São pouco mais de duas a três horas o tempo que as vendedeiras de peixe levam à espera que os pescadores regressem do mar, com mariscos para a comercialização. Uma espera que é cada vez mais frequente e longa, tudo porque, segundo os pescadores locais, na Baía de Inhambane, faltam peixe e camarão.
Nesta quarta-feira, quando o “O País” esteve na Baía de Inhambane testemunhou um dia negro para a dona Joaquina e sua companheira que, mesmo depois de um longo período de espera, voltaram à casa com bacias vazias.
É que, nesse dia, poucos pescadores foram à faina, mas não conseguiram nada no mar. Elas voltam à casa sem mercadoria e, consequentemente, sem nada para vender e conseguir algum dinheiro.
Sorte teve a senhora Carola que vende peixe há mais de 10 anos. Na região em que ela vive, há veda de pescado e diz que facilmente consegue peixe.
O senhor José Luciano é pecador há mais de 20 anos e fala até de espécies de peixe que estão a desaparecer, tal é o caso de mbabi que já não é possível encontrar na Baía de Inhambane.
É precisamente por causa desse cenário que os pescadores decidiram voluntariamente praticar a veda comunitária. O objectivo é evitar a extinção de espécies marinhas e melhorar o rendimento dos pescadores.
A veda abrange rede de malhar, gamboas e outras artes de pesca em massa, porém é permitida apenas a pesca de linha, como medida de garantir que, em épocas de veda, as famílias tenham algo para comer.
Segundo o director da organização Ocean Revolution, António Cabral, para além das vedas decretadas pelo Governo, as comunidades promovem também as suas vedas comunitárias, o que é bastante louvável e mostra que elas reconhecem a importância de vedação como medida de gestão sustentável de recursos pesqueiros.
A veda comunitária na Baía de Inhambane vai começar a 15 de Setembro e terminará em 15 de Dezembro
A veda na Baía de Inhambane é voluntária e é liderada pelos conselhos comunitários de pesca. Durante o período em que os pescadores não poderão ir ao mar, deverão desenvolver outras actividades.
Cabral disse ao “O País” que a organização tem estado a trabalhar com as comunidades de pescadores de modo a que eles desenvolvam outras actividades de sustento, tal é o caso de agricultura e criação de animais de pequena espécie.
Uma das saídas para contornar a falta de pescado no mar tem sido a piscicultura. Em 2020, a piscicultura foi responsável pela produção de mais de 300 toneladas de peixe em toda a província.