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O grande senhor aparentemente desconhecido 

Por Melo Munguambe 

“Ouvi dizer que o grande senhor aparentemente desconhecido é um dos principais candidatos ao cargo de Secretário-Geral da Associação dos escritores Moçambicanos-AEMO”

 Foi nos meados do ano 2022, quando concluí os meus estudos em Nampula, após 5 anos fora de casa, minha terra natal, meu primeiro perímetro urbano cultural, Maputo.

Naquele ano finalmente eu regressava à casa, uma das metas era restabelecer e reconstruir parcerias no panorama cultural ao lá chegar, mas não foi tão fácil o quão pode parecer. Chegado lá, numa cansativa busca de potenciais parceiros para em colaboração materializarmos alguns dos projectos culturais escritos faz tempo por mim no papel, recordei-me do digníssimo professor Manecas Cândido quando sugeriu-me procurar à Associação dos escritores Moçambicanos-AEMO ao chegar em Maputo, mas no início confesso que hesitei procurar à AEMO.

Lembro-me que naquela época eu precisava primeiro de um espaço na cidade de Maputo para realizar eventos multidisciplinares de forma bimensal. Antes bati várias portas sem sucesso que quase saíram-me calos pelos dedos, foi quando eu quase já sem opções, meio fatigado, localizei e cheguei na Associação dos escritores Moçambicanos-AEMO, pela primeira vez pisei o espaço sede da AEMO e nem senti-me arrepiado por isso, naquele dia infelizmente cheguei meio atrasado, procurei falar com o escritor Alex Dau, segundo a recomendação do professor Manecas Cândido, e disseram-me que o escritor acabava de se ausentar, olhei para as horas e espantei porque já era 15h e tal, lamentei o meu atraso enquanto caminhava lentamente em direção ao palco do jardim, quando vi um senhor aparentemente desconhecido com uma voz chamativa, meio roca que parecia falar com alguém ao celular soltando gargalhadas nas proximidades do jardim.

Sentei-me por aí uns 5 à 7 minutos refletindo sobre a linha do horizonte entre o sucesso e o fracasso. De seguida levantei-me dalí meio cabisbaixo para casa, mas determinado a não desistir. Voltei no dia seguinte, mais cedo, obviamente, sem sombras de dúvidas naquele dia encontrei o escritor Alex Dau, aliás, ele foi quem encontrou-me sentado à sua espera.

–Você é o Melo? Melo Munguambe?

–Sim. Bom dia, como está?

A conversa fluiu, falámos das artes em Nampula, da minha relação com o professor Manecas Cândido, entre vários assuntos, até que, naquele mesmo dia foi-me apresentado a sua excelência Secretário-Geral escritor Carlos Paradona. Apresentei-me formalmente de forma breve, e seguidamente o escritor Alex Dau deu permissão a minha explanação no âmbito dos meus objectivos profissionais com a AEMO naquele momento, sem cerimônias eu contextualizava o Projecto Ritmo Arte & Poesia, aquilo foi tão natural que até penso que antes nem eu mesmo percebia que estava entre 2 grandes senhores da literatura Moçambicana conversando abertamente sobre artes, sobretudo dos meus projectos artísticos. Foi quando repentinamente a porta do gabinete do Secretário-Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos-AEMO se abriu, era aquele senhor aparentemente desconhecido pedindo permissão para entrar e lhe foi concedida. O senhor entrou, saudou-nos e sem proferir algo mais naquele instante, puxou uma cadeira e sentou-se conosco, aquilo deixou-me meio inseguro, mas disfarcei e continuei falando do meu exercício artístico e dos meus objectivos dentro duma possível parceria com a AEMO. O meeting durou cerca de meia hora, mas parecia menos, sua excelência Secretário-Geral ficou de entrar em contacto nos próximos dias, agradeci por isso, e levantei juntamente com o escritor Alex Dau, dispensado-me do gabinete.

Já lá fora, no exterior do edifício da Associação dos escritores Moçambicanos-AEMO, mostre-me grato ao escritor Alex Dau, despedindo-me com tamanha gratidão. Uma semana depois recebi um telefonema do escritor Alex Dau, informado-me que sua excelência Secretário-Geral Carlos Paradona aprovou as minhas actividades artísticas, para realizá-las no espaço da Associação dos escritores Moçambicanos a partir de Janeiro do ano 2023.

–Muitíssimo obrigado Sr. Alex.

Ao encerrar aquela chamada, de seguida liguei ao professor Manecas Cândido com muita satisfação e contei-lhe a boa nova.

Esvaziou-se a ansiedade, enfim, o ano 2023 iniciou, estávamos no mês de Janeiro, e eu já tinha parceiros suficientes para dar início aos eventos do Projecto Ritmo Arte “Poesia, no jardim da Associação dos escritores Moçambicanos-AEMO. Em colaboração também com a jovem Editora Moçambicana Kulera, Coach the Vibez, Ler e Brilhar, Ka Zimpeto Beatz, entre outros simpatizantes do projecto, projecto este que tornou-se marca mais tarde. Realizamos as primeiras edições com sucesso no espaço da Associação dos escritores Moçambicanos-AEMO.

Nos meus dias de lazer, quase sempre fazia questão de visitar à AEMO, as visitas ficaram cada vez mais frequentes quando também descobri oportunidades de ler bons livros naquela casa cultural. Até que num certo dia, de forma inusitada reconheci o senhor aparentemente desconhecido quando ouvi-lo sem querer, falando dum casting sobre uma peça de teatro infantil: "A fogueira de letras”, naquele momento entendi que aquele era uma chance singular de poder trabalhar com uma lenda da Dramaturgia Moçambicana. Me inscrevi no casting e felizmente fui apurado como membro do elenco daquela peça infantil da AEMO. Eu não sabia ainda, mas ali iniciava a minha carreira como actor profissional, foi a partir dali que trabalhei com grandes e reconhecidos artistas Moçambicanos como: Lucrécia Paco, Aurélio Furdela, Huwana Rubi, Lírico Poético, entre outros. Foi naquele ano que tive o prazer de participar pela primeira vez no Festival internacional de teatro de inverno-FITI. Além das produções e realizações dos eventos culturais na AEMO, em pouco tempo eu já me sentia também parte da família dos artistas da Associação dos escritores Moçambicanos-AEMO, sendo que todos os dias era lá onde me encontrava, mesmo sem ser membro oficial e muito menos  pagar quotas.

Os meus trabalhos na AEMO já eram frequentes, eu já não tinha um tempo razoável para usufruir das agradáveis leituras de lá. Naquela época, eu ainda não tinha muitos livros, por isso, respirei fundo e procurei ao menos um pingo de coragem nas profundezas dos meus interesses literários, podendo aproximar-me ao senhor Furdela pedir emprestado alguns livros na biblioteca da AEMO, e para o meu espanto, o senhor Furdela respondeu-me o seguinte:

– Venha amanhã puto.

Fiquei tão feliz, mas tão feliz que senti-me até com vontade de pular e lhe abraçar de tão agradecido que estive, mas não consegui fazer isso, simplesmente disse-lhe:

–Muito obrigado Sr. Furdela, virei amanhã.

O tempo passava, a confiança brotava, e as ofertas de livros já não mais eram raras para mim, de quando em vez, ajudava o Sr. Furdela em alguns trabalhos na Associação dos escritores Moçambicanos-AEMO, quando às vezes ele mesmo pedia-me para o fazer. Eu fazia tudo com muito gosto porque no fundo sabia que não era qualquer um que tinha a sorte de estar ali trabalhando lado a lado com o carismático e grande artista Aurélio Furdela, mesmo que não seja de forma oficial, eu estava ali com ele, e isso para mim já bastava. Hoje, aquele senhor que no início parecia meio desconhecido para mim, tornou-se fonte de inspiração. Eu já escrevia poemas, contos, crônicas, entre outros gêneros textuais, mas admito que para começar a escrever peças de teatro foi graças aos ensinamentos que através dele recebo, de forma voluntária ou talvez não, actualmente, uma parte da minha personalidade mudou porque respeito e admiro a maneira de ser e estar do colosso Aurélio Furdela. A humildade e compromisso com o trabalho residem no coração daquele senhor aparentemente desconhecido. Devido à isso, e muito mais do que aqui expus e não em entre linhas, a minha sincera opinião pessoal em letras garrafais subscreve-se: O ESCRITOR AURÉLIO FURDELA PARA ALÉM DE SER UM BOM CANDIDATO AO CARGO DE SECRETÁRIO-GERAL DA ASSOCIAÇÃO DOS ESCRITORES MOÇAMBICANOS-AEMO, O ILUSTRE SENHOR FURDELA É O MELHOR CANDIDATO AO DESENVOLVIMENTO ARTÍSTICO-CULTURAL EM MOÇAMBIQUE.

 

 

Junho, 2025

Maputo

 

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