A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) pretende mobilizar investimentos avaliados em 1,7 mil milhões de dólares em vários projectos estratégicos durante a vigésima Conferência Anual do Sector privado, que será realizada nos dias 12 a 14 deste mês. O valor, segundo o Vice-Presidente da CTA, Honório Manuel, será direcionado a iniciativas em sectores como agroindústria, energia, infraestrutura e indústria transformadora, com o objectivo de gerar emprego, aumentar a produção nacional e dinamizar a economia.
Segundo Honório Manuel, os projectos abrangem sectores considerados estratégicos para o relançamento económico, incluindo agro-indústria, logística e infraestrutura, indústria transformadora, energia e serviços digitais. “Estamos a falar de iniciativas que têm potencial de gerar emprego, aumentar a capacidade produtiva interna e substituir importações. Além disso, permitem criar novas cadeias de valor e garantir maior competitividade das nossas empresas”, explicou.
O dirigente sublinha que grande parte dos projectos será apresentada em formato de Parcerias Público-Privadas, modelo que considera essencial num contexto em que o Estado enfrenta limitações orçamentais. “É fundamental criar condições claras, previsíveis e transparentes para que o sector privado se envolva. A CSP será o espaço onde o Governo, os investidores e os empresários alinharão expectativas em torno dessas oportunidades”, disse.
Questionado sobre os principais constrangimentos que continuam a travar o desenvolvimento empresarial, Honório Manuel reconhece que o país tem avançado em algumas reformas, mas ainda enfrenta desafios marcantes, tais como a burocracia na criação de empresas, morosidade no licenciamento, imprevisibilidade tributária e dificuldades na execução contratual.
“O sector privado necessita de previsibilidade. Um investidor só arrisca o seu capital quando sabe quais são as regras do jogo, se elas são estáveis e se existe confiança de que serão respeitadas. Hoje, ainda temos zonas cinzentas que desincentivam a tomada de decisão”, afirmou.
Para Manuel, o Diálogo Público-Privado é um instrumento estruturante para corrigir estes obstáculos, desde que os compromissos sejam assumidos com metas, calendários e mecanismos de acompanhamento. “É importante que o Diálogo Público-Privado deixe de ser apenas um exercício de discurso e passe a ser uma matriz de execução real, com responsabilidades partilhadas entre Governo e sector privado”, reforçou.
O Vice-Presidente da CTA afirma que um dos eixos estratégicos da próxima fase do desenvolvimento económico nacional deve ser a industrialização orientada para o mercado interno e regional. Moçambique continua a importar grande parte dos bens que consome, incluindo alimentos e produtos de primeira necessidade que poderiam ser produzidos localmente.
“Nós podemos e devemos produzir mais dentro do país. Temos terra, mão-de-obra jovem e recursos naturais. O que falta é assegurar condições para que os empresários invistam em processamento, tecnologia e logística. Se não criarmos capacidade de transformação local, continuaremos dependentes do exterior e vulneráveis a choques externos”, frisou.
Manuel destaca que a Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA) oferece oportunidades inéditas para inserir Moçambique nas cadeias de valor regionais, mas isso só será possível com políticas de estímulo à produção e à exportação.
Questionado sobre o impacto do clima político na economia, Manuel foi cauteloso, mas afirmou que estabilidade é um activo económico e que qualquer incerteza institucional pode atrasar decisões de investimento.
“Os investidores observam sinais, e a previsibilidade institucional é essencial. O país deve continuar a consolidar o diálogo e reforçar a confiança entre as instituições e a sociedade civil para garantir que o ambiente económico seja favorável ao investimento”, disse.
Ao concluir, o Vice-Presidente da CTA reforçou que a Conferência não deve ser apenas um evento de discursos e apresentações, mas sim um espaço de assinatura de acordos, mobilização de capitais e definição de compromissos claros.
“O sector privado está pronto para investir e contribuir para o crescimento económico. O que esperamos é que este seja um momento de viragem, em que saímos com decisões concretas, projectos financiados e uma agenda clara de reformas para os próximos meses”, finalizou.
A abertura da Vigésima Conferência Anual do Sector privado será presidida pelo presidente da República, Daniel Chapo, que vai igualmente, participar de um painel de alto nível onde será o moderador.

