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Mais de 20 escolas sem água na cidade Maputo por dívidas

Mais de vinte escolas na Cidade de Maputo, entre primárias e secundárias, estão sem água por conta das dívidas. Por isso, algumas optaram por encerrar as casas de banho, as outras pedem contribuição dos pais e encarregados de educação e há, ainda, casos em que os directores trazem água das suas próprias casas para abastecerem as instituições que dirigem.

Da torneira, nem uma gota de água sequer. Os contadores estão selados. Houve corte de água por causa de dívidas em mais de 20 escolas, entre primárias e secundárias, na Cidade de Maputo.

E por trás das dívidas, o drama e o desabafo dos alunos, que passam boa parte do seu dia numa escola sem água. “A escola não tem água. Estamos há meses sem saber o que é beber água da escola. Temos que trazer água de casa para escola”, desabafou o aluno de uma das escolas sem água.

Engana-se quem pensa que o problema é recente. “Eu acho que já passaram três meses que não temos água. Trancam as casas de banho, além de que cheiram mal porque não lavam”, detalhou outra aluna, na condição de anonimato.

Porque não tem água nas escolas, algumas decidiram encerrar as casas de banho e os alunos viram-se como podem.

“Água para beber temos que comprar ou trazer de casa. Também fecharam as casas de banho e quem necessita de fazer algo, tipo número um e dois, tem de ir atrás da casa de banho”, contou uma aluna.

E para quem não vai atrás da casa de banho, sujeita-se a pagar dinheiro para a satisfação das suas necessidades fisiológicas.

“Para fazer necessidades, pagamos dinheiro nas casas de banho da vizinhança da escola. Os valores variam entre cinco e vinte Meticais”, revelou uma aluna.

Na Escola Secundária Armando Emílio Guebuza, são as casas de banho das residências, que estão no recinto da escola, que têm socorrido os alunos e os professores.

Para contornar a situação da falta de água nas escolas, alguns directores orientam os pais e encarregados de educação a contribuírem com o que podem. Por isso, logo que o dia nasce, é comum ver pais e encarregados de educação com garrafas de água para doar à escola.

“A escola não tem água. Ela (a água) foi cortada. Por essa razão, os responsáveis da escola marcaram uma reunião com os encarregados para explicar que cada aluno deveria trazer cinco litros de água para poder ajudar nas casas de banho e as crianças tinham que levar a água no bebedouro todos os dias. É essa situação crítica que acontece, mas o que fazer”, lamentou Albertina Amadeu, encarregada de educação, num tom revoltado.

Eles até cumprem com o pedido da escola, mas aguardam por alguma orientação por parte da escola para evitar o constrangimento de trazer água de casa.

“Tenho dado água mesmo. A pessoa que tem acompanhado a minha filha leva 20 litros de água para ajudar a escola, mas estamos à espera que se marque uma reunião para poderem nos informar sobre as contribuições com vista a liquidar a dívida da instituição. Porque isto não está a dar”, desabafou Anifa Azevedo, encarregada de educação.

Os pais e encarregados de educação temem, também, pela saúde dos seus educandos.

Como alguns alunos e encarregados de educação não aceitam se submeter a tal prática, os directores das escolas é que devem buscar uma solução para a falta de água.
Numa das escolas da capital do país, o director é quem transporta água da sua própria casa para a escola que dirige. Isto é feito com recurso a bidões, logo nas primeiras horas. Porque a viatura é ligeira, ele é obrigado a ir e vir duas vezes.

Noutras escolas, a água vem das instituições vizinhas para socorrer os alunos e professores. E mais: há casos em que os encarregados estão a contribuir dinheiro para ajudar a escola a pagar a dívida. Isto acontece na Escola Primária 16 de Junho.

A dívida global das escolas das escolas em causa passa de 700 mil Meticais. Sem gravar entrevista, a Empresa Águas da Região de Maputo confirma a suspensão do fornecimento do precioso líquido às instituições de ensino, e fala de incumprimento dos termos de contrato por parte do sector da educação.

A Direcção da Educação a nível da Cidade de Maputo orientou as escolas a não concederem entrevista à imprensa, mas, com exclusividade, tivemos acesso ao valor que algumas escolas devem à Empresa Águas da Região de Maputo.

Por exemplo, a Escola Secundária Armando Emílio Guebuza tem uma dívida de mais de 300 mil Meticais. A instituição deve este valor há mais de seis meses e o corte de água afecta perto de três mil alunos.

Já a dívida da Escola Secundária Eduardo Mondlane Xitlango passa de um pouco mais de 200 mil Meticais, sem contar com a recarga de energia, cujo dinheiro sai do bolso do director da instituição desde Outubro do ano passado.

A Escola Primária Unidade 10 deve à Empresa Águas das Região de Maputo exactos 133.091,4 Meticais, com a corte de água a afectar quatro mil alunos; Escola Primária Unidade 18 tem a dívida de 101.017,38 Meticais; A Escola Primária 03 de Fevereiro está sem água da rede pública por conta de uma dívida de 20 mil Meticais; A Escola Primária de Lhanguene está sem água há quase dois meses não conseguir pagar mais de 27 mil Meticais de dívida e Escola Primária Unidade 13 tem mais de 70 mil Meticais de facturas de água não pagas, além de que, está sem energia passam já três meses.

Sem gravar entrevista, as direcções das escolas revelaram que esta situação é do conhecimento da Direcção de Educação na Cidade de Maputo, pois já fizeram chegar àquela instituição todas as facturas.

A professora catedrática e investigadora na área da educação, Hildizina Dias, afirma que é inaceitável haver crise de água nas escolas. “É difícil. Se me perguntar se é possível lidar, é o que estamos a fazer, mas é muito difícil. Eu acho que é daquelas coisas inaceitáveis, desumanas. Eu iria mais para a área de humanismo porque nós educadores temos que pensar no outro. Na satisfação das necessidades de outros”, opinou Hildizina Dias, Professora Catedrática e Investigadora, num tom carregado de revolta.

E a preocupação pelo outro ganha mais sentido quando se fala de meninas. “Todos precisamos de ter uma higiene boa, mas a menina precisa muito mais porque tem o período menstrual em que é fundamental ter uma casa de banho para se trocar. Ficando todo o período de aulas, ela necessita, mesmo, de ir à casa de banho. Se nós pensarmos nas escolas primárias e secundárias, nós temos meninas pequenas que estão mesmo no período da puberdade, no qual a higiene íntima é fundamental”, explicou a Professora Catedrática e Investigadora.

A falta de água nas escolas é, segundo a investigadora, o cúmulo dos problemas do sector da educação.

“É uma coisa que nem deveríamos estar a falar. É daquelas coisas que qualquer educador fica indignado. Não só triste, mas cria-nos uma indignação de o que se está a passar? Não é possível resolver o problema da água. Se são as escolas que não conseguem pagar ao FIPAG, talvez uma negociação com a empresa possa resolver. Não vou dizer para não pagarem a empresa ou não cortarem a água nas escolas, mas é a nossa vontade dizer assim: cortem tudo, mas não cortem a água”, referiu Hildizina Dias.
É que o corte de água afecta, também, o desempenho escolar dos alunos.

“Se o aluno está ali com sede, não tem água para beber, se está numa escola sem o mínimo de saneamento, a saúde também está em risco. Tudo isto afecta o desempenho escolar. A mesma coisa acontece com o professor. Dar uma aula sem ter um copo de água, sem sair da sala de aulas para beber um pouco de água, sem poder ir à casa de banho. Quer dizer, chega uma fase em que a pessoa já não está atenta à matéria. A pessoa começa a ficar atenta ao seu corpo”, rematou.

A Empresa Águas da Região de Maputo sublinha que a suspensão no fornecimento do precioso líquido às escolas é um dos mecanismos de cobrança de dívida junto das instituições.

 

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