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Adolescentes albinos (en)cantam pelo fim do preconceito

Celebra-se no próximo dia 13 de Junho, o Dia Mundial de consciencialização do albinismo. Alusivo a data, três crianças albinas tocam guitarra e cantam pelo fim do preconceito e da perseguição.

À entrada do jardim Tunduro, na cidade de Maputo agradáveis vozes acompanhadas pelo som da guitarra chamam atenção a qualquer um que lá se encontrava ou por lá passava. Caminhando mais adentro recinto, a música ia ficando mais agradável e mais próximo. Reduzia a distância e já se via a origem das lindas músicas: eram adolescentes albinos, provenientes da província de Gaza que cantavam pelo fim do preconceito e perseguição contra esta raça. Ao todo, são três. Cada um com seu talento, mas que, combinados, formam uma “mini banda” fantástica e excelente para os apreciadores da boa música.

Matias Macuácua é um dos integrantes da equipa. Ele tem 19 anos de idade. A sua função é tocar guitarra. Com os seus dedos, sem olhar para as cordas, Matias mostrava total domínio sobre o instrumento e, obedecendo aos seus comandos, a guitarra tirava sons agradáveis. Além de tocar, Matias canta e a temática das suas composições é pelo fim do preconceito contra pela pessoa com problemas de pigmentação da pele e não é para menos, ele também é vítima.

“Na rua, às vezes, encontramos com pessoas que, não sei como chamar, nos fazem sentir diferentes e são coisas que não nos agradam muito”, denunciou Matias Macuácua, adolescente com problema de pigmentação da pele.

E por conta deste preconceito, Matias Macuácua sentia-se deprimido e ficava isolado do resto do mundo, mas com o tempo começou a encarar os comentários preconceituosos de cabeça erguida.   

“Eu faço a pessoa ver que nós somos iguais e só temos diferença da cor da pela, mas somos iguais” carregou iguais, acrescentando que faz, também, a questão de mostrar podem ser amigos assim como ele tem amigos da sua raça.     

Aos 19 anos, Matias já fez décima segunda classe e tem como um dos principais sonhos ingressar no ensino superior, mas o seu pai é reformado das minas e não dispõe de condições para colocar ele e os seus irmãos na faculdade.

“Naqueles tempos que ele ainda trabalhava nas minas da África do Sul, acho que não seria problema, mas agora ele trabalha como motorista de chapa, então fica muito difícil para ele conseguir meter a mim e os meus irmãos em simultâneo na faculdade”, revelou Matias, acrescentando que tem dois irmãos que estão prestes a entrar na faculdade e enquanto isso “eu vou esperando…não sei se vou conseguir, mas era meu sonho ir a faculdade”, sublinhou Matias Macuácua.

Mas enquanto não entra na faculdade, ele vai emprestando a sua voz e os seus conhecimentos pela guitarra, à luta pelo fim do preconceito.
“Eu gostaria de pedir aos outros irmãos que mudem e nos vejam como gente porque nós somos pessoas também. Não importa, como dissemos na música, a cor, a raça, somos todos iguais”, apelou.
Quem também clama pelo fim do preconceito é Gelódia Macuácua, de 16 anos de idade e irmã de Matias. E apesar de não ser tarefa fácil, Gelódia procura ignorar comentários preconceituosos.

“No momento em que somos discriminados dói, mas depois passa porque para mim não é importante aquilo que dizem. Eu faço tudo que eles fazem sou igual a eles têm. Nariz, boca, olhos…tenho tudo que eles têm” referiu Gelódia Macuácua.

Enquanto Gelódia canta, através de poesia, a pequena Ermem Gerson, tímida e sorridente, também procura mostrar que é igual a todos.
“Alguns olham-me como se eu fosse um obstáculo para vida deles, mas outros olham-me com felicidade. Os que me discriminam dizem que sou albina e que sou vovó por usar óculos”, citou Ermem Gerson, alguns exemplos de discriminação de que é vítima.

E com ousadia e em tom de brincadeira, ela responde às pessoas que a discriminam.

“Às vezes, eu olho para mim no espelho e me vejo assim, mas quando estou com os meus colegas, me esqueço que sou albina, me esqueço os meus problemas e eu brinco, normalmente. E quando me tratam mal, só rio mesmo e digo que é inveja porque eles não têm o que eu tenho”, contou a pequena Ermem com um riso estampado em teu rosto.  

A mãe da pequena Ermem conta que aos oito anos, a sua filha foi se olhar ao espelho e percebeu que era albina.

“Ela perguntou: mãe, porquê sou diferente de si? Porquê não tenho a sua cor? E eu dizia porque Deus quis dar essa cor. Ele dá a cada um de nós a cor que acha melhor para e perguntava porquê ela não tinha a cor dos meus cabelos e eu explicava a mesma coisa”, recordou a mãe, acrescentando que quando teve o segundo filho ela questionou porquê não era igual ao seu irmão ou ele não era igual a ela, mas prontamente a mãe respondia, “Deus quando faz um bebé, Ele diz que esse bebé vai ser muito especial então tem que ter uma determinada cor porque tem uma missão e tu também tiveste uma missão por isso tens essa cor”, explicou Bia Alexandre, mãe da Ermem Gerson.

A explicação da mãe não pôde evitar que a sua filha fosse vítima do preconceito por ter uma cor diferente.

“Teve um pouco de preconceito nos primeiros dias de escola, mas depois passou. Eu conversei com alguns professores sobre isso e eles perceberam e de lá para cá as coisas melhoraram, os pais ajudaram muito”, reconheceu dona Bia Alexandre.

Reduziu o preconceito, mas instalou-se o medo devido a onda de perseguição contra albinos para fins obscuros.

“Essa questão deixa-me muito alarmante muiiiiiiito alarmante”, carregou o “i” para expressar o seu nível de preocupação e “confesso que minha filha até hoje não sai da casa sozinha. Se eu não estou em casa, meu pai sacrifica-se. Vai buscar a ela na escola, vai deixar em casa e vice-versa”, afirmou Bia Alexandre.

O Dia Mundial de Consciencialização do Albinismo acontece anualmente a 13 de junho. Celebrado pela primeira vez em 2015, o dia foi proclamado pela ONU, para divulgar informação sobre o albinismo e para evitar a discriminação aos albinos, combatendo ao mesmo tempo a sua perseguição. Celebrar as conquistas das pessoas com albinismo é outro objetivo desta data.

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