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“África pode ser futuro do Estado Islâmico”

A ameaça do grupo extremista Estado Islâmico cresce a cada dia em África e o continente pode ser “o futuro do califado”, alertou um especialista em segurança africano no Conselho de Segurança da ONU, citado pelo Observador.

Martin Ewi disse na terça-feira que o Estado Islâmico expandiu a sua influência além da medida em África, com pelo menos 20 países a sentirem directamente a actividade do grupo extremista e mais de 20 outros a serem usados para logística e para mobilizar fundos e outros recursos.

“Eles são agora centros regionais, que se tornaram corredores de instabilidade em África”, avaliou Ewi, que coordena um projeto transnacional sobre crime organizado no Instituto de Estudos de Segurança, na cidade sul-africana de Pretória, e que anteriormente foi responsável pelo programa de combate ao terrorismo da Comissão da União Africana.

O especialista em segurança afirmou que a Bacia do Lago Chade, que faz fronteira com Chade, Nigéria, Níger e Camarões, é a maior área de operação do grupo extremista, que determinadas áreas no Sahel são agora “ingovernáveis” e que a Somália continua a ser o “ponto quente” do EI no Corno de África.

Uma tentativa recente de assumir ou desestabilizar o Uganda falhou, mas Ewi indicou que uma afiliada do Estado Islâmico, as Forças Democráticas Aliadas, “continua a ser uma séria ameaça”.

O especialista disse ainda que o Estado Islâmico da África Central transformou algumas regiões do Congo e Moçambique em “matadouros humanos.

Ewi declarou, numa reunião do Conselho de Segurança sobre o último relatório do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, sobre a ameaça representada pelo Estado Islâmico, que, depois que os extremistas estabeleceram o califado na Síria e no Iraque, uma coligação internacional montou uma campanha militar para derrotar o EI.

O terrorismo foi levado para o sul na África, “mas nenhuma coligação semelhante foi montada para derrotar o Daesh em África, o que significa que o continente foi deixado para arcar com as consequências daqueles que estão a fugir da Síria e a encontrar refúgios seguros no continente”, comparou.

Ewi também apontou vários outros factores que tornaram o Daesh “tão bem-sucedido em África”: a presença de recursos naturais que permitem que grupos como o Daesh se financiem; a pobreza e a falta de vontade política para lidar com a questão palestiniana, que são as principais fontes de “radicalização” para muitos jovens africanos; e a capacidade do Daesh de trabalhar com outros grupos terroristas e criminosos no continente.

O especialista também citou a ausência de novas iniciativas em África para combater o terrorismo e a “abordagem avestruz”, ou seja, a recusa de encarar a realidade ou reconhecer a verdade, de muitos países que ignoraram os alertas precoces de ameaças terroristas.

Para derrotar o Daesh em África, Ewi disse que “a estratégia deve transcender o grupo e incluir as suas alianças com a Al-Qaeda e outros grupos criminosos, incluindo bandidos, pastores, gangues e vários grupos de crime organizado”.

O especialista instou o Conselho de Segurança da ONU a mobilizar equipamentos e fundos para reforçar as muitas operações de apoio à paz em diferentes regiões e garantir que as sanções a grupos e indivíduos sejam aplicadas.

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