A primeira escola de DJ em Moçambique quer profissionalizar o sector, capacitar os fazedores da música, formar novos talentos e reduzir barreiras sociais e de género. Por isso, a escola será criada e o projecto será liderado pelo DJ Faya, que junta duas décadas de experiência.
A escola de DJs foi fundada em Maputo há menos de seis meses, e é denominada BPM, que significa Batidas por Minuto, que já formou 16 DJs.
O projecto, liderado por Fayaz Abdul Hamide, artisticamente conhecido como DJ Faya, pretende formar novos talentos e reduzir barreiras sociais e de género.
“É um projecto onde deixo um legado para os jovens daquilo que é toda a minha experiência, que aprendi durante anos (…), sendo também uma iniciativa empreendedora na qual podemos também crescer e desenvolver mais projectos para os jovens”, explica à Lusa Fayaz Abdul Hamide, ou DJ Faya, no mundo artístico.
A BPM – Batidas por Minuto – já formou 16 DJs moçambicanos e “quatro a cinco formandos já começaram a tocar no mercado”, num esforço para tentar apoiar a profissionalização e travar o estigma e tabu relacionado com a actividade. Entretanto, uma nova turma de seis candidatos a DJ já está a iniciar a formação na BPM.
“A ideia é fazer turmas pequenas para que melhor possamos estar com elas e dar toda a atenção possível, porque senão acabamos tendo 30 alunos e não conseguimos estar com todos eles”, diz.
A formação inclui ‘DJing’, produção musical, ‘branding’ e ‘marketing’ artístico, distribuídos em nove módulos que combinam teoria e prática.
“Em 45 dias, conseguem aprender a parte teórica e depois a parte prática. Sempre de mãos dadas para que eles não possam esquecer dos conceitos DJ, da questão da música, dos botões”, acrescenta o fundador.
Fayaz nasceu a 10 de Agosto de 1986 e é um dos DJs mais populares de Moçambique, com carreira iniciada em 2000 e consolidada a partir de 2004. Vencedor do concurso de DJ do Blue Xurras em 2010 e autor de sucessos como “Fala” e “Bondoro”, destacou-se também como fundador do festival Nostalgia, que promove música africana dos anos 1990 e 2000.
Recebeu o prémio de Melhor DJ 2012, lançou o álbum “Tá Comprovado vol. 1” e foi nomeado cinco vezes nos Mozambique Music Awards. Paralelamente, desenvolve acções filantrópicas ligadas à Associação Moçambicana de Autismo e representou a lusofonia no festival African In Color, no Ruanda, em 2023.
Segundo o DJ Faya, a formação decorre três vezes por semana, até duas horas por dia.
A escola tem procurado integrar diferentes perfis e disponibilizou “quatro bolsas a jovens com autismo”.
“Um deles foi o DJ que fechou o baile da escola dele”, detalhou Faya, que é também ‘embaixador’ das pessoas com autismo no país.
“Temos aqui alunos que já começaram a entrar para o mercado. Nós estamos a auxiliá-los com material novo e material para alugar”, afirma, destacando o apoio a iniciativas sociais: “Semanas atrás, lancei a minha nova música para o mercado, que é uma de socialização contra a violência das mulheres”.
Apesar do crescimento da procura, persiste desigualdade de género no acesso à formação, nas várias áreas.
“Ainda existe um tabu nas mulheres, muitas vezes imposto pelo ambiente familiar. É preciso desmistificar isso”, defende Faya, revelando que a nova turma na BPM conta com uma aluna e tem mais três mulheres inscritas para Janeiro.
Clapton, DJ há mais de uma década, apostou na formação para reforçar competências nos ‘pratos’ e pistas de dança.
“É uma honra estar ao lado do Faya, é um prazer, e também vim cá porque, não só sendo DJ, é sempre bom vir fazer um ‘upgrade’, vir inovar as técnicas, vir inovar a sabedoria de ser um bom DJ (…). É muito bom ser DJ e ter o diploma, ser reconhecido. E melhorar também mais ainda as minhas performances”, diz Clapton, que é também promotor de eventos.
A BPM acolhe igualmente alunos sem experiência prévia, como Deise Chirindza, vendedora, que decidiu explorar a área por interesse pessoal: “Nunca fui DJ. Simplesmente sou alguém que gosta de música. Então, essa experiência aqui é para me trazer um novo ‘know-how’ (…) às vezes é necessário que a gente tenha alguma coisa a que se segure, que possa distrair e por aí em diante”, conta à Lusa.
Deise explica que esta formação representa também um desafio pessoal: “Por ser mulher, às vezes gostamos de desafiar aquilo que são as nossas capacidades”.
Com alunos com idades entre os 8 e os 60 anos, a escola quer consolidar-se como referência na formação de DJ no país e com essa ideia do fundador que é também o tutor na escola de que é de “pequenino é que se torce o pepino”.
“Um DJ não se forma em 10, 15, 20 dias. É todos os dias ser DJ, aprender novas técnicas sobre música, a história da música e muito mais”, afirmou Faia.
“O que se ensina aqui é a minha experiência. Se a minha carreira serve como exemplo para muitos DJ, acredito que sem dúvida vão servir para os alunos que estão a entrar, porque é dali que a gente sai em novas experiências, daquilo que eu aprendi durante anos em Moçambique e fora e que eles vão aprender”, conclui.
