Segundo entendem os académicos que esta terça-feira debateram o tema Conhecimento e inovação como catalisador da transformação no agronegócio, na segunda edição da MOZGROW, é urgente que o Estado e o sector privado invistam na pesquisa com financiamento direcionado às instituições agrárias.
Em primeiro lugar, todos os convidados ao debate desta tarde, inserido na segunda edição da MOZGROW, foram unânimes ao assumir que a quantidade de tecnologia gerada no país é fraca. A razão é simples, há pouquíssimo investimento financeiro na investigação destinada ao sector agrário, quer por parte do Estado, quer por parte do sector privado. Logo Moçambique terá sempre dificuldades de fazer do conhecimento e da inovação catalisadores da transformação do agronegócio enquanto a pesquisa não for fomentada.
Segundo entende Rogério Chilulele, Director-Adjunto para Investigação na UNEM, as universidades estão a desempenhar o seu papel no processo de desenvolvimento do agronegócio, entretanto não nos níveis ideais. Por isso, Chilulele defendeu a necessidade de se envidar esforços para investigação, porque a área da agricultura é muito dinâmica. “É preciso que a pesquisa aconteça para responder à dinâmica agrícola”.
Na sua abordagem, o Director-Adjunto para Investigação na UNEM lembrou que uma boa parte do orçamento destinado à investigação no país é resultado de doações de entidades estrangeiras, o que em si é uma prova do fraco envolvimento do sector privado. De acordo com o Director-Adjunto para Investigação na UNEM há aqui um problema, até porque esses tais financiamentos externos são de curta duração, quando o conveniente seria uma aposta a longo prazo.
Ao mesmo tempo que o país necessita de financiamento à pesquisa, acrescentou o Director-Adjunto para Investigação na UNEM, precisa também de infra-estruturas para essa mesma investigação. E reforçou: “Precisamos de recursos para gerar tecnologias”.
No mesmo painel, no segundo dia da MOZGROW, esteve o Formador do Instituto Agrário de Boane, localizado no distrito com o mesmo nome, na província de Maputo. Na percepção de Rafael Alberto, as várias transformações que estão a ocorrer no mundo contemporâneo atingem a agricultura diariamente. Por isso mesmo, investir e partilhar conhecimentos com estudantes do sector agrário deve ser uma aposta permanente. “Mediante os programas actuais, conciliamos a partilha de conhecimento para que eles, os jovens, sejam fazedores da agricultura, percebendo os problemas locais com capacidade de desenvolver iniciativas próprias” adequadas. A seguir, o Formador do Instituto Agrário de Boane enalteceu que Moçambique deve ter a cultura de investigação desde as classes iniciais, continuada nos níveis seguintes. “Temos de ter iniciativa de investigar, porque, assim, a questão financeira até pode ser ultrapassada. Aliar a questão financeira à cultura de investigação é fundamental. Para aumentar a produção e produtividade. Para o efeito, é preciso conhecimento. Temos de adequar a tecnologia local ou importada a uma realidade concreta”.
Representando a Universidade Zambeze, esteve Tamara Sande, Directora da Faculdade de Ciências Agrárias. A académica começou por lembrar que as instituições do ensino superior tendencialmente versam sobre actividades que assentam em três pilares: a lecionação, a pesquisa e a extensão. Há sempre necessidade de desenvolver esses pilares, para que os estudantes saibam actuar nas áreas de pesquisa. O Papel do ensino superior não se limita na transmissão de conhecimentos, lembrou Sande, mas também na promoção de transferência de tecnologias. Logo, num contexto em que falta financiamento, o mínimo que se pode fazer é: “Devemos melhorar a coordenação das instituições que lidam com o sector agrário”. Não obstante, defendeu Tamara Sande: “É de extrema importância a necessidade de sermos nós a desenvolver as tecnologias e as novas abordagens na agricultura. Penso que as instituições vocacionadas à investigação devem estar melhor organizadas, com disponibilidade de instalações, recursos humanos qualificados e financiamento permanente. É importante que tenhamos clareza do que são os objectivos da investigação, considerando também o conhecimento empírico”.
Por fim, interveio Leonid Moisés, Director da Faculdade de Ciências Agrárias da UniLúrio. O académico mostrou-se a favor da pesquisa e da necessidade de as instituições agrárias contarem com financiamento do Estado e do sector privado, mas defendeu, igualmente, que as universidades devem se especializar, ao invés de todas fazerem tudo e a mesma coisa. “Cada universidade deve se concentrar em cada questão, respeitando todas as longas etapas do desenvolvimento tecnológico com inovações. O Estado tem que ter uma política. Temos de nos posicionar em relação ao que queremos em termos de políticas de pesquisa e definir em que aspecto o sector privado pode nos apoiar. O sector privado e as empresas devem se associar às universidades de modo que as tecnologias e a investigação possam favorecer o agronegócio”.
Na opinião do Director da Faculdade de Ciências Agrárias da UniLúrio, as universidades devem gerar conhecimento, tendo o Estado como regulador e como mobilizador de fundos. “As universidades devem trabalhar com outras instituições”.
Já a terminar a sua intervenção num debate moderado pelo jornalista António Tiua, e que durou 90 minutos, Leonid Moisés disse ainda que os políticos têm dificuldades de se aproximar às universidades. “As instituições de ensino devem ter o que dizer para que os políticos possam fazer a sua parte. Sinto que devemos melhorar nesse aspecto”.
“Conhecimento e inovação como catalisador da transformação no agronegócio” foi um dos temas de debate neste segundo dia da MOZGROW.