O País – A verdade como notícia

Mais de quatro mil moçambicanos já passaram pela “Junta” para África do Sul

Do dia 02 de Janeiro até às 12 horas desta segunda-feira, mais de quatro mil moçambicanos passaram pelo Terminal Rodoviário Interprovincial da Junta, em Maputo, à procura de transporte para a África do Sul. Muitos evitam a fronteira de Ressano Garcia por não terem passaportes e devido a enchentes que lá se registam.

As festas terminaram e agora é hora de correr de volta ao trabalho. Não importa como, mas o importante é mesmo regressar à faina. Alguns viajantes estavam de máscaras de protecção da boca e do nariz, contra o novo Coronavírus, e outros nem por isso, procuram garantir seu espaço nos autocarros para chegar a Namaacha de lá a África do Sul.

“Irei usar a fronteira de Namaacha porque não tenho passaporte para atravessar através de Ressano Garcia. Irei tirar algum valor para pagar os polícias e entrar para o outro lado. Se não tiveres dinheiro não passas por ali”, disse uma moçambicana prestes a partir para a terra do rand, acrescentando que cada pessoa paga 200 rands, o equivalente a mil meticais ao câmbio do dia.

Mesmo os viajantes com passaportes evitam a Fronteira de Ressano Garcia por outras razões.

“Está difícil atravessar a fronteira de Ressano Garcia desta vez. Tenho conhecidos que chegaram lá antes de ontem [domingo] e até hoje ainda não atravessaram. Quando saí de casa, cedo, ainda não haviam atravessado, por isso, estou a optar por Namaacha. Vou para lá porque também não tenho o teste da COVID-19. Só fiz o teste na África do Sul quando vinha a Moçambique. Desta vez não consegui fazer [outro teste porque o primeiro expirou] porque praticamente não saia de casa e para tal tinha que me deslocar à cidade”, disse outro moçambicano.

A mesma justificação foi avançada por Arlindo Santos. “Conheço pessoas que chegaram à fronteira de Ressano Garcia antes de ontem [sábado], mas ainda não conseguiram atravessar. Passam poucos carros e as pessoas ficam três dias à espera. Isso faz com que atrasem aos seus postos de trabalho. O que nos faz optar pela fronteira de Namaacha é que, apesar de termos feito testes da COVID-19 e o resultado ser negativo, não temos permissão para sair de modo a carimbar os nossos passaportes na fronteira de Ressano”, relatou.

No Terminal Rodoviário Interprovincial da Junta obedecer à lotação e ao distanciamento social é como se fosse uma missão impossível. José Valoi é motorista de um dos autocarros e reconheceu as transgressões. “Sabemos que é arriscado, mas nada podemos fazer porque as pessoas querem ir a Namaacha. Sabemos que assim como as pessoas estão [próximas umas das outras] é um perigo”.

Apinhados, os passageiros disseram não ter outras opções. “Mesmo que queiras ir só, não tens como, se não tiveres uma viatura própria. Já que dizem que temos que estar assim, só podemos obedecer. O que devemos fazer é colocar as máscaras para evitar a doença [COVID-19]”, justificou-se Arlindo Santos.

Interpelado pela reportagem do “O País”, o adjunto-chefe do Terminal Rodoviário Interprovincial da Junta alegou que parte da culpa pelo incumprimento da lotação nos autocarros são os viajantes.

“Os passageiros são complicados. Podes dizer que a viatura está lotada, mas não compreendem. O passageiro é que tem que ter consciência de que tem de preservar a sua saúde”, defendeu Gil Zunguze.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos