O País – A verdade como notícia

Número de casos de tuberculose na Zambézia subiu de 17 para 18 mil este ano

Foto: O País

A província da Zambézia registou, nos primeiros nove meses deste ano, um incremento na ordem de mil casos de tuberculose, quando comparado com o igual período do ano passado, em que os casos chegaram a 17 mil. O jornal O País traz história de pacientes que conseguiram dar a volta à situação, tomando regularmente a medicação e hoje estão livres da doença.

Nos primeiros nove meses deste ano, a província da Zambézia registou pouco mais de 18 mil casos de tuberculose, contra 17 mil do ano passado. A subida este ano de casos, de acordo com as autoridades de saúde, surge devido ao incremento da capacidade de diagnóstico nas diversas unidades sanitárias da província.

Virgílio Lalue, responsável-adjunto do Programa Nacional de Controlo de Tuberculose, explicou que a subida dos casos “se deve ao reforço na capacidade de diagnóstico. Ou seja, a província reforçou com os aparelhos de raio X para diagnóstico da doença em 20 distritos, faltando apenas dois. Paralelamente a isso, a ajuda de activistas também reforçou o contacto com pacientes e levá-los para o tratamento nas unidades sanitárias. Estas acções todas ajudaram a identificar casos da tuberculose”.

O nosso jornal chegou à localidade de Pinda, a 30 quilómetros do distrito de Morrumbala, para apurar casos de sucesso no tratamento da doença. Começámos com Cristovão Castigo, casado e pai de um filho. Explicou que contraiu a tuberculose no ano passado. Na altura, conta que foi duramente estigmatizado pela família, “a minha esposa chegou a desprezar-me e afastar-se de mim com medo de contaminação da doença, foi uma situação que constrangeu a minha vida, deixando-me isolado de tudo e todos”, disse Cristóvão Castigo, para quem, com ajuda de grupo de activistas da organização ADPP, através do projecto “One Impact”, conseguiu avançar para a toma regular da medicação sem interrupção e assim conseguir a cura da doença.

Castigo contou ainda que muitos conhecidos seus  morreram em Pinda, vítima da tuberculose, por não tomarem regularmente a medicação para combater a doença. “Eu tenho motivo para me orgulhar e entristecer. Primeiro porque acredito que consegui vencer a tuberculose e a segunda porque vi muitas pessoas morrer pela doença por abandonarem a toma regular do medicamento.”

Hortência Francisca, nome fictício, é outra paciente que reside, igualmente, na localidade de Pinda, distrito de Morrumbala. Tem HIV e testou positivo para tuberculose. Quando a nossa reportagem chegou a Pinda, acompanhou a sua caminhada até à unidade sanitária, onde foi recebida pelo técnico para avaliação do seu estado, visto que já cumpriu a toma regular dos medicamentos de tuberculose e hoje está livre.

Ela contou que o diagnóstico de tuberculose a levou a ter alguns problemas com a família, sobretudo o seu esposo, na aceitação da doença. “O que me agradou é que, depois de longos dias de conversa, o meu esposo aceitou a minha doença e comecei a tomar os medicamentos de forma regular. Hoje, estou livre de tuberculose, embora tenha que continuar a lutar contra o HIV. Sinto-me bem e quero aproveitar para apelar a todos os que residem em Pinda, e não só, para que, se tiverem a tuberculose, tomem devidamente a medicação”, apelou.

A organização ADPP introduziu, em cinco dos 22 distritos da Zambézia, nomeadamente Morrumbala, Quelimane, Namacurra, Mocuba e Milange, o projecto “One Impact”, que visa dar voz aos seus pacientes, no sentido de reportarem as barreiras que enfrentam ao longo do tratamento.

Pires Paulino, responsável da organização ADPP na Zambézia, fez saber que “One Impact” confere dignidade aos pacientes, na medida em que permite, através de um aplicativo, localizá-los e compreender o seu seguimento na toma de medicamentos. Em caso de alguma dificuldade, não só no acesso à medicação, toma e alguma situação que inquiete o paciente, este pode entrar em contacto e colocar a inquietação e assim não pára com a toma de medicamentos”.

Em Pinda, a taxa de positividade é de 66%. Chadul Ribeiro, director do Centro de Saúde de Pinda, explicou que “temos tuberculose sensível cujo tratamento é de seis mês e esta mesma tuberculose tem uma positividade alta, isto quer dizer temos muitos pacientes que estão a acusar positivo depois de fazer o rastreio, o resultado vem positivo para a tuberculose sensível”.

Aliás, as autoridades de saúde têm um grande desafio em relação aos contactos, ou seja, os doentes da tuberculose saem das suas famílias e as possibilidades de contaminar os outros é maior, porquanto eles (os doentes) aspiram, usam utensílios que, na sequência, devem ser exclusivos a si. Esta é a grande preocupação do momento e que deve ser corrigida.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos