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Prédios de “Xilunguine”: Velhos, sem brilho e com mau cheiro

Foto: O País

Xilunguine é uma palavra em rhonga que significa cidade e tudo afim. É assim como Maputo é chamada, onde os prédios estão velhos. Há lixo, mau cheiro e construções nos terraços que atentam contra a segurança dos edifícios e dos moradores.

“Maputo Cidade como tu não há. Com toda a vaidade, molhas os pés no mar. Cidade surpresa, quem não te quer cantar, se a tua beleza tem tudo para encartar”… Hortêncio Langa cantou esta poesia para homenagear a beleza da capital moçambicana. Dizia ele no coro em changana “Maputo u xonguile de mais” (Maputo és muito bonita). A música tinha sua razão de ser…

Vista de cima da capital moçambicana é espectacular, os seus edifícios históricos e emblemáticos já foram considerados os mais belos do mundo. Mas, quanto mais baixa a altura, a realidade contrasta o que diz a música de Langa e começa a ficar evidente, parece fazer jus aos 135 anos de completa em Novembro próximo.

O problema começa nos terraços dos prédios: foram construídas casas por cima dos edifícios, vivem famílias e houve mais alterações. As telhas no tecto foram trocadas por chapas de zinco e apoiadas por blocos ou tijolos.

“Isso acontece por causa da corrupção. O Município [de Maputo] está a deixar isso acontecer e só vai despertar quando for tarde. Eles devem parar de fechar os olhos e acordarem, verem que esta cidade precisa de uma intervenção urgente”, sugere Orlando Escova.

A situação chateia alguns munícipes e dizem que “isto que se vê na cidade é uma total vergonha, não há nada em condições, é muito triste ver uma cidade assim tão bonita descuidada”, reclamou Cidália Zango.

A entrevistada falava por conta do mau cheiro que alguns prédios expelem; há edifícios com problemas de saneamento, como o caso do prédio 369 na rua Consiglieri Pedroso, na Baixa da Cidade de Maputo.

Do lado de fora, há uma “lagoa” de águas negras que saem do interior do prédio, das instalações onde funcionava o Instituto Nacional de Assistência Social (INAS), que abandonou o local por conta da situação.

Segundo os moradores do edifício, as suas paredes foram tomadas por bolor, o problema tem mais de 10 anos e as águas negras são de todos os apartamentos do edifício, o sistema de esgoto já não funciona adequadamente e, por isso, a imundície afugenta qualquer pessoa que passa por perto devido ao mau cheiro.

“Vivemos aqui porque não temos para onde ir. Agora que é inverno, ainda dá para aguentar o mau cheiro, mas, quando chega o verão, passamos mal, o cheiro chega até ao terceiro andar onde vivo e os vizinhos nos andares de cima também reclamam”, contou ao “O País” Mirko Dotta, morador do prédio.

Disse ainda que, por várias vezes, a comissão dos moradores pediu intervenção da edilidade, mas nunca tiveram uma resposta satisfatória, por isso, agora, decidiram contribuir 35 mil Meticais para os especialistas desentupirem os esgotos.

De onde sai a água, já se formou um lar de ratos e baratas e esconderijo de malfeitores, pois uma das paredes caiu, por conta da água.

Na maioria dos prédios, há fissuras nas paredes, noutros a parte do reboco já não existe e os tijolos estão expostos. Elevadores não funcionam, janelas estão partidas e as barras de ferro já apresentam ferrugem.

“Não há segurança para os moradores, eles não podem encostar nas paredes da varanda ou fazer uma pressão porque podem cair. Os prédios estão velhos, mas os moradores precisam de ter alguma responsabilidade, para não estragarem os prédios”, acusou Hilário da Cruz.

 A presidente da Associação dos Condomínios da Cidade de Maputo, Carolina Menezes, chama a responsabilidade, além dos moradores, ao Município e ao Ministério das Obras Públicas. Diz que é preciso que estas entidades fiscalizem os prédios antes que seja tarde.

João Tique, arquitecto e  director da Faculdade de Arquitectura da Universidade Eduardo Mondlane, diz que os prédios da Cidade de Maputo só não caem porque foram bem construídos.

“As edificações tiveram projectos com meios e bons recursos materiais e foram feitos com muito cuidado, por isso estão aí, mas é preciso fazer manutenção”, disse.

O edil de Maputo, Eneas Comiche, diz que a requalificação dos prédios fazia parte dos planos para este mandato, mas a COVID-19 condicionou tudo. O edil promete, para breve, junto aos moradores, reactivar o projecto “Xonga Maputo”, mas fala da necessidade de haver parcerias.

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