Elcides Carlos é daqueles músicos cujo tempo deu-lhe o bónus da criatividade e maturidade, é daqueles músicos, que desde cedo já conhecia o caminho a trilhar, ainda em tenra idade, convivia e ouvia grandes vozes e exímios instrumentistas de várias latitudes musicais: James Brown, Martinho da Vila, Manu Dibango, Steve Kekana, Fany Mpfumo, entre outros.
Elcides Carlos cujo percurso todos somos testemunhas, além das suas qualificações especificas, o impar dedilhar, a voz que nos surpreende no tema Mhango, a contar com a bela participação do timbileiro Cheny Wa Gune, uma perfeita ligação ao universo tradicional e ao teatro, cujas falas tem o actor Horácio Guiamba como edificador de outras margens, merece também menção o tema Ni Wa Makhombo. original de Fany Mpfumo, com uma soberba revisitação na guitarra pelo líder Elcides Carlos e o saxofone de Drew Zaremba.
Aliás, todo disco é um pacto poético-musical, sempre perto das grandes linhas melódicas, onde cada música procura a beleza da sua estrela clarividente. Elcides debuta um desconhecido letrista de inúmeras referencias e matrizes universais, como Djavan, Caetano Veloso e o poeta de Celso C. Cossa, só para citar alguns. Ao convocar o tema Sedução, nas fantásticas vozes de André Sansi e Sheila Malijane e Dietas da moda, na vertiginosa e intensa presença de Bhaka Yafole, ilustramos também a outra face de Elcides Carlos, sempre apagada pelo guitarrista. Todo este rosto, diria mascarado, uma outra e nova paisagem, deixando per si, uma espécie de “revanche” com os seus contemporâneos, tornando-se no mais plural, identitário, nacional e universal álbum dos últimos anos lançado após o confinamento em Moçambique.
A qualidade do álbum corresponde também aos 18 anos de aprendizado e a consequente afirmação no cenário musical nacional e internacional, devolvendo-lhe o seu lugar predilecto no mundo do jazz. SENSE OF PRESENCE é feito de uma genialidade que gera consensos e algumas paixões inesperadas, a pluralidade do seu valor simbólico e a visibilidade dos trilhos do seu eterno mestre e professor João Cabral, o percursor do seu trajecto musical, tendo a guitarra como o seu porto seguro e o jazz como seu horizonte.
Estamos certos, que o facto de contar com grandes participações nacionais e internacionais, dá uma fusão única de sonoridades diferentes, um prodigioso fenómeno uníssono, multiplicando-se mutuamente nas 12 faixas que compõem o álbum. Há um reencontro interminável, uma interessante encruzilhada de culturas e harmonias: entre o jazz, o afro, a rumba, bossa nova, timbila e marrabenta.
Por outro lado, o contraponto poético e o pensamento holístico, equilibram as 12 faixas, com os dedos e a voz assentes na constelação tradicional, unanimemente consideradas matérias nucleares de todas as composições. São também uma presença segura, os habituais companheiros musicais, outros desconhecidos do publico moçambicano e outros conhecidos:
Realdo Salato (baixo e arranjos), Tony Paco (bateria e percussão), Stélio Zoe (bateria), Nelson Manjate (percussão), Deodato Siquir (bateria, percussão e voz), Pappy Miranda (teclados), Nicoulau Cauaneque (teclados), Sheila Malijane (voz), Pauleta Muholove (voz), Cheny Wa Gune (timbila), Bhaka Yafole (voz), Radjha Ali (voz), e Edmundo Matsielane (voz).
A nível internacional, o álbum contou com Drew Zaremba (sopros, hammond organ, USA), Etienne Stadwjik (EUA), André Sansi (Brasi), Riquinho Fidelis (percussão, Brasil), Eloi Brito (bandolim, Brasil), Rosário Giuliane (alto sax, Itália), Valentina Bartoli (hamond organ, Itália), Mario Avesani (sopros, Itália), Valery Stepanov (teclados, Russia), Dylan Roman (teclados, RSA), Ernie Smith ( guitarra e voz, RSA), Madova Mbemba (voz, Congo) e Ekaterine James (violino, Cuba).
Por: Amosse Mucavele