O Aeroporto Internacional de Nacala não recebe voos nocturnos, desde o ano passado, devido à vandalização de material eléctrico, usado para o balizamento ou sinalização das pistas, que facilitam o processo de decolagem a aterragem de aeronaves.
A vandalização do material eléctrico acontece desde a inauguração da infra-estrutura, em 2014, mas, no ano passado, a situação agravou-se – foi roubado mais de um quilómetro dos cabos, que alimentam as luzes da pista, que custam cerca de um milhão de Meticais.
Assim, segundo o director de Manutenção de Infra-estruturas da empresa Aeroportos de Moçambique, Acácio Tuendue, os prejuízos por conta da vandalização chegam a mais de 20 milhões de Meticais.
“Em consequência disso, já não podemos realizar voos nocturnos, até que os cabos sejam repostos na totalidade, portanto tivemos essa consequência infeliz por causa do roubo de cabos e de luzes de pista, isto ocorreu no ano passada, mas estamos a trabalhar para a reposição desses cabos e acreditamos que, nos próximos tempos, vamos retomar”, disse, sem avançar datas concretas.
A situação, além de criar restrições na circulação de voos nocturnos, também condiciona a aterragem e descolagem de voos em situações de neblina e mau tempo.
A vandalização afecta, igualmente, o aeroporto de Nampula, que já tem prejuízos na ordem dos cinco milhões de Meticais, que, ano passado, registou a vandalização de transformadores. Os aeroporto de Quelimane, Nampula e Tete sofrem devido à sabotagem e roubo da rede de vedação e lâmpadas das luzes de pista, que, segundo Acácio Tuendue, “não têm nenhuma utilidade fora do aeroporto”.
“Nós olhamos para este problema de forma preocupante. Os nossos aeroportos foram concebidos para servir ao público, os passageiros. Nós registamos uma redução na nossa capacidade, principalmente de noite, devido a esses actos de vandalização. Não nos sentimos satisfeitos e, por isso, estamos à procura de soluções para evitar mais casos do género”, avançou Acácio Tuendue.
Os danos causados pela sabotagem não afectam apenas os Aeroportos de Moçambique, a Electricidade de Moçambique (EDM) também tem sido vítima. Em 2021, os prejuízos atingiram 16 milhões de dólares e, este ano, já chegam aos 250 mil dólares, conforme avançou o administrador da empresa.
Francisco Inroga disse que os prejuízos até são maiores que esses valores; outros não podem ser mensurados, pois os actos de vandalismo afectam o programa de electrificação do Governo, colocam muitas famílias às escuras e cada uma sente as consequências desses actos.
“O valor perdido em 2021 seria suficiente para fornecer energia a mais de 190 mil famílias, e este ano, só no primeiro trimestre, o valor teria sido usado para expandir energia a cerca de 50 mil famílias, só aqui na zona Sul, que é uma das mais afectadas pela vandalização”, explicou Inroga e acrescentou que “somos obrigamos a pegar valores que seriam usados na expansão da rede para outros clientes e usamos para repor energia nos locais onde foram vandalizados”.
O administrador da EDM fez saber que mais de 90 indivíduos já foram detidos, do ano passado a esta parte, em conexão com os casos e foram apreendidas toneladas “significativas” de cobre, que, muitas vezes, tem sido roubado e depois comercializado no mercado sul-africano.
O relato chega, também, das operadoras de telefonia móvel. A Vodacom, por exemplo, diz que, desde 2015, regista actos de vandalização quase todos os dias. Segundo Mateus Moiane, representante da empresa, este ano, “por semana, há registo de pelo menos dois casos”, e as províncias de Maputo, Inhambane, Nampula e Tete são as que mais casos registam.
“Os impactos financeiros são avultados e, das contas que temos estado a fazer, o prejuízo ronda cerca de 200 milhões de Meticais, valor pelo qual seria possível construir cerca de 35 antenas. Desde 2015, registamos, em média, cerca de 30 milhões de Meticais em perdas, todos os anos, sem quantificar as perdas indiretas em que as populações ficam desprovidas de comunicação”, informou Mateus Moiane.
Segundo a fonte, em Tete, a situação é gritante, principalmente em Moatize, uma vez que os malfeitores até desmontam as torres de mais de 15 metros.
Os gestores das empresas falavam, esta segunda-feira, em Maputo, numa reunião de reflexão sobre a vandalização de infra-estruturas de utilidade pública e a busca de soluções para o problema.
No evento, a empresa Caminhos de Ferro de Moçambique queixou-se de prejuízos de mais de dois milhões de dólares, nos últimos três anos, por conta da vandalização de parte dos dois mil quilómetros de malha ferroviária, que compõem os CFM Centro e Sul.