Os vendedores do Mercado Grossista do Zimpeto, na cidade de Maputo, queixam-se de prejuízos por conta do caos que gerou engarrafamento e impossibilidade de viajar para África do Sul, na semana passada, na fronteira de Ressano Garcia. Sair daquele país para Moçambique também não era fácil. Resultado: tubérculos, hortícolas e frutos apodreceram durante o transporte. “Cheira a podre” no maior mercado da capital moçambicana.
Os estragos de que os vendedores se queixam juntam-se aos que registaram durante a quadra festiva. Devido ao tempo que os comerciantes permaneceram “retidos” na fronteira de Ressano Garcia com diversas mercadorias: batata, cebola, pimenta, cenoura e tomate apodreceram.
Os vendedores ainda não sabem ao certo quanto é que perderam por conta da situação, mas no Zimpeto, onde “O País” os encontrou, o que se via eram quantidades significativas de produtos estragados e vendedores de braços cruzados por não terem mais o que vender.
Maria Eduarda, vendedeira de tomate é um exemplo. Contou que levou quatro dias na fronteira de Lebombo para sair da África do Sul. O seu carro tinha mais de 500 caixas de tomate. Grande parte apodreceu, mesmo tendo comprado tomate ainda verde.
“Devíamos ter chegado” em Maputo “na quarta-feira”, mas “só conseguimos no domingo. Passamos mal. O tomate foi comprado ainda verde, mas por causa do calor [intenso] e do tempo que levámos na fronteira e da lona que protege o produto muita coisa apodreceu. Outro tomate despejei mesmo na fronteira”, contou a comerciante.
Não só os vendedores de tomate viveram momentos difíceis na fronteira de Ressano Garcia. Dito Carlos, vendedor de cenoura, narrou que, além de ter passado dias sem comer, beber e sem meios para garantir a higiene pessoal, acompanhou com o putrefacção do produto e nada podia fazer.
“O que mais doía era vermos o nosso produto apodrecer sem podermos fazer nada. Foram quatro dias e geralmente nós fazemos as compras um dia e no dia seguinte começamos a vender, mas desta vez tivemos muito prejuízo”, disse a fonte, acrescentando que das 900 caixas de cenoura que trazia, perdeu 100.
Alguns vendedores tentaram limpar a batata que entrou em contacto com a podre, mas que ainda podia ser aproveitada. Substituíram os sacos sujos por limpos.
Além da perda de mercadorias, os vendedores terão de sentir os efeitos do agravamento de medidas para travar a propagação da COVID-19 na África do Sul. Autoridades daquele país encerraram fronteiras até 15 de Fevereiro, incluindo a fronteira de Lebombo, a mais usada pelos comerciantes moçambicanos.
“Para reduzir o congestionamento e o alto risco de transmissão”, o Governo “decidiu que os 20 pontos de entrada terrestres que estão actualmente abertos ficarão fechados até 15 de Fevereiro para entrada e saída” no geral, disse o Chefe do Estado sul-africano, para quem “isso inclui os seis postos de fronteira mais movimentados, que são Beitbridge, Lebombo, Maseru Bridge, Oshoek, Ficksburg e Kopfontein”.
Cyril Ramaphosa explicou ainda que as entradas e saídas daquele país só serão permitidas para questões essenciais já determinadas, tais como emergência médica, transporte de comida e combustível.
“As pessoas ainda poderão entrar ou sair do país para: o transporte de combustível, carga e mercadorias, atenção médica de emergência para uma condição de risco de vida, o retorno de cidadãos sul-africanos, residentes permanentes ou pessoas com outros vistos válidos, diplomatas, a partida de estrangeiros e diariamente passageiros de países vizinhos que frequentam a escola na África do Sul”.
O encerramento de fronteiras pode encarecer os produtos, de acordo com alguns comerciantes. Outros explicam que para melhor organização os vendedores deverão fazer escalas de viagem.