Antigo governador do Banco de Moçambique, Prakash Ratilal, diz que Moçambique não tem nenhuma empresa nacional competitiva em preço e qualidade. Por sua vez, Joaquim Carvalho afirma que os escândalos das dívidas ocultas revelam perdas de valor pelos moçambicanos. Já Edson Macuácua defende reformas no modelo do ensino superior.
“Quatro mil e quinhentos formados em economia, e, ainda assim, o país continua à procura do seu rumo?” – foi com estas palavras que o antigo governador do Banco de Moçambique, Prakash Ratilal, se dirigiu aos estudantes no simpósio da Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane. O economista lançou um apelo à consciência nacional.
“À medida que vamos andando, o ponto é: onde é que está o nacional dentro da economia? Não temos uma empresa nacional competitiva de preço e qualidade. O que é que não temos? O que é que apesar dos vários graduados, neste momento, de 4500, 300 mestres da economia, 8 PhDs na economia, o que é que se deve fazer?”, questionou Prakash Ratilal, antigo governador do Banco de Moçambique.
Ratilal não fala apenas de números, fala também de uma economia que, segundo ele, ainda não encontrou o seu eixo. “Vamos competir em preço e em qualidade. E este é o grande desafio. Neste momento presente, está em consulta sobre o Banco de Desenvolvimento. É a primeira vez que Moçambique vai ter dinheiros próprios. Cada vez mais crescente com o desenvolvimento da indústria esportiva. Se não pegarmos esses recursos adicionais e introduzirmos na economia endógena para o desenvolvimento de projectos nacionais das pequenas e médias empresas, nós não vamos chegar lá”, afirmou.
Mas o alerta de Ratilal não surgiu isolado. Antes dele, o secretário de Estado do Ensino Superior, Edson Macuácua, lançou um apelo à própria universidade.
“Porém, passados os 50 anos, parece-nos que é tempo de reflectirmos sobre o nosso modelo do ensino superior. A maior parte dos cursos ministrados na Universidade Eduardo Mondlane, e não só, têm uma estrutura, um modelo concebido no contexto da ordem económica da Primeira República. São cursos maioritariamente concebidos para preparar quadros para alimentar a administração pública, o Estado-Administração. E, às vezes, é constrangedor que, numa cerimónia de graduação, se faça um discurso apelativo ao empreendedorismo, quando toda a formação foi voltada para preparar os estudantes para serem funcionários, empregados do Estado”, afirmou Edson Macuácua, secretário de Estado do Ensino Superior.
A crítica ganhou eco nas palavras do antigo ministro da Agricultura e Comércio Externo, Joaquim de Carvalho, que lamentou a perda de valores morais e cívicos moçambicanos.
“Com a perda dos valores, a sociedade pensa que vale tudo. Obviamente, o escândalo das dívidas ocultas que eu venho a tornar público, envolvendo pessoas que desempenhavam funções de alto nível, teve um efeito muito grande na imagem do país, que era a nível exterior, a nível interior. A imagem do país ficou muito abalada”, lamentou.
Os três intervenientes falavam sobre o contributo da Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane para o desenvolvimento do pensamento económico nacional, destacando os principais desafios e perspectivas para o futuro.

