Cinco dos 17 corpos das vítimas mortais do acidente de viação da Manhiça já foram identificados pelos familiares. O motorista do transporte semi-colectivo está a recuperar-se e diz que o excesso de velocidade do outro carro causou o acidente.
Face à crescente onda de acidentes de viação, na província de Maputo, realizou-se neste domingo, no distrito da Manhiça, uma reunião extraordinária, que juntou dirigentes a vários níveis que actuam, não só na área de segurança rodoviária, como também noutras.
Daquele encontro havido na sede do Governo distrital, foram tomadas importantes decisões e recomendações que se espera que venham a contribuir para reduzir e quiçá acabar com os acidentes. Decidiu-se pela reactivação do posto de controlo à entrada da província de Maputo pela Estrada Nacional Número Um (EN1); alocar meios circulantes e humanos que deverão permanecer a tempo inteiro nos cerca de 100 quilómetros de estrada que atravessam a província, assim como tapar buracos, apontados como uns das principais causas dos acidentes de viação, segundo avançou o governador Júlio Parruque.
“Vamos ao terreno responsabilizar o automobilista. Concluindo sobre esse ponto, os automobilistas têm que ter medo da província de Maputo, não há outra saída para nós; ao mínimo descuido, retirar a carta. Mas, precisamos de mais postos de controlo e, se for necessário que haja mil postos de controlo ao longo dos 100 km da estrada nacional aqui, na nossa província, que sejam mil. Queremos também, a partir desta sessão, lançar o repto para que a nossa província faça efectivamente os testes de álcool, para verificar a lucidez dos automobilistas.”
Rubina Normahomed, delegada da Administração Nacional de Estradas (ANE), na província de Maputo, diz haver 63 milhões de meticais para tapar buracos nos troços Marracuene – Manhiça e Manhiça – 3 de Fevereiro. Os trabalhos iniciam já esta segunda-feira.
“Temos alguns buracos ao longo da EN1, portanto é uma estrada que já deu o seu tempo de vida útil de mais de 15 anos; a estrada necessita de reabilitação total.”
Por sua vez, o Instituto Nacional de Transporte Rodoviário (INATRO) e a Polícia de Trânsito prometem mão dura aos transgressores das regras de trânsito, bem como alocar mais meios humanos e materiais às vias para maior fiscalização.
Por seu turno, a Associação das Vítimas de Acidentes Rodoviários defende a necessidade de intensificar as campanhas de sensibilização. “Lançamos o apelo veemente de que, se nós não acabarmos com os acidentes, os acidentes podem acabar connosco. Presenciamos aqui histórias muito tristes de famílias que se apagaram num instante, pai, mãe, filhos, esposa e esposo; essas situações são extremamente dramáticas”, disse Alexandre Nhamposa.
O acidente deste sábado ocorreu um dia depois da celebração, no país, do Dia da Legalidade que teve como tema central de debate a sinistralidade rodoviária.
FAMILIARES INCONSOLÁVEIS NA MORGUE DO HOSPITAL DISTRITAL DA MANHIÇA
O ambiente no Hospital Distrital da Manhiça, na manhã deste domingo, foi sombrio. Potenciais familiares das vítimas da tragédia deste sábado fizeram-se ao local para reconhecer os corpos. Uns identificaram os seus entes queridos, mas outros, como por exemplo Gidó Fanheiro, que procurava por sua sobrinha, não a achou.
“Logo depois do acidente, começamos a ligar para o telefone dela, mas não chamava. Até agora, não temos notícias dela. Saímos de Xai-Xai às 5 horas e chegamos aqui e entrei ali e nada do corpo dela. Assim, só posso ir ao Hospital Central de Maputo.”
Os que identificavam os seus familiares não se continham de tanta dor. Domingas Wiliam, médica legista, diz que, apesar da complexidade do processo, pelo facto de as vítimas não portarem documentos, há progressos na identificação dos corpos.
“O quinto corpo foi reclamado esta manhã (de domingo), só temos uma única família que está para levar o corpo, mas os outros identificados vão continuar no sistema de frio.”
Na cama do Hospital Distrital da Manhiça, está, ainda em recuperação, José Chaúque, motorista do minibus que se envolveu no acidente deste sábado. Conta que, além de passageiros, perdeu o irmão que era cobrador.
“Eu não ando em alta velocidade. Eu sei que esta estrada é perigosa, não só a zona da Manhiça, toda a estrada nacional é perigosa. Para o acidente de ontem (sábado), aquele senhor entrou na minha faixa, eu tentei esquivar mesmo e ele depois me seguiu e não tive mais escolha, foi o que aconteceu. O meu irmão morreu ali, tinha 32 anos, era cobrador. Morreram no acidente muitos passageiros.”
Dos quatro feridos do acidente, dois ainda se encontram no Hospital Distrital da Manhiça e outros dois no Hospital Central de Maputo.
Refira-se que os acidentes de viação mataram 128 pessoas na província de Maputo de Janeiro a Setembro deste ano. Durante este período, foram registados 104 sinistros, contra 89 do ano passado que também tiraram a vida a 89 pessoas.