Por: José Paulo Pinto Lobo
Há uns anos, numa sessão de formação para empresários em Portugal, afirmei que vivíamos actualmente numa situação de escravatura, numa dicotomia entre Escravatura do Sucesso (da carreira, do carro topo de gama, etc.) e Escravatura do Emprego (do pavor de o perder, da pressão das prestações…). Desenvolverei noutra ocasião este tema.
Falava então da necessidade de tornarmos as coisas simples e nos guiarmos por palavras inspiradoras, tendo dado como exemplo o triplo A: Amar, Acreditar, Alcançar e o triplo E: Exemplo, Ética, Educação, de que vos falei em textos anteriores.
Lançaram-me então o desafio de escrever o A,E,I,O,U do sentido da vida, desafio esse que prontamente aceitei. Tarefa bem difícil a que me esperava!
Encontrar palavras iniciadas com i que sejam positivas, incentivadoras, quando é tão mais simples lembrarmo-nos de palavras em sentido contrário.
Lembrei-me de INTELIGÊNCIA, algo que muitos de nós deixamos à porta do escritório, das fábricas, das organizações, até da nossa própria casa. Talvez não seja inteiramente verdade, visto que a utilizamos para realizar ou desenvolver algumas tarefas mais ou menos complexas, mas…
Entretanto, foi bem mais fácil relembrar outros termos mais comuns e que também são trazidos para dentro das organizações: inveja, individualismo, ignorância, imbecilidade, incúria, incompreensão, inflexibilidade e por aí adiante.
Quando falo de Inteligência reporto-me sobretudo à Inteligência Emocional, à capacidade de relacionamento interpessoal, de organizar o trabalho em equipa em prol de um bem-comum, de negociar soluções, à empatia e à sensibilidade social, para além do auto-controlo emocional e auto-motivação.
Se quisermos, podemos juntar-lhe a Imaginação, para dirimir conflitos, resolver problemas, para inovar, para nos reinventarmos a cada momento para enfrentarmos os desafios da vida.
Estamos no entanto mais habituados ao “cada um por si e Deus por todos!”.
A segunda palavra que me ocorreu foi INTEGRIDADE, idoneidade, a coerência de princípios e valores, como a honra, a ética, a educação.
O que eram valores adquiridos ou consensuais no tempo dos nossos pais e avós (pelo menos dos meus), como a honestidade, o sentido de justiça e equidade, a solidariedade, podem hoje ser facilmente abandonados em nome de valore$ mai$ alto$.
A plasticidade, a elasticidade de princípios e valores está agora na moda, em nome de… números! Como tudo seria mais fácil se não existissem pessoas…
Cáustico e amargo? Nada disso! Constato apenas a realidade, observando a prática do Poder.
Para quem tiver paciência e se quiser divertir um pouco, recomendo a leitura do livro “As leis fundamentais da estupidez humana” de Carlo Cipolla, já citado anteriormente. Nesse livro, apesar de escrito em 1988, o autor formula uma 3ª Lei Fundamental (Regra de Ouro) que ajuda a explicar, em parte, a origem da crise e da situação actual em que nos encontramos:
“Uma pessoa estúpida é aquela que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer um prejuízo”.
Imaginem a aplicação desta lei num qualquer sistema democrático, com eleições gerais regulares e ao funcionamento do sistema financeiro e tirem as vossas conclusões.
Daí que tenha surgido a terceira palavra, INTERVENÇÃO. Em que medida uma acção nossa ou a ausência dela, faz com que se perca ou ganhe e qual o impacto nos outros, na família, nos amigos, nos colegas de trabalho, na sociedade, o que nos remete para a primeira palavra, Inteligência (emocional) e para a necessidade de empreendermos acções que providenciem vantagens mútuas.
Esclarecendo, Cipolla considera que um indivíduo que realizou uma acção em que ambas as partes intervenientes obtiveram vantagem, é uma pessoa inteligente. Acho melhor nem olhar para o meu histórico de acções…