Nem fome, nem intoxicação alimentar e muito menos COVID-19. Todas estas hipóteses que foram levantadas desde a primeira hora encontram sentido, pelo menos tendo como base os dados que recolhemos no terreno. A Saúde levou amostras de água e comida para o laboratório e aguarda pelos resultados.
Localidade de Namahia-Grácio, distrito de Muecate – um local distante de tudo, mas que nos últimos dias atraiu a atenção do país e do mundo quando começou a ser veiculada informação da morte de 25 membros da mesma família.
A família Muhamade é nativa daquela zona. Sempre viveu de agricultura e nunca faltou algo para comer. Os vários membros viviam em casas dispersas, mas próximas uma da outra.
Sem nenhum motivo aparente, em finais de Janeiro começa a trágica história de mortes sequenciadas. Horácio Manuel, 23 anos de idade, é dos poucos que escaparam e até esteve na linha da frente a cuidar de cada caso que ia acontecendo. “Não levavam [muito] tempo. Eram só 24 horas e morriam e tinham dor de coração só”, disse, visivelmente abalado.
As mortes aconteceram num intervalo de 28 dias. A primeira foi a 29 de Janeiro e a última, a 26 de Fevereiro. O mais novo dos mortos era uma criança de um ano e meio e o mais velho, um idoso de 60 anos de idade.
Horácio avança com certeza, quase que de um profissional de saúde, que mesmo a criança parecia padecer de dor no coração e não mais que isso. Até ao dia 2 de Fevereiro, 15 das pessoas que acabaram morrendo tinham passado do Centro de Saúde de Grácio, só que não tinham um quadro suspeito da COVID-19, por isso não foram submetidas ao teste do novo Coronavírus e a nossa reportagem soube que maior parte dos obitou aconteceu na comunidade.
Graça Gregório, directora do Serviço Distrital de Saúde, Mulher e Acção Social em Muecate, confirma que foram colectadas amostras de água, assim como dos alimentos que eram a base da dieta alimentar daquela família e enviadas ao laboratório especializado na cidade de Nampula para saber se essa terá sido ou não a causa das mortes.
“Resultados preliminares ainda não temos”, esclarece a responsável.
Enquanto isso, neste momento, ninguém da família Muhamade está internada e/ou doente. As mortes também pararam, o que abre espaço para a família alimentar a tese de mortes misteriosas: no dia que veio um curandeiro, duas mulheres “caíram”, mas até hoje estão vivas, sustenta Horácio Manuel.
O secretário de Estado na província de Nampula, Mety Gondola, foi ao local dos acontecimentos; reuniu com a família e a comunidade, e consigo estavam agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal, da Saúde e do Instituto Nacional de Saúde.
Porque os corpos foram enterrados sem a realização de autópsias, há possibilidade de serem exumados alguns para a realização desse exame que deve determinar as causas das mortes. “Isso vai ser decisão das equipas de especialidade. Se for necessário exumar, vai se fazer. Se for necessário retirar mais amostras de outras componentes que possam ajudar a compreender o problema vai ser feito esse trabalho”.