O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que, embora a inflação esteja a reduzir de forma constante a nível mundial desde o fim da pandemia da COVID-19, os preços ainda não alcançaram o estágio de estabilidade.
No seu relatório referente ao ano de 2024, a instituição aponta que, após a pandemia, a economia mundial tem mostrado uma resiliência notável e a inflação tem caído de forma constante rumo às metas dos bancos centrais.
“Embora a maioria dos sinais aponte para um pouso suave no mundo todo, o crescimento e a inflação têm divergido mais entre os países. As reservas diminuíram”, pode-se ler no documento publicado pelo FMI.
Refere ainda o Relatório Anual do Fundo Monetário Internacional 2024 que as perspectivas de crescimento da economia mundial de médio prazo (período superior a um ano e inferior a cinco anos) são fracas.
Segundo a directora-geral do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, mais preocupante ainda é a perspectiva de crescimento da economia mundial de médio prazo, bem abaixo da média histórica de 3,8%.
“O facto de que os países vulneráveis correm o risco de ficar ainda mais para trás também preocupa”, conclui o relatório que sugere que a dinâmica variável da inflação exige abordagens específicas para cada país.
De acordo com as projecções do FMI, o crescimento mundial deve ser de 3,1% em 2029 — uma das menores previsões quinquenais em décadas. Segundo a análise, isso não é um bom sinal para a redução da pobreza.
Tal situação também não favorece a geração dos empregos necessários para as crescentes populações de jovens nas economias em desenvolvimento, como a moçambicana, e nos mercados emergentes.
Diante da perspectiva de desaceleração do crescimento económico mundial, o FMI explica que alguns países, sobretudo os de baixa renda, correm o risco de ficar para trás no tocante à convergência de renda.
Outro alerta do FMI, quatro anos após o surto da COVID-19, tem a ver com os défices fiscais e as dívidas que superam as projecções pré-pandemia e a previsão é que continuem mais altos no médio prazo.
“Sem medidas firmes, a dívida pública mundial deve ultrapassar 100% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2029”, considera o Fundo. Por isso, sugere que os países trabalhem para tornar-se resilientes a choques futuros.
No entender do Fundo Monetário Internacional, tal resiliência poderá possibilitar o investimento público necessário para gerir as transições climática e tecnológica.
“Para apoiar o crescimento de médio prazo, os países terão de combinar políticas adequadas para conter a inflação e posicionar as finanças públicas em uma trajectória sustentável”, avança o Fundo Monetário Internacional.
DESAFIOS DO ANO ELEITORAL
O relatório do FMI chama, ainda, atenção para o facto de que, em 2024, haverá eleições em mais da metade do mundo (medido tanto pela população quanto pelo Produto Interno Bruto), por isso alerta para os riscos.
“Os governos poderão ver-se tentados a adiar a consolidação fiscal, mas isso poderá obrigá-los a fazer um ajuste mais doloroso posteriormente”, refere o Fundo Monetário Internacional.
Os riscos para o refinanciamento da dívida continuam grandes para muitos países, alerta o FMI. Daí diz ser preciso manter a cooperação internacional para melhorar a arquitectura mundial de reestruturação das dívidas.
No caso das economias de mercados emergentes e em desenvolvimento, priorizar reformas na governança, regulamentação dos negócios e nas políticas para o sector externo poderia destravar ganhos de produtividade.
FUTURO DESCONHECIDO E INCERTO
O Fundo Monetário Internacional (FMI) conclui que o efeito das mudanças climáticas constitui uma fonte de incerteza e uma grande ameaça ao crescimento económico e à prosperidade dos países no longo prazo.
No seu relatório anual, o Fundo avança ainda que as ambições mundiais e as lacunas na implementação de políticas persistem. “A redução das emissões de gases de efeito estufa para manter o aumento da temperatura média mundial bem abaixo de 2°C (e, num cenário ideal, em 1,5°C), em relação aos níveis pré-industriais, exige acções urgentes”.
Outra incerteza decorre das previsões do crescimento mundial de médio prazo mais fraco em três décadas, resultante significativamente da desaceleração do crescimento da produtividade total dos factores.
“Esse quadro é agravado por uma queda generalizada da formação de capital privado após a crise e por um crescimento mais lento da população em idade activa nas principais economias”, conclui o relatório.
“A melhoria da alocação do capital e da mão-de-obra para empresas mais produtivas será essencial para reforçar o crescimento”, diz o relatório.
Quase três mil medidas de restrição comercial foram impostas em 2023, um número quase três vezes maior que o registado em 2019, faz saber o FMI.
“As restrições diminuem os ganhos de eficiência da especialização, limitam as economias de escala e reduzem a concorrência”, alerta o Fundo.