Durante o período das manifestações, registaram-se 10 mortos e 63 feridos, vítimas de baleamentos. Os dados foram avançados, hoje, pela Ordem dos Médicos de Moçambique, que revelou, igualmente, que, na maioria dos casos, a polícia atirou para matar.
“Dados apurados indicam um aumento significativo de vítimas de ferimentos por armas de fogo que dão entrada nas unidades sanitárias. Do levantamento feito, não foram registados casos de feridos por armas de fogo entre 1 e 17 de Outubro do corrente ano, no entanto, no período compreendido entre 18 e 26 de Outubro, foram apurados 73 casos de baleamento, resultando em 10 óbitos”, revelou Gilberto Manhiça, bastonário da Ordem dos Médicos.
Em nome da Ordem dos Médicos, Manhiça disse que a situação “é de extrema gravidade e condenável”, mais ainda porque, na maioria dos baleamentos, sobretudo dos que resultaram em óbito, a intenção da polícia era atirar para matar.
“Em muitos casos, infelizmente, daquilo que é a avaliação médica inicial, não estou a falar da autópsia, pode-se dizer que havia uma intenção clara de ceifar a vida daqueles cidadãos. De acordo com os locais em que foram desferidas as lesões, é possível, claramente, ter uma ideia de qual era a intenção, se era de imobilizar ou de retirar a vida do cidadão e, infelizmente, na maioria dos 10 casos de óbito, havia, muito provavelmente, uma intenção clara de ceifar a vida desses cidadãos”, denunciou Napoleão Viola, presidente da Associação Médica de Moçambique.
Além do mais, a Ordem receia que o número de vítimas feridas por baleamentos seja ainda maior, uma vez que o sistema nacional de saúde tem limitações. “Temos uma lista a nível nacional, mas evidentemente não temos meios suficientes para identificar todos os dados, mas se essa amostra quer dizer que há muitos casos que nos saltam à vista e se é essa amostra isso é diz que a magnitude do problema é maior”.
De modo a evitar esse crescente número de baleamentos, a Ordem apela ao Governo e à polícia para serem mais ponderados na sua actuação, sobretudo durante as manifestações, devendo tomar em consideração que “o maior valor é a vida humana”.
“Pelos mais elevados valores de humanismo, empatia e dignidade humana, apelamos que a PP cumpra com o seu dever republicano de garantir a segurança, com particular enfoque para os manifestantes, pois a pessoa humana está em primeiro lugar”, disse o bastonário.
Aos manifestantes, o apelo foi para reivindicar de forma pacífica e ordeira o direito a manifestações. “Que os manifestantes usem de meios não violentos para manifestar a sua insatisfação”.
A Ordem aproveitou o momento para condenar o assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe e disse que os crimes “devem fazer-nos refletctir sobre que tipo de sociedade queremos ter”.
A Ordem dos Médicos garantiu que vai continuar pronta para responder aos casos de baleamento, e não só. Aliás, sobre a onda de violência gerada pela contestação dos resultados eleitorais, mostrou-se também à disposição dos partidos, caso a considerem um actor importante para o diálogo e a busca da paz.