Por: Rudêncio Morais
Geólogo & Vice-Presidente da Associação Geológica Mineira de Moçambique (AGMM)
Começo esta apresentação agradecendo, de forma especial, a Direcção do Museu Nacional de Geologia, e a todos os seus colaboradores, pela forma como tem induzido positivamente a classe geológico-mineira a fazer da geologia e dos recursos geológicos uma oportunidade de partilha e de aprendizado constante. A última vez que recebi um convite igual foi em 2018, aquando da realização da sétima Feira Nacional de Gemas, Minerais e Joalharia -EXPOGEMA, um espaço de encontro que coloca produtores, comerciantes, compradores, investigadores, académicos e apreciadores dos produtos mineiros em interacção.
O Museu Nacional de Geologia tem nos últimos anos criado um espaço de investigação e de partilha de grande valor académico-cientifico sobre a geologia de Moçambique, seus recursos e potencialidades, são exemplos disso, os artigos publicados sobre a descoberta em Moçambique de fósseis dos primeiros vertebrados da era dos dinossauros, assim como diversas palestras e cursos ministrados por colaboradores do Museu, e aqui podemos destacar o curso marcado para o próximo dia 23 de Maio, no Armazém Nacional de Carotes, e que tem como tema, a Análise da Matéria Orgânica na Pesquisa de Hidrocarbonetos.
O livro/catálogo de Gemas da Região Norte de Moçambique, que hoje se nos é apresentado, e que foi produzido pelo Geólogo e Professor João Marques, em colaboração com o Museu Nacional de Geologia, é mais um sinal do compromisso para com a contribuição do conhecimento, não só das gemas, mas também, do processo histórico da mineração em Moçambique, desde os tempos primordiais. Uma viagem sobre a mineração com marcas profundas sobre os diferentes processos de transformação no sector geológico mineiro nacional, assim como, de maturação do próprio conhecimento das potencialidades mineiras nacionais de forma evolutiva e factual.
O livro começa explicando as razões pelas quais o mesmo foi concebido, elencando, por exemplo, as dificuldades e desafios que o circuito informal de lavra de gemas e sua respectiva comercialização tem criado para a inventariação, quantificação e melhor taxação dos minerais e gemas extraídas, para depois fazer a ponte sobre a importância deste volume inicial no processo de catalogação nacional das gemas extraídas em Moçambique, assim como a sua aprofundada descrição.
Pese embora este volume inicial tenha como substrato rochoso do seu corpo, as gemas das províncias de Niassa, Cabo Delgado e Nampula, o mesmo aborda, por exemplo, a actividade da exploração mineira na década 30 do século passado, na actual província da Zambézia, que, segundo o autor, há indicações de que foi por lá que foi iniciada a mineração das gemas no País/Moçambique, uma constatação que é depois associada a descoberta dos pegmatitos e sua subsequente mineração naquela província.
Uma outra abordagem interessante que o livro nos apresenta, esta associada ao processo de descoberta da maior parte dos depósitos em Moçambique, segundo o mesmo, estes, não foram, na sua maioria, descobertos por meio de programas sistemáticos de prospeção e pesquisa geológica, mas sim, encontrados casualmente por agricultores locais, o que no fundo acaba sendo um chamado a necessidade de mais investigações por parte dos profissionais da área geológico mineira sobre os processos formacionais associados a esses recursos dos quais, o pais dispõe e a mineração é, em parte, salvo raras excepções, a mineração mecanizada de gemas na região norte de Moçambique e têm sido efectuadas sob forma de operações de pequena à media escala.
Prezadas e prezados, testemunhamos, hoje, ao lançamento de um livro mesclado entre o antigo e o moderno, que aborda os principais ambientes geológicos de ocorrência das gemas, com destaque para o ambiente pegmatítico, e os depósitos aluvionares, eluvionares. Ainda sobre as gemas, importa destacar a famosa água marinha com cor azul muito forte, e apelidada de Santa Maria Africana, descoberta em finas de 1992 – início de 1993, em Lalaua e Chalaua na província de Nampula, depois de ter sido descoberto em Outubro de 1992, na região de Mecula, junto ao rio Namirroe, no distrito de Gilé, Província da Zambézia.
Olhando para a região norte de Moçambique, o livro destaca o Rubi, as diversas variedades das turmalinas e os minerais do grupo do Berilo, para no final dizer que é a beleza destes minerais que induziu o Museu Nacional de Geologia e o professor e Geólogo João Marques a abraçar este projecto que visa contribuir para o conhecimento destes minerais que o país dispõe e que são fonte, desde há milhares de anos, de encanto e fascínio.
Termino apelando as prezadas e prezados colegas para que se deixem tocar pelo encanto e fascínio das gemas, de tal forma que, mais livros no sector geológico mineiro sejam produzidos e lançados; quem lê este livro, mesmo que não seja geólogo, acaba percebendo um pouco mais sobre a geologia das gemas em Moçambique e as suas particularidades em termos de propriedades.
Texto de apresentação do livro “Contribuição para o Conhecimento das Gemas da Região Norte de Moçambique”, Maputo, 18/05/2022.