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Adágio

Por: Belchior Eduardo

 

Palavras certas por encontrar, certamente os sinónimos aproximados ao adágio diriam que, mesmo essa, é uma corrida desenfreada para um destino não apenas escuro, também desconhecido. Há de facto palavras que invadem nossas acções atemporais que não sabemos o que realmente significam.

Numa temperatura instável, de dia calor, por meia hora talvez frio ou calor, por outras vezes do dia, calor sucumbindo apenas os cobertores e de fora frio, que penetram e extravasam as narinas de qualquer um que for.

Bairro que dizem fazer limite com a principal cidade, mas de limite físico como tal, nada existe, apenas uma magna fábrica de cervejas nacionais, vi e testifico isso.

Ali as rodovias são de terceira ou quarta, tipicamente esburacadas, isto não é mesmo novidade. Daquele lado, a polícia não se fazia sentir, circunscreviam-se apenas em estradas alcatroadas e entroncamentos das principais avenidas.

O que é mesmo comum, são jovens desperdiçando sua mocidade usando técnicas de mendicidade para matar seus anseios alcoólatras.

Existe uma classe, a dos idosos, que de forma aparentemente humilde saúdam incansavelmente há quem os vê a passar metros de si.

Havia no bairro uma casa, em que o proprietário falecerá no interior dela, há uns dias mudara-se para lá um casal de jovens, expectantes da vida e dispostos a dar inicio a sua nova jornada. Trava-se de Abdul e Tânia.

Abdul, era um homem pouco avantajado, dizem que o nome Abdul fora dado pelo seu avo, que foi a sua última morada sentado em sua casa, pegando ecama (pó de cor negra com um elevado teor de nicotina, que os idosos comummente usam em substituição do cigarro convencional) e numa quithanta (cama de rede feita a base de tecelagem), que o nome transmitia sorte principalmente para quem queira enveredar por actividades comerciais.

Tânia, tinha a pele clara, estatura baixa e jeito aparentemente meio humilde, a caracterizava. Pouco se sabe o significado do seu nome, algo supostamente visível e comum entre ambos, é o pertencimento ao mesmo nihimo (tribo), que é a dos amirasses, que cobre os distritos da antiga macuana.

Nos primeiros tempos de sua estadia no bairro, mereceram por todos saudações de vizinhos e jovens que ali ficavam e outros passavam.

Num dos alvorecer do mês de julho, que aos berros acorda Tânia, assombrada de si mesma e claudicante do evento, e atenta a Abdul, seu esposo.

– Aiii!!! amor me ajude. Gritou logo de madrugada antes que o sol rasgasse o céu, o galo desse seu discurso de abertura, e antes que os camponeses fomentassem com os seus passos as suas incursões semanais.

Abdul não soube ao certo o que se estava a passar naquele instante, seu relógio mental parou e despertou antes da habitual seis da manhã, por uns segundos atónito, e o que lhe apareceu em sua boca foi apenas uma questão:

– O que se passa? No momento olhava para o céu coberto de sua manta adquirida com uma senhora zimbabueana, que se havia aventurado na vizinha África do sul para ir gwevar.

A pergunta passou feita uma aplicação de anestesia, daquelas usadas pela classe médica momentos antes de começar a operação. Tânia estupefacta pelo sucedido questionava-se ˝porquê˝ de estar a acontecer aquilo com ela, via seus olhos invadidos por lágrimas, seu quarto em movimentos de rotação, mas devia mesmo responder ao seu marido:

– Não sinto minhas pernas moverem-se. Um embate de pedras saídas de uma estrutura do fanerozoico, acompanhadas de laços e uma mpama à velocidade luz, foi como Abdul sentiu-se ao ouvir aquelas palavras, e retrucou:

– Como assim não sentes suas pernas moverem-se?

A boca de Tânia foi invadida pelos primeiros raios solares, o grito de pássaros, alentos a ganhar o dia, e os passos dos camponeses provavelmente indo as suas machambas.

Aos gritos, Abdul levantou a sua voz no seu quintal como de se um leão se tratasse perguntando sem expectativa de resposta:

– Somos jovens humildes, o que fizemos nós!? Cumprimentamos a todos, temos boas relações com a vizinhança. Que mal cometemos nós? Desejamos iniciar e fazer a nossa vida, de que nos serve tamanha maldade?

Aquela voz ensurdeceu a todos que por ali passavam, e do nada um idoso posto de braços entrelaçados direccionou a sua voz ao Abdul e disse:

– Meu Neto nesta Zona Mora um Adágio.

 

 

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