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O resgate da indignação

Estamos todos, literalmente todos, nós os não empresários, levianamente impávidos perante o tétrico fenómeno dos raptos. Apenas lamentamos e, inacreditavelmente, também os que têm poder de pôr um ponto final a toda essa brutalidade também se lamentam. Inacreditável!

Não quero aqui levantar as mesmas velhas perguntas, tais como: quem são os sequestradores, que na baila da luz do dia fazem e desfazem? Nem mesmo questionar quem lucra com a indústria do sequestro; e, muito menos, querer saber onde está a polícia quando estes distribuidores do medo talham a lufada de ar fresco que restou da nossa tranquilidade. Não!

Quero apenas chamar atenção a nós os outros, nós os não empresários, o cidadão comum, sim, tu mesmo, funcionário público, tu professor, tu médico, tu enfermeiro, tu marceneiro, tu carpinteiro, tu que vives nos constantes apertos diários, com dívida bancária cuja letra anda há muito atrasada, sim, assim como o salário, tu a tentar construir uma humilde casa já há anos, tu pacato cidadão, jornalista, nhoguista do povo, mergulhado desde a matina na labuta do metical.

Sim, tu que somos todos nós: eu e tu, eu o povo, como em outros tempos dizia Mutimati Bernabé João; nós que achamos que os sequestros são coisa de gente rica, de empresários, de monhés, dos endinheirados. O que todos nós achamos disso tudo?

Não achamos que, quando os empresários, os monhés, os endinheirados estarem debelados, os sequestradores vão chegar a nós? Já imaginaste… receber uma chamada de uma quadrilha a exigir uns trinta e tal mil para soltar teu filho que foi levado a caminho da escola?

Já imaginaste tua futura aflição, tu ensopado de suor, com os poros libertos, a ligar para os “bradas” a pedir emprestado dez mil para resgatar o “puto?” Ou então, a recorrer a um agiota para levar uns vinte paus para recuperar a esposa? Vamos lá imaginar todos nós! Todos precisamos de fazer algo. A polícia já mostrou que não tem solução, ou por outras, não faz parte da solução, e de que parte faz, isso eu também não sei! Apenas sei que precisamos de resgatar a nossa colectiva indignação!

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