O País – A verdade como notícia

Água do mar avançou 30 metros para a terra firme em Vilankulo

Foto: O País

Por um lado, cheias e inundações, que ciclicamente desalojam milhares de famílias e destroem tudo que foi construído durante anos. É o caso da Vila de Nova Mambone, sede do distrito de Govuro, onde, no ano passado, milhares de famílias ficaram desalojadas na sequência das inundações que, em Janeiro de 2021, assolaram o distrito depois do transbordo do rio Save.

Por outro lado, a água necessária para a produção agrícola é que causa dor de muitos agricultores, uma vez que, quando chove, milhares de hectares ficam inundados e, com isso, perdem-se muitas culturas.

Se há quem chora porque a água destruiu tudo, há também quem chora por falta dela. Sucede que, em Outubro do ano passado, vários agricultores lançaram a semente, mas, sem chuva, tudo secou devido ao calor intenso.

Na esperança de conseguir alguma coisa, em Janeiro deste ano, os mesmos agricultores voltaram a lançar sementes, mas o resultado não foi diferente. Tudo secou, mais uma vez.

Mas não é só na produção de comida que as águas fazem estragos. Em Vilankulo, por exemplo, as águas do mar avançaram cerca de 30 metros para o continente nos últimos 10 anos.

Na marginal da Cidade Turística de Vilankulo, é notória a presença violenta da água do mar, uma vez que já está a ameaçar interromper a via de acesso e destruir algumas infra-estruturas.

Um desses lugares ameaçados é um complexo de restauração que fica mesmo na marginal, cujo proprietário teve de investir mais de dois milhões de Meticais para erguer um muro de contenção da água do mar, mas, hoje, oito anos depois, já não é mais eficiente para proteger o restaurante.

Aliás, na cidade de Inhambane, o avanço do mar também já faz das suas e ameaça derrubar residências, no bairro Muelé 1. São ao todo quatro casas em que foram construídos muros de contenção devido ao avanço do mar.

Mas, há poucos dias, a única barreira que protegia aquelas casas caiu, deixando as quatro famílias vulneráveis.

No distrito de Inhassoro, a água criou crateras enormes que ameaçam fechar estradas e derrubar empreendimentos comerciais.

Estes cenários eram impossíveis de ver ou prever há cerca de 15 anos, mas hoje já mostraram que vieram para ficar.

Segundo o delegado do Instituto Nacional de Gestão de Risco e Desastres em Inhambane, Cândido Mapute, os fenómenos naturais extremos, chuva, ciclones e secas acontecem com cada vez mais intensidade.

Mapute explica, por exemplo, que a chuva já não cai com a mesma intensidade e regularidade, um indicador de que algo não está bem com o clima e até coloca, como hipótese, a revisão do calendário agrícola.

Pensando nisso, as autoridades locais estão a ser capacitadas em matérias ligadas às mudanças climáticas, para que possam tomar medidas com vista à adaptação à nova realidade.

A capacitação foi promovida pela Associação dos Jovens Amigos de Govuro e juntou secretários permanentes, bem como técnicos dos Serviços Distritais das Actividades Económicas de Govuro, Inhassoro, Mabote, Vilankulo e Funhalouro.

Segundo José Mucote, daquela agremiação, em 2020, os países ricos prometeram um orçamento de 100 biliões de dólares para que os pobres pudessem desenvolver acções de adaptação às mudanças climáticas, mas, desse valor, apenas nove biliões foram desembolsados.

Para Mucote, isso significa que esses países pobres, incluindo Moçambique, tentam adaptar-se às mudanças climáticas num contexto de escassez de dinheiro.

Diante desse cenário, pretende-se que as autoridades locais saibam definir as suas prioridades nos planos de desenvolvimento local, de modo a que as comunidades se adaptem, gradualmente, às mudanças climáticas.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos