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Novo romance de Adelino Timóteo publicado no Brasil

Uma vez mais, Adelino Timóteo volta a publicar um título pela editora Kapulana do Brasil. Depois de Na aldeia dos crocodilos, ano passado, livro infanto-juvenil considerado altamente recomendável naquele país, o autor volta à carga com Cemitério dos pássaros, lançado esta semana.

Escrito num tom hilariante, o oitavo romance do escritor retrata a história de um personagem incrível, Dazanana de Araújo Simplíssimo, que, não se revendo mais no mundo dos homens, resolve construir um cemitério no qual, depois de morrer, ele transformar-se-ia em pássaro.

O que move o protagonista de Adelino Timóteo nesta nova narrativa é mesmo a ideia de continuar a existir numa outra dimensão, livre dos embaraços que limitam os desejos dos mais ousados. Por isso, enquanto constrói o maior projecto da sua vida, Dazanana Simplíssimo contrata um coveiro, Pita Kufa, de modo que, ao chegar o seu derradeiro momento o seu sonho seja consumado.

Simultaneamente, Cemitério dos pássaros é um romance leve, que mescla histórias verosímeis do Vale do Zambeze com peripécias tipicamente ligadas ao ambiente doméstico e/ou conjugal. Portanto, nesta ficção Timóteo ficciona realidades incríveis, explorando e muito a vaidade humana.

Nesta edição inédita da Kapulana, Cemitério dos pássaros tem 113 páginas e integra a colecção “Vozes de África”, que surgiu do interesse de a editora divulgar as literaturas africanas no Brasil. Assim, a fundadora da Kapulana, Rosana Weg, que deu aulas cá no país, passou a coordenar, há quatro anos, a publicação de livros deste continente. A colecção é composta por obras de ficção em prosa e poesia, dedicadas às crianças e aos adultos, tendo sidos publicados livros de autores como Luís Bernardo Honwana, Luís Carlos Patraquim, Ungulani Ba Ka Khosa, Sónia Sultuane, Aldino Muianga, Sangare Okapi, Clemente Bata, Lucílio Manjate e Pepetela, de Angola.

Eis uma das passagens de Cemitério dos pássaros, ainda por publicar em Moçambique: “A vida de rico torna-se tediosa quando não há invenção que supere a imaginação. Assim pensam os demais, enquanto o genial construtor dava corpo à ideia. Parecia mais uma questão autobiográfica do que de foro psíquico. Levara anos a fazer tudo em silêncio. De um lugar incógnito ao cemitério levava imensa palha, ninhos, penas e dejetos de mandarins, canários, verdelhões, pardais e pintassilgos. E, no fim, lá estava o Dazanana. Olhar inteligente. Velho. Cara amarrada. Ar de poucos amigos. Caquético e cadavérico. A cair aos bocados, nunca tinha sido introvertido. Tinha enterrado todos os parentes. Nenhum sobrara. Escolhera para si uma sepultura. Para lá estar alguém teria que lhe fazer o funeral” (p. 10).

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