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Árbitros sem subsídios há vários meses

Esta segunda-feira, o programa “Ao Ataque” da STV, debateu a situação da arbitragem no país. Os convidados resolveram quebrar o silêncio e falar sobre o mal que enferma a classe. Arão Júnior, antigo árbitro de futebol e actual presidente da Comissão de Árbitros da Cidade de Maputo, e Fernando Massavanhane, presidente da Comissão Provincial de Árbitros da Província de Maputo, juntaram-se aos jornalistas, Renato Caldeira e Alexandre Zandamela, para falar sobre o assunto. 
O grito de socorro não poderia ter ecoado de forma mais grave. A revelação de que os árbitros da segunda liga de futebol nacional, não recebem seus subsídios praticamente desde o início das competições da temporada em curso, surgiu que nem uma bomba. Os subsídios, que incluem alimentação, deslocação, acomodação e comunicação aparecem como que uma miragem. Segundo os representantes da arbitragem, a Comissão Nacional de Árbitros de Futebol (CNAF) deve responder sobre a situação, pois é o organismo máximo que superintende os árbitros em Moçambique.
A situação está a tal ponto que segundo Arão Jr. em muitos casos devido à falta de verbas os “homens do apito” vêem-se obrigados a recorrer a empréstimos solicitados a terceiros para cobrir todas as despesas nas suas deslocações às províncias ou distritos que podem ir até 400km na zona sul do país. Questiona sobre que nível de profissionalização o país pode exigir aos árbitros dentro destas condições. O ex-árbitro dirige, hoje, uma comissão composta por cerca de 90 membros, e para ele nada tem sido fácil. Porém, a saída encontrada para a situação foi a “sensibilização” dos companheiros para que continuem a desempenhar suas funções com zelo na espera de que dias melhores cheguem. 
Com muita mágoa, os jornalistas e comentadores residentes do programa analisaram a situação da arbitragem sob a perspectiva do risco de viciação dos resultados, numa situação clara de vulnerabilidade à corrupção, sob disfarces indisfarçáveis em relação a identificação da mão que suborna. Renato Caldeira e Alexandre Zandamela falam mesmo de uma carta envenenada, sobre a qual não se consegue aplicar o contra-veneno, apesar de ser já conhecido. 
 

Sobre a verdade desportiva 
O árbitro, no exercício da sua função, deverá proceder com imparcialidade, independência, competência, diligência e discrição incorporando o “Código de Ética” dos árbitros na legislação moçambicana de arbitragem. A imparcialidade verifica-se no não favorecimento do árbitro a alguma das partes ou a aspectos da matéria posta em causa; a independência caracteriza-se no não envolvimento do árbitro, directa ou indirectamente, antes, durante ou depois, com algumas das partes ou factos relativamente à matéria sob julgamento, no caso o jogo. Aliás, tamanha é a expressividade dessas características, que “as pessoas indicadas para desempenhar as funções de árbitro têm o dever de revelar, antes da aceitação da função, qualquer facto que denote dúvida justificada quanto à sua imparcialidade e independência”. Que espaço existe para aplicação destes princípios, na actual situação dos árbitros nacionais?
Uma vez mais os jornalistas Renato Caldeira e Alexandre Zandamela questionaram sobre como apelar a verdade desportiva, quando não existem condições criadas para se evitar desvios comportamentais. Como fica a consciência de quem deve zelar pela conduta acertiva, se não cria condições para evitar desvios? Os jornalistas mostraram-se temerosos quanto a materialização da verdade desportiva, sobretudo quando se está a algumas jornadas do encerramento do Moçambola e há poucas outras do fim da fase de apuramento zonal à mesma prova. Arriscam e dizem que a falta de condições imposta aos árbitros poderá colocá-los numa situação de ausência de consciência e exposição a possíveis aliciamentos.
 

O silêncio da CNAF
Que nível de rigor se exige a CNAF no tratamento dos problemas que afectam a arbitragem e que podem influenciar negativamente no curso normal das provas no país? Muito recentemente, contactada pelo programa “Ao Ataque” para responder sobre o mais recente e flagrante caso de corrupção ocorrido em Nampula, num jogo da segunda liga e que culminou na penalização de um juiz e seus assistentes, a CNAF resumiu-se a desculpa de que em tempo oportuno versaria sobre a situação e demais temas atinentes aos árbitros sob sua batuta.

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