A Feira do Livro de Leipzig deste ano, a realizar-se de 21 a 24 deste mês, terá dois autores moçambicanos, Mbate Pedro e Lucílio Manjate, os quais viajam para Alemanha interessados em conquistar novos leitores num mercado excitante como é o daquela região da europa. Os dois artistas estreiam-se na presente edição de Leipzig no dia 21, e, juntos, farão parte de um debate subordinado ao tema “Geracao XXI – Literatura de Moçambique hoje”, com o tradutor alemão Michael Kegler, no Pavilhão 4, no stand português, na verdade, a convite da Embaixada de Portugal na Alemanha. Naquele stand, estarão disponíveis mais de 300 títulos literários, em edições portuguesa, alemã e moçambicana.
Ainda na tarde do dia 21, Mbate Pedro fará parte da “Conversa com editores do universo de língua portuguesa e alemã”, em que com os seus colegas de painel, Zeferino Coelho (Portugal), Stefan Weidle (Alemanha), Lucien Leitess (Suíça), com moderação de Markus Sahr, vai procurar responder à pergunta: “O que distingue o trabalho dos editores? Exemplos de Portugal, da Alemanha, Suíça, e Moçambique”.
No dia seguinte, 22, Lucílio Manjate volta à carga para intervir no painel “Uma África de Língua Portuguesa?”. O painel inclui José Eduardo Agualusa (Angola) e Zeferino Coelho (Portugal), com moderação de Michael Kegler, que também fará leituras de excertos dos livros A Triste História de Barcolino e Vácuos, da autoria de Lucílio Manjate e Mbate, Pedro, respectivamente, e Margrit Klingler-Clavijo.
A representar a língua portuguesa na Feira do Livro de Leipzig, estarão, igualmente, autores de Portugal (país convidado de honra da Feira do Livro de Leipzig na edição do próximo ano), como João Luís Barreto Guimarães, Afonso Cruz, Ana Margarida de Carvalho e Joana Bértholo.
Com efeito, a participação dos autores moçambicanos na Feira de Leipzig deste mês resulta da parceria entre a Embaixada de Portugal na Alemanha, o Camões – Centro Cultural Português em Berlim e a editora Cavalo do Mar, que, recentemente, teve dois autores a partilhar o prémio BCI de literatura para melhor livro do ano passado: Armando Artur e Álvaro Taruma.
Nesta edição da Feira do Livro de Leipzig, Mbate Pedro pretende concretizar o interesse de fazer com que a sua poesia ascenda a outros tipos de leitores, além da língua portuguesa. “Estou à procura de editores alemães para autores moçambicanos, de pequenas editoras no princípio, porque sei que estas estão interessadas em conhecer bons escritores e poetas africanos sem aquele estereótipo de que o escritor africano tem que escrever exótico para ser reconhecido”, afirmou o editor da Cavalo do Mar, revelando de seguida que na Alemanha será publicada uma antologia de poesia e prosa de autores moçambicanos, traduzida por Michael Kegler, que já traduziu autores como Agualusa, Paulina Chiziane e Luiz Ruffato para alemão.
Segundo entende Mbate Pedro, a Alemanha é o maior mercado de tradução. Assim, uma vez lá, Moçambique ganha visibilidade numa grande montra do mundo, com sistema literário que funciona muitíssimo bem. Entretanto, essa visibilidade só se pode consolidar se, para o poeta e editor, os autores moçambicanos participarem regularmente nos festivais literários, com alternância. “Não devem ser os mesmos autores a representar o país nos festivais. E há que investirmos cada vez mais em encontros realizados em África”.
Entre os 16 ou 17 títulos que a Cavalo do Mar leva a Leipzig, portanto, consta A triste história de Barcolino, de Lucílio Manjate. Para este escritor, estar numa das feiras mais concorridas da Alemanha e da Europa é precioso para apresentar o seu trabalho. “Há uma produção da nossa literatura que precisa ser mostrada ao mundo. E, neste caso, temos dois lados da criação moçambicana que estão representados na feira. Mbate e eu estamos com alguma propriedade que nos pode permitir criar condições para que os outros escritores moçambicanos possam ter este tipo de oportunidade. Mbate está a editar autores com 30 anos de carreira e os que estão ainda a começar. Tem conhecimento e legitimidade. Do meu lado, estou a desenvolver trabalhos que me dão segurança de falar do que está a ser produzido por diferentes gerações”. Por isso, acredita Lucílio Manjate, ele e Mbate Pedro têm argumentos para convencer o mundo, ao referirem-se ao que está sendo produzido em Moçambique.
Finalizando, ambos os autores destacam que feiras do livro são eventos cruciais para os artistas porque coloca-os em contacto com outros interesses editoriais. Além disso, acrescentam que já é altura de os poetas e escritores moçambicanos pararem de se preocupar apenas com o espaço nacional. “Precisamos de ganhar asas. Os nossos editores devem sempre encontrar mecanismo para colocar autores nas rotas dos festivais internacionais. Temos autores que já não cabem nas nossas fronteiras nacionais. Temos que existir fora. Os mecenas e as empresas devem juntar-se aos programas literários, subsidiando autores. Só quem produz sabe o quão importante é estar com Agualusa e trocar sensibilidades. Actualiza-nos no ponto de vista de produção para sabermos o que está ser produzido fora. O autor não vive só do seu quintal”, lembrou Lucílio Manjate.