Dest Arte é o nome do musical concebido e dirigido pelo músico Zé Pires, que eternizou a trajectória da justiça em Moçambique até aos 30 anos da Ordem dos Advogados.
A cerimónia decorreu no Centro Cultural Moçambique-China, no passado dia 19 de Setembro. A cerimónia, que esteve concorrida desde o inicio, registou um número ímpar de advogados e estágiários que se fizeram presentes em traje de gala, conforme requeria o seu protocolo.
Logo à entrada do Centro Cultural, perfilavam, no local, ternos e gravatas, e vestidos exuberantes que incitavam à vaidade feminina ao evento.
A sala era espaçosa e, logo de início, deram-se boas-vindas ao Bastonário da Ordem dos Advogados, Dr. Carlos Martins, que, de seguida, deixou ficar o seu discurso, onde exaltou o exercício de advogacia em Moçambique, citou as dificuldades que o País teve e tem para ter um sistema de justiça compatível com a demanda. E, por fim, sublinhou que o dever número um dos advogados é efectivamente trazer justiça ao povo, acima de quaisquer interesses monetários.
De seguida, iniciou o musical de Zé Pires com um misto de musica clássica e contemporanêa, milimetricamente coreografada por bailarinos jovens, que passaram a sua classe ao evento. Minutos depois, foi a vez de entrarem em cena algumas das principais atracções do evento, tratava-se dos actores: Mário Mabjaia, Isabel Jorge, Horácio Guiamba e Dénio Pelembe.
Estes experientes actores tinham a missão de retratar a história da justiça em Moçambique, desde o período pós-colonial até aos 30 anos da Ordem dos Advogados, com recurso à encenação. Na encenação, o grupo de actores era uma família em que Mário Mabjaia era Pai, Isabel Jorge e Horácio Guiamba Filhos, e Daniel Pelembe o neto, em diferentes momentos do musical a família se debruçava sobre o estado da justiça em Moçambique.
Uma das figuras imortalizadas no primeiro momento da encenação foi o senhor Domingos António Mascarenhas Arouca. Domingos Arouca concluiu a Faculdade de Direito na Universidade de Lisboa, em 1960, tornando-se, assim, no primeiro advogado negro em Moçambique. Em 1965, foi eleito Presidente do Centro Associativo dos Negros em Moçambique.
Teve a oportunidade de exercer a advogacia, no período monopartidário, mas recusou-se por discordar com algumas práticas sociais. Foi crítico ao modelo de governação autoritário da época, devido ao desrespeito dos direitos humanos. Mas voltando ao show…
Onésia Muholove deu o pontapé de saída ao reluzir a sua jovem e bela voz, interpretando temas relacionados à ocasião, como Mbava Juiz, de Lourena Nhate, que abrilhantou o show não só com o seu canto, mas também com o seu figurino misterioso. Para quem duvidava da grandeza e alegria da música moçambicana, ficou boquiaberto, e com algum cuidado não deixou nenhum insecto entrar. A música moçambicana esteve em destaque total, o elenco era assombroso: Zé Pires comandante do teclado, a orquestra juvenil melodiava os saxofones, Ebenezer Sengo na artilharia solo da guitarra, e Luís Gonzaga na infantaria da guitarra baixo.
O som era potente, e os instrumentos namoravam as notas musicais entre si produzindo um som bombástico e refinado.
No palco fez-se presente mais uma atracção do evento, a cantora Juliana de Sousa, que interpretou Didácia com o tema “Ndhaneta”, enchendo a sala de alegria e nostalgia, o público vibrou e maravilhou-se da sua música.
No Palco os actores estrategicamente assaltavam algo raro à classe dos advogados: Os seus sorrisos encarceirados no exercício de suas profissões. Nesta etapa, a família de actores debruçou-se sobre o período pós-independência, em que Moçambique possuia tribunais comunitários, tendo evoluido depois para SNJ (Serviço Nacional de Apoio Jurídico) até ao momento em que efectivamente criou-se a constituição, em 1990, para garantir os direitos e as liberdades fundamentais do Homem.
Após uma dose de suspense, o musical ganhou um contorno transcendente e metafísico. Era ela, a cantora das vestes angelicais quem segurava o microfone, as vestes eram angelicais porque em seu corpo a faziam parecer um anjo. Os executores então deixaram o depoimento dos instrumentos ressoar e eclodir, como se a música estivesse a ser inventada pela primeira vez.
E já não era apenas música moçambicana, já não era Jazz, Onésia ergueu o seu canto a um tom celestial, os rapazes da orquestra a acompanhavam com coros magistrais, como se do céu projectassem a sua voz, a sensação era de estar diante do criador em suprema paz.
Mais uma surpresa surgiu no evento, o carismático Salimo Mohamed entrou em palco, sim, era ele, era Salimo, sim, encarnado no corpo e voz de Pauleta Muholove. Trazia o seu chapéu característico, o seu estilo meio aéreo, e a sua voz bass motora. Foi com o tema “Gungula Nyautomi”, que choveram nostalgias do tio Salimo no público. Pauleta arrepiou o público, com a exploração do palco, voz e movimentos à moda Salimo. A ausência de luzes no público não denunciou quem se marejou. Salimo foi homenageado e lembrado com carinho e estima.
De seguida, entrou em palco Ivânia, ou simplesmente Dama do Bling, com o tema “Desabafo do recluso”, ao seu estilo característico rimou, acompanhada por um elenco especial: As reclusas trajadas a rigor, a fazer os backing vocals da música. Este tema serve como um auto exame de consciência e socialização do recluso, o público foi surpreendido de emoção e acarinhou a vibrante actuação que a Dama do Bling levou à noite da Ordem dos Advogados.
O elenco de actores destacou o papel do IPAJ na facilitação do acesso jurídico a pessoas arentes, e a criação da ordem dos advogados para intervir em caso de irregularidades e ilícitos eleitorais.
Foram lembradas e homenageadas várias figuras que contribuiram para a história da Ordem, da democracia e do Conselho Constitucional como Rui Baltazar, Carlos Alberto, Gilberto Correia,Tomás Timbane, Alice Mabota, Albano Silva, Maximo Dias e vários outros.
Yolanda Kakana, com o tema “Mufolhe”, encerrou a cerimónia com chave de ouro.