenas no organismo, mas não foi o que aconteceu com ela. Nazalda não teve quimioterapia em Niassa.
Um ano depois, em Outubro deste ano, foi transferida para a cidade de Nampula, com um estágio avançado de propagação do cancro no organismo.
O médico cirurgião-geral, António Carlos, foi quem recebeu a paciente no Hospital Central de Nampula e explicou que se a situação da paciente tivesse evoluído bastante, até ao nível 3.
A demora no início da quimioterapia por falta de condições, na cidade de Lichinga, foi determinante para o agravamento do cancro da mama de Nazalda Manuel Lassido.
Sérgio Ferrão é o médico oncologista que é responsável pela quimioterapia recomendada à paciente. A escolha desse tratamento, diz o médico, depende de vários factores.
Quando a entrevista com o médico Sérgio Ferrão foi gravada, Nazalda tinha feito a primeira sessão de quimioterapia. A jovem mãe sente-se mais optimista, apesar da agressividade do tratamento.
Porém, para o sucesso desta fase, ela precisa de ter um nível de sangue no organismo capaz de suportar as necessidades decorrentes da natureza do tratamento.
Nazalda luta pela cura através da quimioterapia, mas há tantas outras mulheres e homens com os diversos tipos de cancro que estão na incerteza se terão ou não a possibilidade de ter um tratamento através da radioterapia, outra forma de tratamento.
No entanto, neste momento, a única máquina de radioterapia que existe no país, em concreto no Hospital Central de Maputo, está, desde Março, avariada, ou seja, há quase nove meses. Os cerca de 50 pacientes com diferentes tipos de cancro que são atendidos, por dia, estão sem fazer esse tratamento que é essencial para a cura do paciente.
A referida máquina, que começou a operar em 2019, após a inauguração do serviço de radioterapia no Hospital Central de Maputo, é de vital importância para o tratamento da doença. No país, por exemplo, é a única existente, sendo que atende pacientes de todo Moçambique e de países vizinhos.
Ao público, nenhuma informação em concreto foi dada e, pelo que apurámos, não há previsões de quando voltará a funcionar, por se tratar de uma avaria grossa, o que obriga os pacientes a recorrerem a países como Malawi e África do Sul para o tratamento, e aqueles que não têm condições para o efeito ficam largados à sua própria sorte.
Além desse problema da avaria da máquina, sabe-se que há outros, relacionados com a falta de material, como o caso de máscaras que são usadas durante o tratamento para pacientes com cancro de pescoço e de cabeça, obrigando os mesmos a comprarem fora do hospital a valores que rondam entre os 10 e os 15 mil Meticais, uma vez que sem elas, não tem como fazer o tratamento.
Este jornal está há mais de dois meses em contacto com o gabinete de comunicação e imagem do Hospital Central de Maputo e nunca teve sucesso para a gravação de uma entrevista de esclarecimento do que pode estar a acontecer, de que avaria se trata e qual é a dificuldade para resolver o problema.
De Janeiro a Setembro deste ano, a província de Nampula diagnosticou 1475 mulheres com nódulos mamários. Grande número incide em mulheres jovens.
Zambézia não fica atrás, por isso a secretária de Estado, Cristina Mafumo, pede que as mulheres sejam mais atentas aos sintomas.
De acordo com dados oficiais, são diagnosticados por ano cerca de cinco mil cancros da mama no país, sendo três mil deles letais.